Vivemos
intensamente este trabalho, que para nós representa uma mistura de
técnica, afeto e política.
Nosso objetivo
era incentivar o fortalecimento de mulheres e sua organização em grupos
(de tal forma a contribuir para a eqüidade entre os gêneros, auto-estima
e exercício de direitos sexuais e reprodutivos), apesar de todas as
adversidades financeiras, geográficas, culturais, físicas e sociais
para a realização deste tipo de trabalho.
Neste capítulo
pensamos em fechar o livro, atendendo a alguns pedidos de companheiras
que nos procuram solicitando “dicas”, diretrizes para o trabalho.
Elencamos
assim alguns indicadores (frutos de nossa experiência e leituras)
para o trabalho de apoio e prevenção junto a mulheres.
Para muitas,
estes indicadores são bastante conhecidos, para outras, talvez a sistematização
seja uma novidade e contribua para a reflexão.
Indicadores
para o trabalho com mulheres
Para o desenvolvimento
do trabalho é necessário:
•
A elaboração de um projeto de trabalho e a busca de recursos materiais
e humanos1; • Objetivos claros; • Um planejamento; • Preparar material com antecedência;
• Registros (do planejamento e
da execução da atividade); • Avaliação no decorrer e ao final
do processo.
Sugerimos:
•
Persistência na manutenção do grupo, mesmo com a rotatividade dos
participantes; • Continuidade do processo; • Sempre que possível, o aprofundamento
dos temas; • Início de um trabalho independentemente
da existência de um “local ideal”; • Expansão geográfica do trabalho;
• Articulação com diferentes setores
e instituições (ONG, Fórum de ONG, instituições de saúde, educação,
comunitárias, partidos políticos etc.); • Estabelecimento de trabalhos
em parceria; • Socialização da experiência
(documentação compartilhada por meio de congressos, publicações, boletins,
vídeos, mostras etc.); • Busca constante de formação;
• Investimento em leitura; • Inclusão de uma proposta de
trabalho com homens.
Temas importantes:
•
Relações de gênero; • Sexualidade (incluindo diferentes
orientações sexuais, prazer etc.); • Saúde sexual e reprodutiva (incluindo
aborto, maternidade, exercício da sexualidade etc.); • Corpo; • Aids; • DST; • Etnia; • Idade; • Aspectos socieconômicos da vida
das mulheres; • Cotidiano; • Auto-estima; • Organização das mulheres em
grupos; • Cidadania; • Diversidade; • Preconceito; • Qualidade de vida; • Exclusão social; • Medo; • Morte; • Violência.
É importante
que a coordenação:
•
Fique atenta a todos os indicadores anteriores; • Lembre-se que é um modelo para
as mulheres participantes; • Não se sinta superior porque
está coordenando o grupo; • Observe o processo de cada mulher
(“o lugar que ela ocupa no grupo e na vida”); •
Preste atenção à dinâmica do grupo; • Invista em sua formação: leituras,
cursos congressos, participação em grupos etc; • Seja capaz de se identificar
com a necessidade das mulheres, sem no entanto “confundir-se” com
as mulheres do grupo (isto é particularmente difícil quando a pessoa
que coordena está na mesma situação que as mulheres do grupo. Por
exemplo: uma mulher com aids coordenando o grupo de mulheres aidéticas,
ela é igual, mas também é diferente. É importante que assuma o papel
de coordenadora); • Faça constante auto-avaliação;
• Reconheça que suas expectativas
e necessidades não necessariamente são as mesmas do grupo; • Tenha uma perspectiva democrática
na coordenação do grupo; • Trabalhe para que o grupo não
dependa do coordenador, e que a atividade possa continuar, independente
de sua presença. Em outras palavras, contribua para a autonomia do
grupo; • Invista em lideranças dentro
do grupo; • Continue sonhando e traduzindo
seu sonho em uma realidade compartilhada no grupo.
1
- Muitas ONG só pensam em realizar projetos quando existem financiamentos,
mas eles podem ser realizados independente de financiamento. Recursos
materiais e humanos capacitados geralmente são escassos nestas instituições
e não podemos desistir do trabalho em função desta falta. Uma alternativa
é a busca de parcerias técnicas.
Eis
o fim
Chegamos
ao fim do nosso registro...
Uma experiência para nós intensa e profundamente significativa, que
muitas vezes frustou nosso desejo e da qual não temos a noção exata
da extensão.
Fizemos
uma intervenção na história destas mulheres, dizendo: Ei! Você pode,
merece e tem capacidade de tecer a própria vida! Será que oferecemos
um fio mais resistente? Um novo tear? A sugestão para experimentar
uma nova cor? A contribuição para mudar as nuances do desenho? Será
que encontramos a melhor maneira de dizer? Será que elas puderam nos
ouvir? Ouvindo, vão conseguir fortalecer-se?
Muitas perguntas,
algumas possibilidades como respostas... Uma certeza: para elas (e
para nós, também) é importante continuar dizendo...
Tenho
certeza, se isto (o grupo) continuasse por muitos e muitos tempos,
as mulheres iam sentir o prazer de viver, prazer de se relacionar,
prazer de descobrir o que é o sexo, descobrir o que é viver, como
a vida é importante (...).