BOLETIM
VACINAS
E NOVAS TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO - Nº 32
PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - Fevereiro de 2019

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Boletim Vacinas e Novas Tecnologias de Prevenção Anti-HIV/AIDS - GIV

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I = I
Perguntas e Respostas
Perguntas e Respostas
A partir de https://www.preventionaccess.org/consensus

1. Uma pessoa com HIV em tratamento com carga viral indetectável durante pelo menos seis meses pode transmitir o HIV através do sexo?

Não. Uma pessoa vivendo com HIV em terapia antirretroviral (TAR) com uma carga viral indetectável no sangue durante pelo menos seis meses não pode transmitir o HIV através do sexo. Às vezes, o risco é descrito como “insignificante”, o que significa: tão pequeno que não vale a pena ser considerado. Portanto, especialistas em HIV e educadores em saúde descreveram o risco de transmissão nas comunicações de saúde pública de maneira clara e inequívoca, tais como: efetivamente sem risco; intransmissível; não mais infeccioso; risco zero; nenhum risco de infecção; não transmite; não pode transmitir.

2. O que é uma “carga viral indetectável” e o que é “supressão da carga viral”?

Carga viral refere-se, em geral, à quantidade de HIV em uma amostra de sangue de uma pessoa vivendo com HIV. Geralmente, quanto maior a carga viral, maior a probabilidade de transmissão do HIV. Tanto “indetectável” como “supressão da carga viral” são medições extremamente baixas do HIV que são praticamente as mesmas. Os termos são frequentemente usados de maneira intercambiável nas comunicações de saúde pública.

Carga viral indetectável: A TAR pode reduzir a carga viral de uma pessoa ao ponto de ser tão baixa (geralmente abaixo de 40 cópias/ml, dependendo do teste e da região do mundo) que não pode ser detectada pelos exames usuais. Este fato denomina-se “carga viral indetectável”, que impede a transmissão sexual do HIV, ao mesmo tempo que melhora a saúde de uma pessoa que vive com o HIV. Não elimina totalmente o vírus do organismo nem cura alguém do HIV. A adesão excelente, ou o uso da TAR conforme prescrito, é importante para manter uma carga viral indetectável.

Para os propósitos da campanha I = I, o termo “indetectável” é usado como sinônimo do termo “supressão viral”.

Supressão de carga viral: quando a TAR diminui a carga viral de uma pessoa para menos de 200 cópias/ml, isso é chamado de “supressão viral”. Ter supressão viral impede a transmissão sexual do HIV, ao mesmo tempo que melhora a saúde de uma pessoa que vive com o HIV. Estudos mostram que quando uma pessoa tem supressão viral, ela não pode transmitir o HIV para parceiros sexuais. A adesão excelente, ou o uso da TAR conforme prescrito, é importante para manter a supressão viral.

3. Qual é a evidência?

A conclusão é baseada na força avassaladora do mundo real e nas evidências de pesquisa, incluindo a Declaração Suíça, e os estudos HPTN 052, PARTNER, PARTNER 2 e Opposites Attract.

Por exemplo, no ensaio HPTN 052 houve ZERO transmissões de entre 1.763 casais sorodiferentes quando os parceiros HIV positivos estavam em TAR com cargas virais indetectáveis por mais de seis meses. No estudo PARTNER, houve ZERO transmissões em 58.000 atos sexuais sem preservativos entre pessoas com HIV em TAR que tinham cargas virais indetectáveis e seus parceiros HIV negativos. No PARTNER 2, que foi a extensão do PARTNER e estudou homens que fazem sexo com homens, houve ZERO transmissões em 77.000 atos sexuais sem preservativo entre pessoas com HIV em TARV com cargas virais indetectáveis e seus parceiros HIV negativos. No estudo Opposites Attract, houve ZERO transmissões em 17.000 atos sexuais sem preservativos entre parceiros HIV positivos indetectáveis e HIV negativos. Desde o advento da terapia combinada, não houve relatos confirmados de alguém com carga viral indetectável transmitindo sexualmente o HIV.

