Capítulo
I
Rede
Paulista de Mulheres com HIV/Aids:
Lugar possível de tecer solidariedade, empoderamento e cidadania
PRIMEIRO ANO: Oficinas no
Interior
Em 1996, entendemos que seria importante envolver mulheres
que estavam distantes dos grandes centros, em 12 cidades do interior
de São Paulo2. Devido à desinformação,
elas sofriam constantes violações de seus direitos, discriminação,
preconceito e desamparo.
No primeiro ano da Rede buscamos fazer oficinas sobre
formação de grupos e discutir quais eram as nossas principais necessidades.
Interferimos, “escutamos” esses gritos. Provocamos e sugerimos os
grupos de ajuda mútua como espaço de troca e ajuda efetiva, pois neles
haveria possibilidades de diálogo, solidariedade e fortalecimento.
Os resultados obtidos foram surpreendentes. O nosso
olhar foi para a mulher com HIV/aids e a estética que constituía este
universo3.
As produções que estas mulheres realizaram tornaram-se preciosidades.
Os desenhos, pinturas e esculturas em argila revelaram explicitamente
a condição das mulheres diante de um terrível aprisionamento causado
tanto pela dor física, provocada pela aids, como pela dor moral, provocada
por discriminações, privações de seus direitos e isolamento. Os pedidos
de socorro e ajuda para que pudessem continuar vivendo dignamente
estavam explícitos no trabalho produzido.
A partir desta intervenção atitudes foram tomadas,
grupos foram formados ou fortalecidos. Muitas mulheres passaram a
acreditar que não estavam mais sozinhas e encontraram nos espaços
das oficinas apoio, esperança e ajuda mútua. Enfim, passaram a acreditar
na possibilidade de construir projetos de vida depois do diagnóstico
de HIV.
Outra atividade importante deste primeiro ano foi a
distribuição bimestral do Boletim da Rede que, com uma linguagem bastante
acessível, foi distribuído para mulheres com HIV/aids de todo o Brasil.
Através de cartas, telefonemas e contatos pessoais ficamos sabendo
da importância deste tipo de comunicação entre as mulheres infectadas
pelo HIV, e da relevância das informações e esperança transmitidas
nos artigos publicados.
2
- São elas: Jundiaí, Sorocaba, São José do Rio Preto, Penápolis,
Ubatuba, Marília, Andradina, Diadema, Campinas, Ribeirão Preto, Santos
e Araraquara. 3 - No início, três pessoas trabalhavam nas oficinas no interior:
Nair (pedagoga), Renata (psicóloga) e Abigail (artista plástica).