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AIDS ENTRE NEGROS E PARDOS
01/12/2004 - UOL Noticias
Dados do boletim epidemiológico
Pela primeira vez, o boletim epidemiológico de Aids do Ministério da Saúde traz informações sobre a doença, segundo cor e raça, revelando que a epidemia vem crescendo entre a população negra e parda. O levantamento aponta ainda que há uma tendência de estabilização da doença entre os brancos.
De acordo com o boletim, a população branca continua sendo o maior grupo de infectados (51,35%). Negros e pardos somam 33,44% do total de casos, e os índios, apenas 0,17%.
"Essa tendência de aumento [entre negros e pardos] também está associada à transmissão heterossexual e à condição de escolaridade", acrescentou o diretor do Programa Nacional de DST/Aids, Pedro Chequer.
O boletim revela que, em 2003, 32.247 pessoas foram infectadas pelo HIV. Apenas nos primeiros seis meses de 2004, quase 14 mil novos casos foram notificados. Apesar de ainda se manterem em um patamar elevado, os dados indicam que a epidemia de Aids está em processo de estabilização.
Pedro Chequer disse que, apesar da redução de casos em alguns grupos, como usuários de drogas e homossexuais, ainda não se pode falar em controle da doença.
Homens e mulheres
Segundo o ministério da Saúde, os números da Aids entre homens demonstram a tendência de estabilização. Em 1998, foram notificados 21.056 casos, contra 19.648 em 2003. Até junho deste ano, o registro é de 8.306 casos. Essa estabilização pode ser vista principalmente na categoria de exposição homo/bissexuais.
A porcentagem de casos entre homens que fazem sexo com homens, que era de 30% em 1998, caiu para 25% em 2004. Já entre os homens da categoria heterossexual, o índice tem crescido. Nesse mesmo período, foi observado um aumento de 30% para 42%.
Entre as mulheres, por outro lado, o número de casos é o maior desde o início da epidemia. Enquanto em 1998 havia 10.566 registros, em 2003 esse número chegou a 12.599. Até junho de 2004, mais 5.538 casos já tinham sido notificados. A proporção entre homens e mulheres, que era de 16 casos em homens para cada mulher, no começo dos anos 80, atualmente é de dois para um. Esses números demonstram a importância da mobilização do Dia Mundial de Luta contra a Aids, comemorado em 1º de dezembro, que tem como tema este ano "Mulheres, meninas, HIV e Aids".
Entre os usuários de drogas injetáveis, o número de casos de Aids vem mantendo a tendência de queda observada nos últimos anos. A porcentagem de casos nessa categoria de exposição, que era de 27% em 1994 (no sexo masculino), desceu para 13% em 2004. Entre as mulheres da mesma categoria, o índice de uma década atrás era de 17%. Hoje, é de apenas 4,3%.
Já a taxa de mortalidade aponta para um quadro de estabilidade, nos últimos anos. No público masculino, o índice registrado em 2003 é o mesmo de 2001 - 8,8 mortes a cada grupo de 100 mil homens. Entre as mulheres, houve um discreto aumento: em 2001, foram 3,9 óbitos por 100 mil mulheres; em 2003, o total registrado foi de 4 mortes a cada 100 mil mulheres.
Situação regional
Considerando a taxa de incidência da Aids (número de casos da doença por grupo de 100 mil habitantes), o crescimento da epidemia é observado em todas as regiões do país, exceto no Sudeste, onde há estabilização com tendência de queda. Entre 1998 e 2003, a taxa de incidência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo caiu de 29,4 para 24,3. No mesmo período, o Nordeste apresentou um discreto aumento na incidência, que passou de 6,7 para 6,8.
Nas demais regiões, a taxa de incidência da Aids só aumentou, no comparativo entre 1998 e 2003. No Sul, saltou de 24,9 para 26,6 (crescimento de 6,8%). No mesmo período, o Centro Oeste viu seu índice saltar de 13,9 para 19,9 (mais de 43% de aumento). O Norte experimentou o maior crescimento (46,6%) na taxa de incidência: passou de 6,0 para 8,8 casos a cada 100 mil habitantes. A taxa de incidência deve ser mais levada em conta do que o número absoluto de casos porque revela o risco de determinada população ter a doença.
Faixa etária
No corte por idades, o boletim epidemiológico revela algumas diferenças entre os sexos. Nos homens, observa-se um certo deslocamento do aumento na taxa de incidência para a população acima de 40 anos. Os indivíduos masculinos na faixa dos 40-49 anos apresentam taxa de incidência estável: 51,0 em 1998; 50,9 em 2003. Já na faixa dos 50-59 anos registra aumento no mesmo período: a taxa passa de 25,2 para 26,4. Considerando todas as faixas etárias, a taxa geral de incidência caiu de 26,4 para 22,6 em cada grupo de 100 mil homens.
Entre 1998 e 2003, o aumento da taxa de incidência na população feminina deslocou-se para os grupos acima dos 30 anos. Nas mulheres, há crescimento da taxa de incidência em todas as faixas etárias a partir dessa idade. A exceção é entre as jovens, que demonstram discreta queda do indicador nos grupos entre 13 e 29 anos. Considerando todas as faixas etárias, a taxa geral de incidência subiu de 12,9 para 14,0 em cada grupo de 100 mil mulheres.