BOLETIM
VACINAS
ANTI HIV/AIDS - NÚMERO 34
PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - Junho - 2021

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I=I
Maioria de participantes permanece indetectável
Estudo italiano de 10 anos mostra que pessoas com HIV permanecem indetectáveis 97% do tempo
Michael Carter • aidsmap • 5 de março de 2021
I=I - Indetectável é igual a Intransmissível (Supressão Viral do HIV)
Foto: Domizia Salusest | www.domiziasalusest.com

RESUMO

O monitoramento de longo prazo de pessoas com HIV com carga viral indetectável mostrou que a supressão viral raramente é perdida, reforçando a validade da mensagem “I = I” (Indetectável é igual a Intransmissível), de acordo com uma pesquisa italiana publicada na edição online da revista científica AIDS. O estudo envolveu mais de 8.000 indivíduos HIV-positivos em terapia antirretroviral (TAR) e com supressão viral (carga viral abaixo de 200) no início do estudo. O monitoramento regular da carga viral (pelo menos duas vezes por ano na maioria) mostrou que ela permaneceu suprimida 97% do tempo.

No entanto, alguns grupos, incluindo mulheres, pessoas que injetam drogas e aqueles com histórico de TAR com dificuldade de controlar a replicação viral, passaram mais tempo com carga viral acima de 200. Os pesquisadores sugerem que pessoas com essas características podem precisar de mais suporte para manter o vírus suprimido.

“Descobrimos que em nossa população de pessoas com HIV o status ‘I’ foi mantido, em média, por 97% dos dez anos seguintes de observação e a proporção de [tempo] gasto no status ‘I’ mostrou uma tendência de aumento nos anos mais recentes”, escrevem os autores. “Esses dados sugerem de forma tranquilizadora que I = I é uma mensagem apropriada para se comunicar para ajudar a diminuir o estigma e aumentar a motivação para permanecer com o vírus suprimido.”

O GIV endossa a Declaração Indetectável = Intransmissível

INTRODUÇÃO

Existem agora evidências esmagadoras de que as pessoas com HIV que estão tomando TAR e têm uma carga viral abaixo de 200 não podem transmitir o vírus a seus parceiros sexuais. Desde 2016, o slogan I = I tem sido usado para comunicar essas informações a pessoas com HIV, seus parceiros e pessoas potencialmente em risco de contrair o vírus. Aproximadamente 750 comunidades e organizações de prevenção do HIV endossaram o princípio de I = I.

No entanto, algumas pessoas têm dúvidas sobre se as pessoas em cuidados clínicos de rotina mantêm consistentemente a supressão viral abaixo de 200 – o limite usado nos estudos PARTNER que mostraram que não houve transmissões quando a carga viral estava abaixo desse nível.

Diante disso, uma equipe de pesquisa liderada pelo professor Giorano Madeddu, da Universidade de Sassari, analisou dados sobre a supressão viral entre indivíduos tratados com ARV no estudo de coorte ICONA, em andamento. Indivíduos HIV-positivos em uso de TAR e com carga viral abaixo de 200 por pelo menos seis meses foram incluídos na análise. O período de estudo foi de 2010 a 2019.

OBJETIVOS E MÉTODO

I=I - Indetectável é igual a Intransmissível (Supressão Viral do HIV)
Foto: Domizia Salusest | www.domiziasalusest.com

O objetivo principal do estudo foi determinar a proporção de tempo (pessoa-dia de acompanhamento) que as pessoas mantiveram a supressão viral. Isso foi determinado pela análise dos resultados de testes consecutivos de carga viral: o intervalo de tempo entre dois testes de carga viral consecutivos abaixo de 200 foi categorizado como um período de supressão viral, enquanto o tempo entre duas medições consecutivas acima de 200 foi considerado um período de rebote viral. Se um resultado de carga viral inicial fosse inferior a 200, mas uma medida subsequente estivesse acima desse nível (e vice-versa), o período era dividido pela metade – uma alocada na categoria de supressão viral, e a outra no tempo com perda de controle viral.

O intervalo de tempo entre dois testes de carga viral consecutivos abaixo de 200 foi categorizado como um período de supressão viral, enquanto o tempo entre duas medições consecutivas acima de 200 foi considerado um período de rebote viral.

Um total de 8.241 indivíduos foram recrutados. Um quinto eram mulheres; 46% eram gays, 39% heterossexuais e 9% pessoas que injetam drogas; 25% nasceram no estrangeiro. No início do estudo, a idade mediana foi de 39 anos e a contagem média de células CD4 era de 545.

RESULTADOS

A grande maioria das pessoas – 91% – nunca experimentou falência virológica. No entanto, 5% tiveram falha virológica de seu regime de TAR entre uma e três vezes, e 4% tiveram esse resultado em mais de três ocasiões.

Durante o acompanhamento, cada participante teve uma mediana de nove medições de carga viral – em média, cada pessoa fez 2,5 testes de carga viral por ano.

Os participantes contribuíram com 12.670.888 dias-pessoa de acompanhamento. Uma percentagem notável de 96,9% desses dias foram passados com carga viral abaixo de 200. Assim, apenas 3,1% dos dias foram passados sem supressão viral. Em uma análise de sensibilidade que incluiu apenas pessoas com pelo menos duas medições de carga viral por ano, a proporção de dias com carga viral acima de 200 foi ainda menor, de 2,5%.

A proporção de dias sem supressão viral foi maior em 2013 e diminuiu nos anos seguintes. Foi superior à média para mulheres (5,3%), estrangeiros (5,4%), desempregados (5,4%), pessoas que injetam drogas (4,7%) e indivíduos com mais de três episódios anteriores de rebote viral (6,3%). Os autores observam que,em outras pesquisas, todos esses fatores também mostraram ter uma associação com a perda de controle viral e que as pessoas nesses grupos se beneficiariam de suporte extra para manter seu status ‘indetectável’.

RESULTADOS

Em outra análise, os participantes foram categorizados como tendo perdido seu status indetectável se tivessem mais de 10% dos dias acima do nível 200. No geral, 92,5% dos participantes mantiveram seu status indetectável. Dos 7,5% dos indivíduos que perderam a supressão viral, a maioria teve apenas uma ou duas medições acima de 200.

No geral, 92,5% dos participantes mantiveram seu status indetectável. Dos 7,5% dos indivíduos que perderam a supressão viral, a maioria teve apenas uma ou duas medições acima de 200.

CONCLUSÃO

“I = I é uma campanha essencial, mas direta e com evidências científicas. Já influenciou a opinião pública, reduzindo o estigma das pessoas com HIV e consequentemente melhorando a sua qualidade de vida”, concluem Madeddu e colaboradores. “São necessários mais esforços para encorajar os médicos a introduzir esta mensagem durante as visitas de rotina. Nossos dados são úteis para identificar subpopulações... que podem se beneficiar particularmente de intervenções direcionadas.”

REFERÊNCIAS:
• Madeddu G et al. Time spent with a viral load <200 copies/mL in a cohort of people with HIV seen for care in Italy during the U=U prevention campaign era. AIDS, published online ahead of print, 29 January 2021. doi: 10.1097/QAD.0000000000002825

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