- Declaração Suíça (2008);
- HPTN 052 (2011);
- Partner1 (2014);
- Opposites Attract (2017);
- Partner2 (2018);
- Estudo START (2015).
1. DECLARAÇÃO DA COMISSÃO FEDERAL SUÍÇA DE AIDS (janeiro de 2008)
Uma pessoa com HIV sem nenhuma outra infecção sexualmente transmissível (IST) e seguindo um tratamento antirretroviral (TAR) com carga viral totalmente suprimida (condição doravante denominada “TAR eficaz”) não transmite o HIV pela via sexual, ou seja, que ela não transmite o vírus pelo meio dos contatos sexuais.
Esta afirmação fica válida a condição de que:
- A pessoa com HIV aplique o tratamento antirretroviral ao pé da letra e seja acompanhada por um médico;
- A carga viral (CV) se situe abaixo do nível de detecção desde há pelo menos seis meses;
- A pessoa com HIV não tenha nenhuma úlcera genital.
2. ESTUDO HPTN052 (Se usar TAR, o HIV se transmite por via sexual ou não?)
Estudo de sete anos iniciado em 2005 em Botsuana, Brasil, EUA, Índia, Quênia, Maláui, África do Sul e Zimbábue que recrutou 1.750 casais sorodiferentes, ou seja, onde um parceiro tem HIV e o outro. Em metade dos casais, a pessoa vivendo com HIV/AIDS (PVHA) iniciou a TAR imediatamente e a outra metade iniciaria quando tivesse indicação para tanto, segundo as Diretrizes da época.
O estudo foi interrompido em 2011 após uma revisão interna do Comitê de Dados e Segurança (DSMB) que revelou a ocorrência de 39 infecções para uma redução de 96% no risco de transmissão. (Risco de 0.04; IC 95% 0.01 a 0.27). Este resultado foi altamente significativo (p < 0,0001).
Observação: O único caso de transmissão dentro de casal quando a PVHA estava usando TAR ocorreu com um homem que tinha iniciado a TAR havia no máximo um mês, provavelmente não alcançando a indetectabilidade geral. (ver Boletim Vacinas 25).
Mas isto não contradiz a Declaração Suíça que fala em seis meses!
3. ESTUDO PARTNER1
Este estudo incluiu vários casais de homens e analisou, entre setembro de 2010 e maio de 2014, casais sorodiferentes (homo e heterossexuais) em 75 clínicas de 14 países europeus. Os critérios de inclusão determinavam que o parceiro positivo deveria ter carga viral indetectável (menor de 200 cópias/ml) em tratamento antirretroviral e que o casal não tivesse o hábito de sempre usar preservativos durante o sexo. Os casais só foram incluídos na análise final quando a carga viral mais recente dos parceiros soropositivos fosse indetectável.
Participaram, para a análise do estudo, 548 casais heterossexuais, sendo 279 com a mulher soropositiva, e 340 casais homossexuais masculinos. Não houve infecções em nenhum casal!
Vale ressaltar que nenhuma infecção ocorreu mesmo havendo níveis bastante elevados de IST, sobretudo entre casais homossexuais.
Os casais de homens relataram mais de 22.000 relações sexuais sem preservativos (mediana 41/ano) e os heterossexuais mais de 36.000 (mediana 35/ano). Ao todo houve mais de 58.000 relações sexuais sem preservativo e sem transmissão do HIV (ver Boletim Vacinas 29, 30).
Uma extensão do estudo continuaria até 2019 para casais gays (Partner2).
Os resultados do Partner1 foram divulgados em 2016.
Ao todo houve mais de 58.000 relações sexuais sem preservativo e sem transmissão do HIV.
4. ESTUDO OPPOSITES ATTRACT
Durante a IX Conferência Internacional da Sociedade de AIDS sobre Ciência do HIV (IAS 2017) em Paris, França, foi relatado um estudo que incluiu 343 casais homossexuais sorodiferentes. O estudo não encontrou um único caso de transmissão do HIV em 16.889 atos de sexo anal sem preservativos.
Os Estudos Opposites Attract e PARTNER 1
A evidência determinada pelo Opposites Attract soma-se à evidência do estudo PARTNER de que as pessoas HIV-positivas em tratamento efetivo contra o HIV que suprime completamente seu vírus não podem transmitir sua infecção através do sexo. Em conjunto, os dois estudos não encontraram um único caso de transmissão do HIV em quase 40.000 atos de sexo anal sem uso de preservativos entre homossexuais.
5. ESTUDO PARTNER 2
O PARTNER 1 foi desenvolvido entre setembro de 2010 e maio de 2014 e o PARTNER 2 de maio de 2014 a abril de 2018. Havia 888 casais no PARTNER 1, 337 deles (38%) casais homossexuais. No PARTNER 2, outros 635 casais gays foram recrutados, perfazendo um total de 972 casais gays e 516 heterossexuais em todo o estudo PARTNER.
O estudo PARTNER 2 recrutou casais de homens que têm sexo com homens (HSH) sorodiferentes para o HIV (um parceiro positivo, um negativo) em 75 clínicas de 14 países europeus. Eles testaram os parceiros HIV-negativos a cada seis a 12 meses para o HIV e testaram a carga viral nos parceiros HIV-positivos. Ambos os parceiros também completaram pesquisas comportamentais.
Nos casos de infecção por HIV nos parceiros negativos, o seu HIV foi geneticamente analisado para verificar se veio do parceiro habitual.
O estudo não encontrou transmissões entre casais homossexuais onde o parceiro soropositivo para o HIV tinha uma carga viral inferior a 200 cópias/ml – apesar de haver quase 77.000 atos sexuais sem preservativo entre eles.
Opposites Attract mais Partner 1 mais Partner 2
Se você combinar os resultados dos estudos Opposites Attract, PARTNER 1 e 2, nenhuma transmissão do HIV foi observada em cerca de 126.000 ocasiões de sexo anal!
Se você combinar os resultados dos estudos Opposites Attract, PARTNER 1 e 2, nenhuma transmissão do HIV foi observada em cerca de 126.000 ocasiões de sexo anal!
E o papel das IST?
Os estudos Opposites Attract, Partner 1 e Partner 2 também encontraram que, se o parceiro positivo estiver em tratamento bem sucedido, mesmo ter outra infecção sexualmente transmissível (IST) não aumenta o risco de transmissão do HIV. Isto vai além da Declaração da Comissão Federal Suíça de AIDS.
Mas é sabido que com carga viral detectável, a presença de uma IST aumenta o risco de transmissão do HIV em várias vezes.
Ativo ou Passivo? Não importa!
A posição sexual também não fez diferença. Ressalte-se que se a carga viral não estiver suprimida, a transmissão é 10-20 vezes mais provável se o parceiro HIV-positivo for o insertivo (ou ativo).
6. O ESTUDO START
O estudo START (divulgado em 2015) mostrou que as pessoas que iniciam a terapia antirretroviral, quando a sua contagem de células CD4 ainda é elevada (superior a 500 cel./mm3) ao invés de esperarem que a contagem diminua para valores inferiores a 350 células/mm3, têm um risco inferior (estatisticamente significativo) de desenvolver doença. Participaram 4.685 pessoas de 35 países. O acompanhamento foi de três anos em média (ver Boletim Vacinas 30).
Portanto, há benefício clínico no início da terapia antirretroviral para qualquer nível de CD4 da PVHA. Logo a PVHA pode começar a ser tratada assim que diagnosticada.
Portanto com o uso da terapia antirretroviral há benefícios para a saúde da PVHA e para a prevenção da transmissão do HIV, em qualquer estágio da infecção.