INTRODUÇÃO
Atualmente há um número crescente de mulheres que vivem com o HIV tomando antirretrovirais de forma contínua, e de crianças expostas ao HIV. Também a TAR prolongada (durante a gravidez, durante a amamentação e profilaxia infantil com nevirapina por cerca de 6 semanas) continuará crescendo.
Se de um lado a TAR protege as crianças expostas ao HIV contra a infecção, por outro o efeito da exposição prolongada à TAR no seu desenvolvimento neurológico é uma grande preocupação para pais e profissionais de saúde.
Se de um lado a TAR protege as crianças expostas ao HIV contra a infecção, por outro o efeito da exposição prolongada à TAR no seu desenvolvimento neurológico é uma grande preocupação para pais e profissionais de saúde.
Os achados iniciais do estudo randomizado PROMISE-BF mostraram que, embora os esquemas antirretrovirais triplos sejam significativamente mais eficazes na prevenção da transmissão do HIV, houve um risco maior de desfechos adversos na gravidez em comparação com a zidovudina (AZT) isolada. Esses resultados, incluindo baixo peso ao nascer e parto prematuro, podem afetar o desenvolvimento do crescimento.
Resultados subsequentes mostraram que a exposição do lactente à TAR durante um período prolongado de amamentação (até 18 meses) era segura, com transmissão mínima, efeitos adversos mínimos à saúde e alta sobrevida livre de HIV aos 2 anos de idade. No entanto, os resultados do desenvolvimento neurológico ao longo da primeira infância não foram avaliados.
N. do T.: em 2018 a ocorrência de 5 casos de Defeito do Tubo Neural em Botsuana, em fetos cujas mães estavam em uso de Dolutegravir teve repercussão mundial imediata.
O ESTUDO
Para o novo estudo, o professor Michael Boivin e colegas compararam os resultados do desenvolvimento neurológico da exposição antirretroviral antes e depois do nascimento em crianças expostas e não infectadas pelo HIV com crianças não expostas e não infectadas pelo HIV aos 12, 24, 48 e 60 meses de idade.
Todas as crianças eram soronegativas, mas algumas nasceram de mães vivendo com HIV (“expostas ao HIV”) e outras não (“não expostas”).
A coorte foi identificada a partir de dois locais de pesquisa em Maláui e Uganda do estudo PROMISE-BF. Estes são ambientes com poucos recursos que adotaram a Opção B +, na qual a maioria das crianças expostas ao HIV é amamentada por períodos prolongados.
Os dois grupos de bebês foram pareados por idade, sexo e histórico socioeconômico.
Os desfechos primários foram o escore composto cognitivo Mullen Scales of Early Learning (MSEL) aos 12, 24 e 48 meses de idade e o índice de processamento mental para o escore global Kaufman Assessment Battery for Children (KABC-II) aos 48 e 60 meses.
O teste MSEL é utilizado para avaliação longitudinal do desenvolvimento (recepção visual, habilidades motoras grossas e finas, linguagem receptiva e expressiva). O KABC-II avalia os resultados de habilidades cognitivas a partir de uma perspectiva neuropsicológica (memória, processamento visual-espacial e resolução de problemas, aprendizagem (memória imediata e atrasada), índice não-verbal e índice de processamento mental). Ambos foram validados na África Subsaariana.
EXPOSIÇÃO PROLONGADA, RESULTADOS COMPARÁVEIS DO NEURODESENVOLVIMENTO
Um total de 861 crianças foram recrutadas.
Não houve diferenças nos escores compostos cognitivos MSEL de acordo com a exposição à TAR aos 12 e 24 meses de idade (p = 0,19 e p = 0,24, respectivamente para as comparações de todos os grupos). Os grupos foram:
- TAR tripla mais nevirapina infantil;
- TAR tripla mais TAR tripla materna;
- zidovudina mais nevirapina infantil;
- zidovudina mais TAR tripla materna; e
- controles não expostos ao HIV.
Aos 48 meses, no entanto, as pontuações para bebês de mães que não permaneceram na TAR tripla antes e depois do nascimento não foram tão boas quanto as mães que permaneceram na tripla TAR. As médias ajustadas foram 80,6, 81,3 e 85,9, respectivamente (p = 0,049 para a comparação de todos os grupos).
As pontuações compostas de KABC-II (índice de processamento mental) não diferiram aos 48 ou 60 meses de idade de acordo com a exposição (p = 0,81 e 0,89, respectivamente).
Essas descobertas, baseadas tanto no desenvolvimento longitudinal quanto nas avaliações neuropsicológicas, são únicas. Esta é a primeira vez que tais resultados estão disponíveis para crianças expostas e não infectadas pelo HIV com exposição prolongada aos antirretrovirais, observam os autores.
Esta é a primeira vez que tais resultados estão disponíveis para crianças expostas e não infectadas pelo HIV com exposição prolongada aos antirretrovirais
Um estudo de coorte de longo prazo PROMOTE (de crianças que participaram do PROMISE) em sete locais avaliará seu posterior desempenho neurocognitivo durante os primeiros anos escolares.
IMPLICAÇÕES DE SAÚDE PÚBLICA
O Dr. Peter Kazembe, da Fundação Baylor College of Medicine Children no Maláui, em um comentário que acompanha a publicação dos resultados do estudo, observa a significativa importância da saúde pública desses achados.
Os formuladores de políticas podem ter certeza de que os antirretrovirais que eles defendem não causam nenhum dano ao desenvolvimento neurológico ao bebê não infectado. Estes dados apoiam ainda mais a TAR ao longo da vida: os antirretrovirais são bons para a saúde da mãe, impedem a transmissão do HIV à criança e não causam danos à criança a médio prazo. Os profissionais de saúde podem tranquilizar as mães sobre a TAR de que o aleitamento materno prolongado é cientificamente seguro e não prejudicará o lactante.