Toda esta edição é uma grande homenagem nossa ao Jorge. Nestas páginas finais, no entanto, pedimos a algumas organizações com que Jorge contribuiu ao longo de sua vida, às coordenações dos programas de AIDS e a alguns pesquisadores algumas palavras que ajudassem a compor um pequeno quadro da pujante contribuição que ele nos legou em toda sua vida. Será sempre pouco diante da vastidão do que foi Jorge e do tanto que ele contribuiu. Se tivéssemos que sintetizar, Jorge foi sempre um professor. Extremamente dedicado e generoso, um professor que nos ensinou com rigor, ousadia e irreverência sempre. Desde o beabá das vacinas até os sentidos do viver.
Nosso muitíssimo obrigada, Jorge! Sempre presente!
Gabriela Calazans, professora do Instituto de Psicologia da USP, pesquisadora do NEPAIDS-USP.
LEGADO DE CONQUISTAS, FAROL DE ESPERANÇA
É com profunda admiração e respeito que o Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e IST reconhece o ativismo do estimado Jorge Adrian Beloqui, que nos deixou um legado de conquistas e de exemplos que contribuiu para o fortalecimento de novas lideranças. Sua vida foi um testemunho inspirador de coragem, dedicação e paixão pela causa da saúde pública, especialmente, na luta contra o HIV e a AIDS.
Beloqui, como era carinhosamente chamado, foi muito mais do que um ativista; foi um farol de esperança e um defensor incansável dos direitos das pessoas vivendo com HIV e AIDS. Sua visão audaciosa e sua determinação inabalável ajudaram a construir políticas, programas e iniciativas que transformaram vidas e salvaram inúmeras outras.
Sob sua incomensurável sabedoria e profundo conhecimento, avanços significativos foram alcançados na conscientização pública, na promoção do acesso ao tratamento e no enfrentamento ao estigma e a discriminação em relação às pessoas vivendo com HIV e AIDS e populações em situação de maior vulnerabilidade. Sua voz ressoou em salas de conferências nacionais e internacionais, nos encontros do movimento nacional de luta contra AIDS, em organizações da sociedade civil, universidades e nos corações daqueles que buscavam orientação, apoio e compreensão.
O ativismo de Beloqui contribuiu e continuará nos inspirando em nossa missão compartilhada para promoção, prevenção, tratamento e cuidado no HIV e na AIDS, assim como continuar avançando na busca por mais pesquisas, novos tratamentos, na proteção social e por uma política pública de saúde livre de estigma e da discriminação.”
Draurio Barreira Cravo Neto, diretor do Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis – Dathi/SVSA/MS.
APOIO TÉCNICO FANTÁSTICO
Quando conheci o Jorge Beloqui, estava na secretaria do Foaesp, em um evento, e logo percebi em suas falas a preocupação em relação aos medicamentos de primeira linha para o tratamento das pessoas vivendo com HIV/ AIDS. Ele era de um conhecimento absurdo e eu, com poucos anos no movimento, pensava que um dia chegaria perto. Passados todos esses anos, não consegui. Mas tive um apoio técnico fantástico para fazer o meu trabalho de controle social.
Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp).
RIGOR TÉCNICO
Além de um grande aliado da saúde pública na cidade de São Paulo, sempre em busca de facilitar o acesso ao SUS para todas as pessoas, em especial as que vivem com HIV/AIDS, Jorge Beloqui esteve presente em momentos decisivos para que os avanços que conhecemos hoje fossem possíveis. Jorge também foi um assíduo defensor do rigor técnico necessário tanto para a atuação diária quanto para a produção científica, com destaque importantíssimo para o Boletim de Vacinas e sua dedicação em traduzir a linguagem de estudos e trabalhos científicos nacionais e internacionais para uma linguagem mais acessível e popular. Sua trajetória certamente é um exemplo para muitos profissionais e pesquisadores de HIV/AIDS.
Cristina Abbate, coordenadora da Coordenadoria de IST/AIDS da Cidade de São Paulo.
GIGANTE E INDESCRITÍVEL
Jorge Beloqui foi um dos precursores da luta contra a pandemia de AIDS. Somos testemunhas da sua lucidez, da sua valentia e tivemos o privilégio de conviver com seu bom humor e sua risada generosa e espalhafatosa.
Gostava de ser professor e também gostava de ser matemático. Na sua trajetória como militante e ativista estão sempre presentes o professor e o matemático.
Nos anos 90, foi representante do movimento de AIDS na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), tendo grande preocupação com essa pauta, especialmente as pesquisas que ofertam medicamentos. Era um defensor intransigente do SUS – Sistema Único de Saúde, acompanhando o acesso a medicamentos.
É gigante e indescritível a contribuição de Jorge para a resposta brasileira em relação ao HIV e AIDS. Estudou patentes, vacinas e medicamentos e fez com brilhantismo um trabalho voluntário no movimento social, levando informação qualificada e de ponta que permitia às pessoas vivendo com HIV lutarem pelos seus direitos.
No GIV, foi responsável pela produção do Boletim Vacinas e contribuiu com inúmeras publicações; dentre elas, material de prevenção do HIV/AIDS junto a jovens gays e comunicação sobre prevenção combinada.
