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Mulheres devem procurar ajuda
15/06/2003 - CORREIO BRAZILIENSE
Especialistas podem esclarecer dúvidas em relação às disfunções.
Carmen de Souza e Guaíra Índia Flor
Da equipe do Correio
A mesma pesquisa do Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP) que mostra que mais de 50% das mulheres sofrem algum tipo de disfunção sexual traz também índices importantes que ajudam a resolver parte desse problema. De acordo com o levantamento, 58% das mulheres entendem que o consultório é o melhor lugar para expôr as angústias sexuais. E que ginecologistas e sexólogos estão prontos para ajudar a esclarecer quaisquer dúvidas. Aliás, estes profissionais costumam trabalhar em conjunto. O médico descobre se está tudo bem fisiologicamente. O terapeuta checa se o problema tem origem traumática — abuso sexual, por exemplo — ou cultural.
Algumas pacientes, no entanto, esbarram em profissionais despreparados. Ao contarem as queixas sexuais para os médicos, cerca de 20% das entrevistadas não receberam qualquer tipo de orientação. Alguns simplesmente não sabiam como ajudar, outros disseram se tratar de algo passageiro. Houve, até mesmo, aqueles que apressaram o atendimento para não ter de falar sobre o assunto.
"Os ginecologistas têm de se preparar para ajudar essas pacientes porque eles terminam vistos como uma espécie de conselheiro", afirma Lucila Nagata, presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Brasília. "Se a cliente confia nele para falar sobre assuntos tão íntimos, ele precisa retribuir orientando-a da melhor maneira possível."
Kátia, 27, já teve vários parceiros mas nunca sentiu prazer ou dor. O sexo, para ela, é fonte apenas de ansiedade. "Queria ter vontade de fazer, mas não tenho", diz. "Me sinto mal porque sei que é normal sentir prazer, só que tenho um bloqueio."
Sempre que vai para cama, Kátia fica tensa. No fundo, ela acha tudo aquilo muito sujo. A família, da Paraíba, sempre ensinou que moça direita não fazia certas coisas. As amigas, no entanto, vivem falando das peripécias sexuais. Resultado? Kátia fica dividida e com a auto-estima baixa. "Não me sinto uma mulher completa."
O sentimento de inferioridade, aliás, é umas das principais queixas apontadas por mulheres que assumem ter algum tipo de disfunção sexual (39,2%). Em seguida, vem o medo de ter afetada a relação com o parceiro (39%) e, até mesmo, a performance no ambiente de trabalho (12,8%). Para Kátia, no entanto, a questão é sobretudo pessoal. Solteira e sem namorado, ela procurou ajuda para primeiro se descobrir. Há seis meses em tratamento, já teve coragem de se masturbar, mas ainda desconhece o tão falado orgasmo. Por isso, considera-se "frígida".
"Na minha experiência de 14 anos de consultório, percebi que não existe essa história de frigidez", afirma Lucila Nagata, presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Brasília. "Noventa e nove por cento das mulheres têm capacidade de sentir prazer." Para algumas, a chance de sentir-se "completa" embaixo dos lençóis acontece depois de uma visita ao ginecologista. É que problemas orgânicos também são capazes de interferir nos desejos femininos. Os mais comuns são infecções genitais, cistos no ovários e alterações hormonais. Mas há casos de rupturas em terminações nervosas durante o parto normal e atrofia do clitóris, também chamada de fimose feminina.
Algumas mulheres têm recorrido aos estimulantes masculinos em busca da solução de seus problemas sexuais. A alternativa chamou a atenção da equipe de pesquisadores da Pfizer, laboratório que produz o Viagra. Em uma pesquisa realizada com 202 norte-americanas eles descobriram que 57,4% das voluntárias se sentiram mais estimuladas e tiveram aumento da lubrificação vaginal ao tomarem a famosa pílula azul. Os planos da Pfizer são lançar o Viagra feminino em um ano.
"Não sei se o remédio é a melhor solução, mas acho que vai vender que nem água", diverte-se Lucila. A maioria dos especialistas alertam: os comprimidos de orgasmo femininos não podem servir de muleta. Vale mais à pena investir em uma solução duradoura, embora não imediata, como as terapias ou tratamentos ginecológicos.
Há duas semanas, Leandra, 48 anos, matriculou-se em curso de artes sensuais. Motivação? Evitar que a relação com o segundo marido caia na mesmice e curtir as coisas boas da vida. "Passei muito tempo me preocupando em trabalhar e fingir orgasmos", conta. "Hoje, cuido de mim. Posso até mesmo sentir prazer sozinha."
Evolução do prazer feminino
2 d.C. - Galeno desenvolve a mais importante teoria sobre as semelhanças na estrutura dos órgãos genitais de homens e mulheres. Ele afirmava que a mulher tinha testículos acompanhados de canais seminais iguais aos do homem, um em cada lado do útero.
1559 - Descoberta do clitóris por Readolus Colombus. O médico diz que a descoberta é a "sede do deleite das mulheres". No século 16, no entanto, o órgão não tinha um nome. Era chamado de crista, female pênis, coluna e outros termos associados ao órgão sexual masculino.
Século 17 - Jane Sharp escreve, em 1961, o livro da parteira e se refere ao clitóris como pênis feminino
Século 18 - Pierre Roussel estuda os dois corpos ovais presentes em cada lado do útero e os chama de ovário. O útero, nessa época, é encarado como principal órgão feminino. O objetivo é definir as especificidades do corpo feminino destacando a maternidade
1803 - O médico Jacques Moreau de la Sarthe, autor de A História Natural da Fêmea, vai contra Aristóteles e Galeno ao afirmar que há mais diferenças que igualdades entre homens e mulheres. Para o médico, as diferenças englobam do corpo, da alma, de aspectos físicos e morais.
Século 20 - As informações sobre sexualidade feminina variam conforme as características da época. Nas décadas de 70 e 80, momentos de explosão feminista, o clitóris ganha destaque. Nos anos 30 e 50, por exemplo, os discursos são de mulheres sem desejo e sem tesão
Fonte: "Os Mistérios do Corpo Feminino, ou as Muitas Descobertas do Clitóris", de Margareth Rago