Capítulo
II
A
fala das mulheres:
Contracepção, aborto, maternidade, sexualidade,
relações de gênero, cidadania e auto-estima
RELAÇÕES DO GÊNERO
A superioridade feminina
Ah! é muito bom, é bom demais, nossa é uma coisa
maravilhosa é bom, a mulher, sei lá, é muita coisa, ela pode ter filhos,
coisa que o homem não pode ter. Eu acho que isso é a coisa mais maravilhosa
que tem, que existe é ser mãe.
Dificuldade...São tantas...A minha situação é tão
difícil, eu não sei se é sair pra trabalhar e deixar os filhos, eu
não sei. A mulher tem uma força muito grande dentro dela, tanto é
que ela tem o dom de dar a luz, gerar um filho. Eu acho que é maravilhoso
isso que Deus nos deu, que é poder né? porque homem não consegue ter
nem uma dor de dente. A gente tem uma força muito grande e não sabe
que tem.
Por meio dos depoimentos, podemos perceber uma posição
claramente bipolarizada. Ou a mulher é submetida numa ordem injusta,
ou declara sua superioridade, mostrando sua capacidade para superar
coisas que o homem não supera. Vale destacar que a possibilidade de
gerar um filho, em vários momentos dos depoimentos foi destacada como
um elemento definidor do feminino e justamente este elemento, um componente
biológico, é utilizado para marcar a superioridade feminina.
Novamente, as representações de gênero são texturizadas
por uma bipolarização infrutífera: a mulher nada pode ou tudo pode;
está em desvantagem ou em vantagem. Não existiria outra perspectiva:
a eqüidade entre os gêneros não seria uma possibilidade?
Todas as representações acima descritas coexistem com
a concepção de eqüidade entre os gêneros, mas esta, quando surge,
aparece mais como aspiração do que como vivência do cotidiano das
mulheres:
É tão gostoso as pessoas saberem que você também
faz parte da sociedade; não, porque a sociedade vê o homem como primeiro...
É você ser mulher é ter participação, sabe junto, estando junto ali.
Na mesma proporção. Não só, você tá como objeto. Então eu acho que
ser mulher, tem que ser respeitada como ser humano, da mesma forma
que o homem.
Na minha cabeça, às vezes eu penso no dia-a-dia
que hoje a mulher está liberal, hoje ela está em condições de assumir
tudo aquilo que ela quer na vida. Antigamente a mulher queria ser
só dona de casa, hoje não, hoje eu acho que a vida da mulher está
muito melhor, hoje a mulher pode encarar tudo, sem embaraço, sem nada.
Eu sinto que a mulher hoje tem mais força. Basta ela querer.
Eu acho que tem coisas que eles não têm costume,
cuidar de uma casa, cuidar de uma roupa. Trabalhando fora os dois,
eu acho que tanto um quanto o outro tem que estar ajudando, limpando
casa, lavando roupa. Essa é minha idéia.
Através das expressões dos depoimentos podemos ver
que a eqüidade é verbalizada como o que deveria ser e não como o que
é : a mulher tem condições de assumir; ela tem que ter direitos iguais;
o homem tem que estar ajudando. As expressões utilizadas não foram:
a mulher assume; ela tem direitos iguais; O homem divide as tarefas.
Mesmo quando as mulheres são independentes parece que
ainda têm dificuldade, experienciam esta independência sem um correspondente
masculino que as trate de forma igualitária. Talvez por isto, no depoimento
das mulheres entrevistadas, as coisas ainda são colocadas no plano
da utopia e do pensamento: na minha cabeça, esta é minha idéia ....