Acima de tudo, Jorge era um ser humano especial, tão duro e firme na intransigente defesa dos direitos das pessoas com HIV/ AIDS e LGBTQI+, quanto doce e carinhoso no cuidado com seus amigos, amigas e amigues. Tão direto nas suas análises quanto acolhedor com quem dele se aproximava.
Jorge foi um querido amigo, um ser humano ímpar que dedicou a vida à construção de uma sociedade inclusiva, justa, com direitos e equidade.
Em um texto, Jorge disse que depois que se descobriu com HIV passou do grupo dos imortais para o grupo dos mortais. Diante de sua morte, por tudo o que fez da sua vida como força de produção de uma vida coletiva mais solidária numa sociedade fortemente marcada pelo estigma e discriminação, dizemos que Jorge passou do grupo dos mortais para o grupo dos imortais, cujo legado é tão importante que sobrevive à morte.
Alexandre Gonçalves, diretor do Centro de Referência e Treinamento em IST/AIDS da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
GARANTIA DE DIREITOS
Jorge Beloqui compõe a memória da RNP+Brasil como um dos seus ilustres fundadores, em 1995 e, desde então, contribuiu enormemente com a Rede, seja na sua atuação como idealizador e membro do corpo editorial do Boletim Vacinas, seja como membro de comitês científicos comunitários nacionais e internacionais sobre vacinas e medicamentos antirretrovirais, seja pela sua participação no comitê comunitário de implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) no Brasil, ou pelo trabalho no comitê técnico de elaboração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas de HIV/AIDS. Além desse amplo envolvimento em ações de mediação científica e cultural que integravam o movimento social e a comunidade técnico-científico sobre HIV/AIDS, conduziu com o Paulo Giacomini pesquisa relevante no âmbito da RNP+Brasil, com ênfase na ‘sociometria’ de seus membros, sobre as relações entre estigma, exclusão social e garantia de direitos humanos das pessoas vivendo com HIV ou AIDS no País.
Lucas Melo, Vando Oliveira e Vanessa Campos, da Secretaria Nacional da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+Brasil).
CAMINHOS PARA AVANÇAR
O Movimento Paulistano de Luta Contra a AIDS sempre teve de Jorge Beloqui uma significativa contribuição. Jorge esteve presente na constituição deste coletivo e com muita maestria nos apresentava caminhos para avançar na busca por superação de desigualdades de acesso à prevenção, assistência e dentro dos pilares dos direitos humanos. Com seu profundo conhecimento em varias questões que permeiam a luta contra o HIV/AIDS, sempre foi um mestre, que com muita humildade, se colocava disponível a compartilhar seus saberes. Grande foi sua contribuição também para ações de quebra de estigmas e preconceitos.
Eduardo Luiz Barbosa, da coordenação do Movimento Paulistano de luta contra a AIDS (MOPAIDS)
FARÓIS-GUIA
Desde os anos 1990, Jorge passou a editar o Boletim Vacinas, com textos identificados, traduzidos e editados por ele para compor a publicação. Sempre foi grande a sua preocupação em disponibilizar informações atualizadas e de fácil compreensão para as pessoas vivendo com HIV e AIDS. O mais marcante entre as contribuições de Jorge para o enfrentamento da AIDS foi seu incansável esforço em buscar e transmitir o conhecimento como ferramenta fundamental para responder aos impactos da epidemia. Da mesma forma, o seu empenho para que a participação direta das pessoas vivendo com HIV/AIDS nas pesquisas cientificas e na elaboração de políticas e ações em saúde fosse uma realidade. Sua lucidez política, sua solidariedade ilimitada e sua inteligência e erudição, são faróis que nos guiam. Suas contribuições continuam fundamentais para alcançarmos resultados em nossas lutas!
Veriano Terto Jr., vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA)
ENGAJAMENTO QUALIFICADO
Beloqui nos deixou sem assistir a descoberta de uma vacina efetiva contra o HIV, mas o Boletim Vacinas, que ele cuidava com tanta dedicação, era produto de sua preocupação central, que girava em torno do papel do usuário de saúde na apropriação e produção de conhecimentos sobre aquilo que o afeta. A atuação do Jorge enquanto pessoa que vivia com HIV tinha o propósito de defender dignidade e direitos coletivos, mas também carregava esse raro diferencial de engajamento meticuloso e qualificado. Esse tipo de ativismo contra a aids não existe mais, o da especialização das competências e saberes, mas Jorge deixou registrado, no Boletim Vacinas e em tudo que fazia, que as conquistas são também consequências do que sabemos e compartilhamos.
Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Foi colaborador do Boletim Vacinas na condição de membro do Grupo Pela Vidda/SP, à época
MOVIMENTO JORGE
Certas vezes, dizer o óbvio é necessário. O Movimento AIDS no Brasil é o próprio Jorge, não pelo que ele fez, mas pelo espírito mimetizado. Vigilante, agudo, tenaz, plural, irrequieto... é o Jorge ou é o Movimento? Bom, simplesmente, é o Movimento Jorge, tão intenso, que, pensar sem ele, é quase um vácuo. Que os Jorges, Gabrielas, Araújos... nos ajudem nessa trajetória.
Alexandre Grangeiro, pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.