O estudo recrutou homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres transexuais que receberam a opção de tomar a PrEP diariamente ou sob demanda. Duas infecções por HIV foram documentadas, mas ambas envolveram indivíduos que optaram pela PrEP diária. Uma das infecções ocorreu após a interrupção da PrEP. O comportamento sexual de risco em indivíduos que tomam PrEP diariamente ou sob demanda diferiu um pouco, indicando uma necessidade de intervenções de saúde sexual sob medida de acordo com o esquema de PrEP.
PrEP sob demanda ou baseada em eventos com tenofovir/entricitabina (TDF+FTC): 2 comprimidos entre 2 a 24 horas antes da relação sexual e 1 comprimido a cada 24 horas, até 48 horas após a última relação sexual.
“Para o uso da PrEP sob demanda, a evidência existente é robusta, embora escassa”, observam os autores. “Nossos resultados baseiam-se em evidências anteriores que ressaltam a alta eficácia da PrEP sob demanda, mesmo quando fornecida de acordo com a preferência do usuário.”
O ESTUDO
AMPrEP foi um estudo de demonstração projetado para reunir mais informações sobre a incidência do HIV, infecções sexualmente transmissíveis (IST) e mudanças no comportamento sexual entre os indivíduos que tomam PrEP em Amsterdã. O recrutamento ocorreu entre agosto de 2015 e maio de 2016. Os indivíduos elegíveis eram HSH adultos HIV-negativos e transexuais que relataram um dos fatores de risco para HIV nos 6 meses anteriores: sexo anal sem preservativo com um parceiro casual, diagnóstico de IST, uso de profilaxia pós-exposição (PEP), ou um parceiro soropositivo para o HIV com carga viral detectável.
Foi confirmado que os esquemas de PrEP diários e sob demanda são eficazes para a prevenção do HIV
Os participantes receberam gratuitamente os medicamentos da PrEP (TDF+FTC) e tiveram a opção de tomá-lo diariamente ou sob demanda (2 comprimidos entre 2 a 24 horas antes do sexo e 1 comprimido a cada 24 horas, até 48 horas após o último ato sexual).
A cada 3 meses, os participantes passaram por consultas de acompanhamento em uma clínica de saúde sexual quando foram testados para HIV e IST bacterianas (clamídia, gonorreia, linfogranuloma (LGV) e sífilis). Eles também foram convidados a preencher questionários sobre a frequência do sexo anal sem preservativo, o número de parceiros sexuais (regular e/ou casual) e o número de atos sexuais.
367 indivíduos foram incluídos na análise dos investigadores. Sua idade mediana foi de 40 anos e 365 eram HSH. Todos eram brancos e moravam em Amsterdã
Um total de 367 indivíduos foram incluídos na análise dos investigadores. Sua idade mediana foi de 40 anos e 365 eram HSH. Todos eram brancos e moravam em Amsterdã.
O estudo durou 2 anos, os participantes contribuíram com 497 pessoas/ano de acompanhamento da PrEP diária e 177 pessoas/ano de acompanhamento da PrEP sob demanda.
RESULTADOS
Aproximadamente 3/4 (73%) dos indivíduos optaram por receber a PrEP diária, enquanto os outros escolheram a PrEP sob demanda. Mais de 2/3 permaneceram na escolha inicial, enquanto 69 mudaram de esquema uma vez, e 38 em várias ocasiões. Pouco mais da metade dessas mudanças (52%) foram da PrEP diária para aquela sob demanda. Treze pacientes descontinuaram a PrEP no primeiro ano, e mais 7 no segundo ano. No entanto, 4 participantes que pararam a PrEP no primeiro ano recomeçaram no segundo ano.
Houve 2 infecções por HIV (incidência global, 0,30 por 100 pessoas/ano), ambas envolvendo indivíduos que receberam diariamente PrEP. Uma pessoa parou a PrEP vários meses antes de ser infectada pelo HIV. Porém, o segundo indivíduo relatou o uso diário consistente da PrEP.
A incidência geral de IST foi 41% menor entre os indivíduos que usaram a PrEP sob demanda, em comparação à PrEP diária.
Nos anos um e dois, 53% e 48% dos participantes foram diagnosticados com uma IST, respectivamente. A incidência geral de IST foi 41% menor entre os indivíduos que usaram a PrEP sob demanda, em comparação à PrEP diária (aIRR 0,59; 95% IC, 0,46-0,75, p <0,001). A incidência de qualquer IST anal, qualquer clamídia (especialmente anal) e gonorreia em qualquer local foi significativamente menor entre aqueles que tomavam sob demanda em comparação com a PrEP diária.
A mediana do número de parceiros sexuais casuais por 3 meses permaneceu estável durante o estudo (ano um = 11; ano dois = 10), assim como a mediana trimestral do número de atos sexuais (ano um = 20; ano dois = 18). O número médio de atos sexuais sem preservativo foi 10 por período de 3 meses em ambos os anos.
Houve um aumento modesto mas significativo ao longo do tempo no número de atos sexuais sem preservativo com parceiros casuais (relação relativa ajustada, 1,05; IC de 95%, 1,02-1,09, p = 0,0016).
“Preservativos são a base da proteção efetiva contra as IST. No entanto, uma razão importante para iniciar a PrEP é porque um indivíduo diminuiu a disposição para usar preservativos ”, observam os autores. “A diminuição no uso de preservativos ao longo do tempo que observamos pode refletir a crescente confiança dos participantes na eficácia da PrEP.”
Entre os usuários diários da PrEP, o número de relações sexuais sem preservativo com parceiros casuais aumentou significativamente
Entre os usuários diários da PrEP, o número de relações sexuais sem preservativo com parceiros casuais aumentou significativamente, mas o número de parceiros e o número de atos sexuais em geral não se alterou.
A análise dos indivíduos que receberam a PrEP sob demanda mostrou que:
- o número de relações sexuais sem preservativo com parceiros casuais não mudou;
- o número de parceiros diminuiu;
- o número de atos sexuais permaneceu estável.
Em geral, o número mediano de parceiros, atos sexuais e sexo anal sem preservativo com parceiros casuais foram todos significativamente mais altos entre os indivíduos que tomavam diariamente, do que nos que usavam a PrEP sob demanda.
CONCLUSÃO
“Confirmamos que os esquemas de PrEP diária e sob demanda são eficazes para a prevenção do HIV”, concluem os pesquisadores. “Testes regulares de HIV e IST continuam sendo de grande importância entre HSH em uso de PrEP. A frequência de testes de IST e intervenções comportamentais e outras intervenções de prevenção das IST podem ser adaptadas segundo o comportamento sexual. Essas estratégias de saúde pública precisam ser consideradas pelos clínicos e pelos formuladores de políticas.”
REFERÊNCIAS:
• Hoornenborg E et al. Sexual behaviour and incidence of HIV and sexually transmitted infections among men who have sex with men using daily and event-driven pre-exposure prophylaxis in AMPrEP: 2 year results from a demonstration study. The Lancet HIV.
