Um estudo apresentado na Conferência virtual HIV Pesquisa para a Prevenção (HIVR4P, sigla em inglês) em janeiro de 2021, mostrou que o islatravir como PrEP pode ser administrado muito facilmente como uma pílula que só precisa ser tomada uma vez por mês.
A professora Sharon Hillier, da Universidade de Pittsburgh, apresentou os resultados de um estudo de Fase IIa baseado nos Estados Unidos, cujo objetivo foi estabelecer o nível e a persistência do islatravir no sangue e nos tecidos de 250 voluntários com idades entre 18 e 65 anos que apresentavam baixo risco de infecção pelo HIV.
Os dados sobre os níveis de fármaco no plasma sanguíneo disponíveis correspondiam a 192 pessoas até o final de outubro, que foi a data mais recente de análise.
Os voluntários foram divididos em três grupos:
- 50 voluntários receberam, cada um, seis doses orais mensais de comprimidos de islatravir de 60mg;
- 50 voluntários receberam, cada um, seis doses orais mensais de comprimidos de islatravir de 120mg,
- 50 receberam um placebo.
Após a sexta dose, os níveis do medicamento continuaram a ser medidos por mais três meses, enquanto os participantes e pesquisadores ainda estavam “cegos”, ou seja, não sabiam em qual braço do estudo estavam.
Depois os níveis continuarão sendo medidos, por mais cinco meses, mas o estudo não será mais cego, mas aberto.
Com base em estudos de Fase I de dose única, os níveis do medicamento ao longo de cada mês e seu intervalo foram projetados para ficar bem acima do nível de 0,05 picomoles de medicamento por milhão de células T, que é o limite de eficácia.
Mol (ou mole): (química) unidade básica de qualquer substância.
Picomole: trilionésima parte de um mol.
O objetivo do estudo de Fase II era ver o quão próximos os níveis reais do medicamento se ajustavam a este modelo.
As 192 pessoas cujos resultados foram apresentados tinham uma idade média de 32 anos, e dois terços delas eram mulheres. Quase dois terços (64%) eram brancos, dos quais um em cada seis eram de origem latina, enquanto 30% eram negros; apenas alguns eram mestiços ou de outras etnias.
Os efeitos colaterais mais comuns relatados foram sintomas gastrointestinais (náuseas, dor de estômago, diarreia) e dor de cabeça.
Islatravir não é isento de efeitos colaterais: mais da metade (53%) relatou pelo menos um evento adverso, que pode ou não estar relacionado ao medicamento. Os efeitos colaterais mais comuns relatados foram sintomas gastrointestinais (náuseas, dor de estômago, diarreia) e dor de cabeça. Dois descontinuaram o medicamento devido a eventos adversos, um devido a uma erupção cutânea e quatro tiveram aumentos transitórios nas enzimas hepáticas. No entanto, nenhum evento adverso foi classificado como severo. Seis outros interromperam o estudo antes do tempo por motivos não relacionados a efeitos colaterais.
Os principais dados relatados à HIVR4P foram os níveis do medicamento relatados imediatamente após a dosagem e a cada semana durante o primeiro e o sexto mês do ensaio. Para os meses intermediários, apenas os níveis mínimos (ou seja, aqueles correspondentes ao dia imediatamente antes de tomar a próxima dose) foram medidos.
Os níveis mínimos de cada mês foram:
- Para a dose de 60 mg/mês foi 20 vezes o limite de eficácia estimado;
- Para a dose de 120 mg/mês foi da ordem de 40-50 vezes o limite de eficácia.
Os níveis não aumentaram nem diminuíram ao longo dos seis meses, com níveis de pico e vale notavelmente consistentes.
“A dose mensal é indulgente o suficiente como para que as pessoas possam se atrasar em algumas semanas até a próxima dose.”
Em uma minoria de voluntários, os dados estavam disponíveis para os níveis do medicamento até 28 semanas, ou seja, oito semanas após a última dose. Esses níveis ainda eram quatro a cinco vezes o limite de eficácia estimado. Hillier disse que isso mostra que “a dose mensal é suficientemente indulgente para que as pessoas possam se atrasar algumas semanas para tomar a próxima dose”. Um subgrupo de 54 participantes teve biópsias feitas para medir os níveis do fármaco nos tecidos retais e vaginais e também os níveis intracelulares, mas esses resultados ainda não estão disponíveis. Os estudos de Fase I indicam como improvável que os níveis plasmáticos sejam substancialmente diferentes.
ESTUDO DE EFICÁCIA
Em termos de eficácia contra o HIV, até agora os únicos dados vêm de macacos, que foram protegidos da infecção viral pelo islatravir mensal.
No entanto, estudos de eficácia em humanos são iminentes. O estudo IMPOWER 022 recrutará 4.500 mulheres cisgênero nos Estados Unidos e na África Subsaariana, e o estudo IMPOWER 024 recrutará 2.000 homens gays e bissexuais e mulheres trans em vários países. Ambos irão comparar a eficácia do islatravir mensal contra tenofovir disoproxil fumarato (TDF) / entricitabina ou, no caso do IMPOWER 024, TDF ou tenofovir alafenamida (TAF) mais entricitabina. A inscrição de participantes dos EUA no IMPOWER 022 começou em fevereiro, os participantes africanos alguns meses depois disso e o IMPOWER 024 começará a inscrever no final de setembro deste ano.
A dose testada será de 60 mg porque foi considerado que 120 mg provavelmente não forneceria uma eficácia significativamente maior para valer a pena correr o risco de efeitos colaterais mais frequentes.
Em termos de como a PrEP de islatravir oral mensal será fornecida (presumindo que seja eficaz), Hillier disse: “Prevemos que as pessoas possam ir a uma farmácia uma vez por mês e tomá-lo ali mesmo ou levá-lo para casa com elas. Isso seria ideal para pessoas que não querem uma injeção, mas também não querem arriscar a descoberta de um frasco de comprimidos.”
REFERÊNCIAS:
• Hillier S et al. Trial design, enrolment status, demographics, and pharmacokinetics (PK) data from a blinded interim analysis from a phase 2a trial of Islatravir once monthly (QM) for HIV pre-exposure prophylaxis (PrEP). HIV Research for Prevention (HIVR4P) virtual conference, abstract OA04.05, 2021.