4. O risco é zero?

Em termos do mundo real, sim, o risco é zero. Em termos teóricos, o risco é uma pequena fração próxima de zero. Não é útil concentrar-se nos riscos teóricos porque nunca é possível provar risco zero na ciência. Através da análise estatística, esse número ficará cada vez mais próximo de zero. Os pesquisadores concordam que podemos dizer com confiança que uma pessoa com HIV em TAR com carga viral indetectável não pode transmitir o HIV para seus parceiros sexuais. Quando alguém está viralmente suprimido, não é infeccioso sexualmente: o risco é cientificamente equivalente a zero.

podemos dizer com confiança que uma pessoa com HIV em TAR com carga viral indetectável não pode transmitir o HIV para seus parceiros sexuais

Perguntas e Respostas sobre indetectável = intransmissível

5. Por que algumas pessoas dizem que uma carga viral indetectável reduz o risco em 93-96%?

É um erro muito comum ao relatar os resultados do estudo HPTN-052. Este estudo observou o risco de transmissão desde o primeiro dia em que a PVHA iniciou o tratamento. A razão da redução de risco de 96% (baseado nos resultados intermediários do estudo) ou de 93% (baseado nos resultados finais do estudo) é porque houve transmissões do HIV antes que a TAR suprimisse o vírus e porque o tratamento não funcionou adequadamente para um número pequeno de participantes. Se consideradas somente as transmissões depois dos primeiros seis meses de TAR, a redução de risco seria de 100% com risco zero de transmissão.

6. O que significa “Tratamento como Prevenção”?

O Tratamento como Prevenção (TcP) se refere a qualquer método de prevenção que usa a TAR para diminuir o risco de transmissão do HIV para um parceiro sexual ou de uso de drogas injetáveis ou perinatal. A TAR reduz a carga viral no sangue, no sêmen, no fluido vaginal e no fluido retal para níveis muito baixos, e como resultado reduz a transmissão do HIV. O TcP é a base para I = I. O TcP não indica o nível de redução do risco ou o nível de carga viral necessário para prevenir a transmissão. I = I refere-se ao ponto em que o vírus no sangue é reduzido a níveis indetectáveis e não há risco de transmitir sexualmente o HIV.

7. Todos os que iniciam a terapia antirretroviral para o HIV tornam-se indetectáveis e permanecem indetectáveis?

Quase todas as pessoas com HIV que iniciam a TAR encontram um esquema de medicamentos que funciona dentro de seis meses. Cerca de uma em cada seis pessoas precisará de mais tempo para encontrar o tratamento certo devido a problemas de tolerância e adesão. A adesão ao tratamento e o monitoramento regular da carga viral são essenciais para manter uma carga viral indetectável.

A adesão ao tratamento e o monitoramento regular da carga viral são essenciais para manter uma carga viral indetectável

8. Os “blips” virais aumentam a chance de transmissão?

Blips virais são pequenos aumentos transitórios na carga viral (entre 50 e 1.000 cópias). Blips virais não demonstraram aumentar a transmissão do HIV. Os blips às vezes resultam de uma TAR eficaz quando as pessoas são aderentes, e normalmente retornam a níveis indetectáveis sem qualquer alteração no tratamento. A menos que os blips virais comecem a aumentar em frequência, a ocorrência de um blip não significa que o tratamento não está funcionando e normalmente não são motivo de preocupação para os profissionais.

9. Ter uma IST afeta a chance de transmissão do HIV?

Ter uma infeção sexualmente transmissível (IST) não é importante para a transmissão do HIV quando o parceiro com HIV tem uma carga viral indetectável. Porém, uma IST na presença de uma carga viral detectável pode aumentar o risco de transmissão do HIV.

10. Por que algumas pessoas têm cargas virais detectáveis?

O acesso a cuidados de saúde adequados, tratamento e testes de carga viral são barreiras sérias em muitas partes do mundo. Algumas pessoas que têm acesso ao tratamento podem optar por não serem tratadas ou podem não estar prontas para começar a TAR. Outros iniciam o tratamento, mas enfrentam desafios com a adesão por vários motivos, como estigma, problemas de saúde mental, abuso de substâncias psicoativas, moradia instável, dificuldade de pagar por medicamentos, ambientes hostis, resistência a medicamentos e/ou efeitos colaterais intoleráveis. Porém, cargas virais baixas mas detectáveis também podem não transmitir o HIV. Por exemplo, alguém que tem supressão viral (abaixo de 200 cópias/ml) mas ainda detectável (acima de aproximadamente 40 cópias/ml, dependendo do teste) não pode transmitir o HIV. Os principais estudos sobre o assunto foram baseados no risco de transmissão do HIV de pessoas que apresentaram supressão viral. Para pessoas que vivem com HIV que não estão viralmente suprimidas ou indetectáveis há opções altamente eficazes, incluindo os preservativos, e em algumas partes do mundo, como no Brasil, a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), que pode ser usada individualmente pelo parceiro sem HIV ou em combinação para prevenir o HIV. Todos os que vivem com o HIV, independentemente da carga viral, têm direito a uma vida social, sexual e reprodutiva plena e saudável.

