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PESQUISA DE VACINA NO BRASIL
01/12/2004 - Folha de São Paulo
Resultados no Recife contém HIV em 18 pessoas
Uma vacina desenvolvida e testada no Brasil conseguiu ativar o sistema imunológico de 18 pacientes infectados com o HIV, vírus causador da Aids, reduzindo neles a presença do patógeno em pelo menos 80%. Em oito dos voluntários, chegaram-se a registrar níveis indetectáveis do vírus.
O resultado é considerado extremamente promissor no desenvolvimento de terapias alternativas à contenção da infecção, mas ainda precisa percorrer um longo caminho de pesquisa antes de ser adotado pelos médicos. "Precisamos tomar muito cuidado com o desencadear de ilusões. Ainda temos um longo caminho pela frente", diz Luiz Cláudio Arraes, pesquisador da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e co-autor do estudo, publicado on-line ontem pelo prestigioso periódico científico britânico "Nature Medicine" (medicine.nature.com).
O trabalho, realizado com pacientes no Recife que não haviam ainda recebido prescrição de medicamentos para combater a infecção, foi realizado em parceria com cientistas da Universidade de Paris 5 e financiado com uma doação de um paciente francês.
"A novidade da abordagem foi que não nos concentramos em bater no vírus, como faz a maioria dos remédios, mas em estimular, organizadamente, o sistema imunológico", conta Arraes.
A estratégia foi extrair de cada paciente uma certa quantidade de células dendríticas -unidades do sistema imunológico que são responsáveis por "denunciar" os invasores às células de defesa-, assim como uma amostra do vírus com que o paciente estava contaminado. Dentro do organismo, normalmente, o HIV consegue matar as células dendríticas antes que elas executem seu trabalho. Fora, os cientistas não pretendiam deixar que isso ocorresse.
Desativaram a amostra do vírus quimicamente, de modo que ele se tornasse inócuo, mas ainda assim reconhecível. Colocaram-no então junto com as células dendríticas por dois dias, de modo que as "fiscais" do organismo pudessem obter um belo "retrato falado" do delinqüente. Depois disso, voltaram a injetar as células, já treinadas para "dedurar" o vírus, no paciente. Deu resultado.
Ao que tudo indica, o sistema imunológico aprendeu a identificar mais rapidamente o HIV e a combatê-lo. Não foi o suficiente para erradicá-lo (não se trata, portanto, de uma cura), mas pelo menos fez baixar radicalmente a carga viral no organismo. Dos 18 pacientes testados, todos tiveram uma redução média de pelo menos 80%. Nos oito com melhores resultados, a carga viral teve uma redução de mais de 90% e, em alguns momentos, chegou a dar "traço" (indetectável).
Os pacientes foram acompanhados por um ano e mantiveram alguma melhora durante todo o período. Além disso, não apresentaram efeitos colaterais significativos, além de um inchaço dos nódulos linfáticos.
Esse foi um estudo de fase 1, das quatro pelas quais passa qualquer novo medicamento. Qualificado pelos próprios pesquisadores de "preliminar", ele tem por meta verificar a segurança da administração da vacina terapêutica, mais até do que sua eficácia.
Os pesquisadores agora se preparam para a condução da fase 2, que também ocorrerá no Recife e terá cerca de 20 pacientes. O objetivo desta vez será determinar a dose mais adequada para a realização do tratamento.