Capítulo
I
Rede
Paulista de Mulheres com HIV/Aids:
Lugar possível de tecer solidariedade, empoderamento e cidadania
Rede
Paulista de Mulheres com HIV/Aids
O
surgimento de ONG/aids teve um papel fundamental no enfrentamento
da aids. De forma geral, estas instituições possuem, no desenho das
suas ações, características voltadas para a população homossexual,
em função da associação inicial entre a epidemia e os gays.
Dezoito
anos depois do surgimento da aids no Brasil, esta associação mostrou-se
equivocada, e a pandemia atinge um grande número de mulheres, homens
heterossexuais, crianças e adolescentes.
O
percurso da aids, ou melhor, a nossa compreensão sobre o percurso
da aids, foi determinando também o percurso das respostas para o seu
enfrentamento. Neste sentido, trabalhos com mulheres com HIV/aids
só começaram a surgir a partir da constatação da expansão da epidemia
entre as mulheres e das necessidades por elas apresentadas1.
Foi
assim que, em l994, quando o GIV era quase que exclusivamente uma
ONG/aids constituída por gays, surgiu o Toque de Mulher, espaço criado
para amparar as mulheres que chegavam em nosso grupo buscando apoio
e informações diante do desamparo da sociedade, dos serviços de saúde
e de seus familiares.
Se hoje é difícil para uma mulher reconhecer-se soropositiva e buscar
apoio num grupo de ajuda mútua, freqüentado predominantemente por
gays, naquele momento da epidemia era muito mais.
Mesmo
assim, um pequeno grupo de mulheres conseguiu se manter dentro do
GIV e, em 1996, o trabalho do Toque de Mulher teve uma ampliação,
decorrente da criação da Rede Paulista de Mulheres com HIV/aids, por
meio de um projeto financiado pelo Ministério da Saúde.
O
intuito da Rede é fortalecer as mulheres com HIV/aids, criar e ampliar
espaços de troca e reflexão sobre cidadania, valorização da vida,
relações de gênero, empoderamento, sexualidade e questões ligadas
ao HIV e à aids, tais como gravidez, aderência ao tratamento, acesso
à saúde integral, capacitação profissional, organização das mulheres
em grupos, solidariedade etc.
A
seguir, apresentamos uma síntese das principais atividades da Rede
e no final do capítulo retomamos a discussão sobre a convivência entre
homens homossexuais e mulheres heterossexuais no GIV.
1 - Sobre a feminização da epidemia
ver VILLELA, 1996; PARKER E GALVÃO, 1996.