Todos os que vivem com o HIV, independentemente da carga viral, têm direito a uma vida social, sexual e reprodutiva plena e saudável.

11. Com que frequência deve ser feito o teste de carga viral?

O teste regular de carga viral para benefícios de saúde é normalmente recomendado 2 a 4 vezes por ano para pessoas que têm uma carga viral indetectável estável. As pessoas com HIV que utilizam a carga viral indetectável como estratégia de prevenção do HIV devem falar com os seus médicos para avaliar a necessidade de maior frequência.

12. E se houver HIV detectável no sêmen, fluidos vaginais ou retais, mas não no sangue?

Os cientistas descobriram que o tratamento do HIV que leva a uma carga viral indetectável no sangue também normalmente leva a uma carga viral indetectável no sêmen, fluidos vaginal e retal. Ocasionalmente, pessoas com uma carga viral indetectável no sangue apresentam RNA e DNA do HIV no sêmen, fluidos vaginal e retal, mas isso não aumenta o risco de transmissão. O RNA e o DNA do HIV são apenas partículas do HIV, e é necessário o vírus inteiro para infectar. Além disso, estudos mostram que o RNA e o DNA do HIV são mais comuns logo após o início do tratamento para o HIV e dificilmente são vistos após um ano ou mais de uma carga viral indetectável no sangue.

13. Há efeitos colaterais pelo uso de medicamentos para o HIV?

Medicamentos para o tratamento do HIV podem causar efeitos colaterais em algumas pessoas. A maioria é gerenciável. Felizmente, existem inúmeros medicamentos contra o HIV disponíveis hoje que as pessoas podem tomar sem efeitos colaterais graves. Se você tiver algum efeito colateral, é importante discuti-lo com seu médico.

se sua carga viral está indetectável e você permanece no tratamento do HIV, é provável que você seja muito mais saudável do que se você não estivesse em tratamento

14. O que isso significa para mim se eu tiver HIV?

Isso significa que, se sua carga viral está indetectável e você permanece no tratamento do HIV, é provável que você seja muito mais saudável do que se você não estivesse em tratamento. E também você não precisa mais ficar constrangido pelo medo de transmitir o vírus para outras pessoas durante experiências sexuais. No entanto, “se você quiser parar de usar preservativos, é importante discutir isso cuidadosamente com seus parceiros e garantir que eles também estejam confortáveis com a decisão”.

Discutir o que significa uma carga viral indetectável com parceiros soronegativos pode ajudar a reduzir a ansiedade sobre a transmissão do HIV. Mas essa informação provavelmente será nova para a maioria das pessoas que não têm HIV; e pode levar algum tempo para que alguém entenda e confie no que você está dizendo. É importante lembrar que, embora uma carga viral indetectável proteja seus parceiros do HIV, ela não os protege, nem a você, de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) nem impede a gravidez.

15. O que isso significa para mim se eu não tiver HIV?

Você não precisa ficar constrangido pelo medo de contrair o HIV enquanto seu parceiro sexual tem carga viral indetectável. Se você quiser parar de usar preservativos, é importante discutir isso cuidadosamente com seus parceiros e garantir que eles também estejam confortáveis com a decisão. É importante lembrar que, embora uma carga viral indetectável previna a transmissão do HIV, ela não protege você ou eles de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) ou gravidez indesejada.

16. O que isso significa para a saúde reprodutiva, como gravidez e amamentação?

Saber como uma carga viral indetectável previne a transmissão do HIV pode ser especialmente útil para pessoas que desejam conceber um bebê sem usar práticas alternativas de inseminação. Uma carga viral indetectável também reduz drasticamente o risco de transmissão vertical – durante a gravidez ou a amamentação. Mas há casos, embora poucos, reportados de transmissão do HIV ao bebê durante o aleitamento por mães com carga viral indetectável (ver artigo neste Boletim).

17. Eu não tenho HIV. Devo parar de usar preservativos e/ou a PrEP se eu estiver com alguém indetectável?

Ter uma carga viral indetectável, usar a PrEP e usar preservativos são todas estratégias de prevenção ao HIV que as pessoas podem escolher usar isoladamente ou em combinação. Nós fornecemos informações sobre a mais recente ciência da transmissão do HIV, para que as pessoas com HIV e seus parceiros possam tomar decisões informadas sobre o que funciona para elas. Algumas pessoas podem preferir usar várias estratégias de prevenção do HIV por uma variedade de razões, como reduzir a ansiedade de risco de transmissão, prevenir outras IST, prevenir a gravidez ou se o parceiro com HIV tem um histórico de aderência inconsistente à TAR. Os preservativos são o único método que ajuda a prevenir conjuntamente o HIV, IST e gravidez.

