BOLETIM
VACINAS
E NOVAS TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO - Nº 33
PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - Novembro - 2019

PDF desta edição
Boletim Vacinas e Novas Tecnologias de Prevenção Anti-HIV/AIDS - GIV

Versão Completa

Clique para abrir o
Boletim Vacinas em PDF.

Abrir

VACINAS
proteção por mais de 5 anos
Vacina experimental poderia proteger contra o HIV por mais de 5 anos
Gus Cairns, 25 de julho de 2019
Daniel Stieh, apresentando o estudo ASCENT, na IAS 2019
Daniel Stieh, apresentando o estudo ASCENT, na IAS 2019 | Foto: Liz Highleyman

Novos resultados de um estudo de vacina preventiva da Fase IIa, APPROACH, anunciado em julho na 10a Conferência da Sociedade Internacional de AIDS (IAS 2019) sobre Ciência do HIV, na Cidade do México, indicam que o anticorpo e as respostas imunitárias celulares induzidas pela vacina duram 2 anos, e que uma resposta protetora de anticorpos poderia durar pelo menos 5 anos, se diminuir a uma taxa típica de outras vacinas.

O Dr. Frank Tomaka, da Janssen, a seção de pesquisa farmacêutica da Johnson & Johnson, disse que mesmo após 5 anos, o nível de anticorpos anti-HIV no sangue dos receptores de vacina era maior do que o nível observado que protegeu 2/3 dos macacos em experiências pré-clínicas. O relatório sobre esse resultado na época observou que “não sabemos quanto tempo durará a imunidade produzida por esta vacina”, mas essa questão já foi parcialmente respondida pelos novos dados.

Simultaneamente, outro pesquisador de Janssen, o Dr. Daniel Stieh, anunciou os resultados detalhados de um segundo estudo de vacina de Fase IIa, o ASCENT. Os resultados deste estudo resolveram a questão de qual formulação de vacina usar no próximo estudo de eficácia de Fase III, chamado MOSAICO, que será lançado proximamente (ver neste Boletim Vacinas). Os voluntários serão 3.800 homens gay e bissexuais e mulheres transexuais participando na América do Norte, América do Sul e Europa.

Os resultados de 6 meses do APPROACH (ver Boletim Vacinas 32) foram anunciados há 2 anos na conferência da IAS 2017, em Paris. Os dados do estudo foram usados para decidir qual vacina usar no primeiro estudo de eficácia da Janssen, o IMBOKODO, que está em andamento, recrutando 2.600 mulheres em cinco países do sul e leste da África.

A duração da resposta imunológica provocada por uma vacina é tão importante quanto a força dessa resposta.

Porém, a duração da resposta imunológica provocada por uma vacina é tão importante quanto a força dessa resposta. A primeira vacina a demonstrar eficácia, no ensaio RV144, por exemplo, teria relatado eficácia de 60% se o ensaio tivesse sido interrompido após o primeiro ano. No entanto, esta eficácia diminuiu para 31% 18 meses depois.

Os resultados apresentados mostram que a resposta de anticorpos produzida pela vacina APPROACH atingiu o pico após a última inoculação no esquema de quatro injeções e declinou cerca de dez vezes nos primeiros 5 meses seguintes. No entanto, ela praticamente não diminuiu durante os 2 anos seguintes.

Cerca de 1/4 dos receptores da vacina não apresentaram resposta imunológica à primeira injeção, que, como a segunda, consiste em uma seleção de genes altamente imunogênicos do HIV envoltos em um “vetor” viral não patogênico que imita uma infecção.

No entanto, todos os não respondedores iniciais de fato responderam à segunda dose desta vacina vetorial, bem como à terceira e quarta doses, que consistiram em vetores virais reforçados por proteínas brutas do HIV.

Tomaka disse à Conferência que estudos de modelagem, que estimaram a resposta de anticorpos no tempo até o quinto ano após a última injeção, projetaram que o nível de anticorpos (nível sanguíneo) naquele ponto ainda excederia os níveis médios observados em estudos pré-clínicos com macacos, precursores do estudo APPROACH, onde a vacina protegeu 2/3 dos animais da infecção pelo HIV.

O desenho da vacina ainda é, em parte, uma questão de adivinhação e não temos correlatos de imunidade para prever a eficácia.

A resposta imunitária celular, que estimula a atividade das células de linfócitos T em vez da produção de anticorpos, pode ser igualmente importante. O desenho da vacina ainda é, em parte, uma questão de adivinhação e não temos correlatos de imunidade para prever a eficácia. Portanto, conseguir uma resposta imunológica de ambos os braços do sistema imunitário adaptativo é um bom sinal.

