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A MULHER E A AIDS

02/12/2002 - BBC Brasil

Combate à Aids em mulheres esbarra em questão cultural

Não adianta falar em abstinência para um povo tradicionalmente polígamo. Não adianta falar de relações seguras quando as mulheres precisam praticar relações sexuais em troca de comida.
Especialistas consultados pela BBC Brasil dizem que a situação da epidemia de Aids entre as mulheres, principalmente na África, passa por questões culturais e fórmulas prontas não vão funcionar.
A questão das mulheres foi destaque no último relatório da Unaids, o Programa das Nações Unidas para a Aids.
O problema do aumento da contaminação entre as mulheres é considerado alarmante, principalmente na África subsaariana onde para cada dez homens, 13 mulheres estão contaminadas.
O diretor da Unaids em Angola, Alberto Estrela, diz que a questão cultural tem contaminado núcleos familiares inteiros.
"A questão de Angola é bem parecida com boa parte do resto da África subsaariana. Estamos verificando o aumento de infecções entre o gênero feminino. E não é de estranhar. O padrão de relacionamento social que existe de sexualidade existente permite que isso aconteça", explicou Estrela.

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Valorização

Já o consultor e ex-diretor do Programa Nacional DST-Aids, Alexandre Grangeiro,
acha que a valorização da mulher é um dos pontos básicos no combate à epidemia de Aids.
"É preciso buscar a valorização da mulher na sociedade, buscar formas das mulheres garantirem o uso de preservativos e que a mulher tenha uma inserção social mais importante", e completou.
"E essa questão não é simplesmente econômica. É uma questão cultural na África. O papel da mulher é muito diminuto."
Grangeiro, que esteve recentemente em Angola acompanhando os trabalhos que estão sendo realizados no país, lembra que um dos problemas no continente africano é a falta de reconhecimento, por parte da própria população, da gravidade da epidemia de Aids.
"É freqüente ainda na África se ter um comportamento de não acreditar na existência da doença, de acreditar que é uma doença ocidental, de branco, que está sendo criada para acabar com a África", diz o especialista.
Para Grangeiro, a aplicação de modelos prontos, principalmente na África, não funciona. É necessário adaptar os programas às realidades locais, e adverte:
"Nós não vamos conseguir hoje fazer uma frente internacional para a África, achando que vamos transportar modelos europeus ou mesmo do Brasil para serem aplicados na África. É preciso fazer com que esses modelos sejam adaptados para os países, o que é um grande desafio", finalizou.
O último relatório da Unaids mostrou um aumento no número de portadores do vírus HIV em todo o mundo, chegando a um total de 39,1 milhões.
O crescimento foi maior entre as mulheres, que representam neste ano 47,3% do total de adultos com HIV, uma incidência recorde. As mulheres com o HIV são 17,6 milhões, de um total de 37,2 milhões de adultos.

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Brasil

Nos últimos dois anos, a incidência de mulheres com HIV tem aumentado em todas as regiões do globo. No Brasil, segundo o relatório, também houve um aumento de casos entre as mulheres, devido ao crescimento no número de casos de transmissão do vírus em relações heterossexuais.
De acordo com o relatório divulgado na terça-feira no Boletim Epidemiológico da Aids 200, do Programa Nacional DST-Aids o número de mulheres infectadas pelo vírus HIV é o maior desde a década de 80, quando começou a epidemia de Aids no Brasil.
Apenas nos primeiros seis meses deste ano já foram registrados 5.538 casos de Aids em mulheres.
Devido à contaminação feminina, foram registrados 201 casos entre crianças de até 13 anos, no primeiro semestre deste ano. Trata-se da chamada transmissão vertical, que passa de mãe para o filho. Em 2003, foram 519 casos de transmissão vertical