Algumas pessoas podem preferir usar várias estratégias de prevenção ao HIV por uma variedade de razões, como reduzir a ansiedade de risco de transmissão, prevenir outras IST, prevenir a gravidez ou se o parceiro com HIV tem um histórico de aderência inconsistente à TAR.

18. Preciso revelar minha sorologia para o HIV ao meu parceiro sexual se eu tiver carga viral indetectável?

Ter uma carga viral indetectável por pelo menos seis meses e continuar com a medicação significa que você não está colocando o seu parceiro em risco. Não há imperativo moral para revela-lo quando você não está colocando seu parceiro em risco. No entanto, você pode querer considerar as vantagens e desvantagens de revelar a informação para você e seu parceiro. Um parceiro pode ficar chateado se souber da sua sorologia positiva após a interação sexual e pode causar consequências no relacionamento, mesmo quando não há risco de transmissão. Além disso, é extremamente importante ter em mente que muitas leis discriminatórias de criminalização do HIV existem em alguns países do mundo que exigem que você revele sua sorologia, mesmo quando não há risco de transmissão. Não é o caso do Brasil até o momento.

19. Eu não tenho HIV. Posso confiar que meu parceiro é realmente indetectável?

Assim como você não pode dizer se alguém tem HIV olhando para ele, você também não pode dizer se alguém tem uma carga viral indetectável pela sua aparência. Se você escolhe ou não confiar em seu parceiro é uma decisão altamente pessoal e é provável que dependa de suas práticas sexuais e circunstâncias de relacionamento. As pessoas envolvidas em sexo consensual são responsáveis pela sua própria saúde sexual. Em algumas circunstâncias, a PrEP é uma excelente opção para se fortalecer contra a transmissão do HIV sem depender da confiança de seu parceiro sexual.

20. I = I aplica-se também à transmissão através do compartilhamento de agulhas?

I = I não se aplica à transmissão do HIV através do compartilhamento de agulhas. Ainda não há pesquisas suficientes para chegar a uma conclusão.

21. Qual benefício social pode haver com esta Declaração?

As PVHA com carga viral indetectável sentir-se-ão melhor, diminuindo a autodiscriminação. A criminalização das PVHA poderá diminuir, para as PVHA com carga viral indetectável, se houver difusão deste conhecimento.

Poderá diminuir a discriminação da sociedade, em particular dos parceiros sexuais, sobre as PVHA.

22. Eu sou PVHA. Além de evitar a transmissão para meus parceiros (as) sexuais, terei algum benefício clínico pessoal se eu tomar a TAR e ficar com carga viral indetectável?

Sim. Todas as PVHA beneficiam-se do uso da TAR, mesmo quando são assintomáticas e têm altos níveis de células CD4. Isto foi comprovado no estudo START, cujos resultados foram divulgados em julho de 2015 (ver Boletim Vacinas 30).

ADVERTÊNCIA

Nossa celebração coletiva de I = I fica prejudicada se o acesso ao diagnóstico, tratamento e atendimento do HIV for desigual.

Existem inúmeras barreiras econômicas, sociais, estruturais e legais que se cruzam na vida de alguém e podem dificultar ou impossibilitar o alcance de uma carga viral indetectável.

Várias populações afetadas que vivem com o HIV têm acesso desigual mesmo no mesmo país ou vizinhança. O acesso a serviços de saúde e apoio adequados é uma preocupação importante em muitas partes do mundo, incluindo países de renda mais alta, como os EUA.

Algumas pessoas que vivem com o HIV podem optar por não serem tratadas ou podem não estar prontas para iniciar o tratamento. Outras podem iniciar o tratamento, mas ter desafios com a adesão por vários motivos, incluindo estigma, problemas de saúde mental, abuso de substâncias, moradia instável, ambientes hostis, dificuldade em pagar medicamentos, resistência a medicamentos e/ou efeitos colaterais intoleráveis.

SE VOCÊ CONHECER ALGUMA DESTAS PESSOAS, TENTE AJUDA-LA A SUPERAR ESTES OBSTÁCULOS!

Os benefícios do tratamento eficaz para a prevenção da saúde pessoal e da comunidade enfatizam a necessidade de acesso universal ao diagnóstico, tratamento e cuidados do HIV, tanto para a saúde pessoal como da população.

Nosso desafio para generalizar o I = I é continuar a lutar pelo acesso universal para todas as pessoas com HIV, independentemente de quais barreiras possam existir e independentemente de onde elas possam viver.

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