Correlatos de imunidade: respostas imunitárias específicas correlacionadas com a proteção para certa infecção.

A resposta das células T ao gene env do HIV não foi tão vigorosa quanto a resposta de anticorpos à vacina, mas ainda estava acima dos níveis de proteção nos participantes, dados os níveis mais altos de reforço que foram levados adiante para o ensaio IMBOKODO.

Em 74% das pessoas que responderam à primeira dose de vetor, o nível ainda era adequado 2 anos após a última dose. Porém, caiu para zero nos 26% de não-respondedores de primeira dose. Isto sugere que, se uma resposta de células T se revelar crucial para a eficácia da vacina nos grandes ensaios, um reforço adicional um ano após as primeiras 4 doses, pode ser necessário para a minoria inicial de não respondedores.

Os participantes do APPROACH que receberam os dois esquemas mais eficazes continuarão a ser acompanhados pelos próximos 3 anos para ver como sua resposta imunológica muda com o tempo.

O ESTUDO ASCENT MOSTRA AMPLA EFICÁCIA CONTRA CEPAS VIRAIS. LOGO O ESTUDO MOSAICO DEVE INICIAR

Em uma apresentação separada, o Dr. Daniel Stieh revelou os resultados finais do ASCENT, um dos outros estudos de determinação de dose e esquema que contribuíram para a vacina que será testada no estudo MOSAICO.

As vacinas dos ensaios APPROACH e IMBOKODO são projetadas para funcionar contra o subtipo C, a variedade mais comum de HIV na África. A variedade mais comum em homens que fazem sexo com homens (HSH), em todo o mundo, é o subtipo B, e o objetivo do ASCENT era ampliar a aplicabilidade da vacina Janssen para que ela produzisse respostas úteis em pessoas com variedades não-C do HIV.

O objetivo do ASCENT era ampliar a aplicabilidade da vacina Janssen para que ela produzisse respostas úteis em pessoas com variedades não-C do HIV.

Para esta finalidade, a dose de reforço foi dividida em duas doses de reforço de metade do tamanho, em vez de uma dose de reforço, na terceira e quarta inoculações – uma para o subtipo C e uma para um “mosaico” de vários antígenos do HIV de subtipos virais (daí o nome de MOSAICO).

Antígeno: micro-organismo ou substância que o sistema imunitário pode reconhecer como “alheio” e portanto atacar.

A vacina ASCENT foi dada a 152 pessoas, incluindo 90 mulheres, nos EUA, Ruanda e Quênia. Houve preocupação de que, ao reduzir pela metade a dose de reforço do subtipo C, a resposta imunológica a esse vírus fosse mais fraca.

No entanto, não houve sinais de que a resposta de anticorpos ao subtipo C fosse mais fraca que a de outras cepas virais, quer na sua capacidade de matar células diretamente, quer na sua capacidade de suscitar a destruição de células infectadas pelas células T. Em geral, a resposta da célula T diretamente estimulada pela vacina, que era quase inteiramente uma resposta CD4 em vez de CD8, foi um pouco mais fraca para o subtipo C do que para o mosaico de vírus. Mas foi adequada na maioria dos receptores, e pode ser a capacidade da resposta de anticorpos para mobilizar a resposta das células T seja mais importante.

No passado vimos estudos de vacinas, para os quais fortes respostas imunitárias não se traduziram em proteção, mas, Stieh comentou, sabemos muito mais agora sobre quão variada e potente a resposta imunitária tem que ser para gerar eficácia contra o HIV.

Os resultados da IMBOKODO são esperados para o final de 2022 e da MOSAICO no final de 2023

REFERÊNCIAS:
• Tomaka F et al. Two-year post-vaccination follow-up from APPROACH: Phase 1/2a randomized study evaluating safety and immunogenicity of prophylactic HIV vaccine regimens combining Ad26.Mos.HIV and gp140 envelope protein. 10th International AIDS Society Conference on HIV Science, Mexico City, abstract TUAA0101, 2019.
• Stieh DJ et al. ASCENT: Phase 2a, randomized, double-blind, placebo controlled study evaluating safety and immunogenicity of two HIV-1 prophylactic vaccine regimens comprising Ad26.Mos4.HIV and either clade C gp140 or bivalent gp140i. 10th International AIDS Society Conference on HIV Science, Mexico City, abstract TUAC0402LB, 2019.

Leia também
Edições anteriores
Boletim Vacinas e Novas Tecnologias de Prevenção Anti-HIV/AIDS - GIV

Edição 32
Fevereiro de 2019

Clique para abrir o
Boletim Vacinas em PDF.

Abrir