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ERRO EM TESTE DE HIV
20/10/2004 - A TRIBUNA DA IMPRENSA
Casal processa Prefeitura do Rio por erro em teste de HIV
Aos seis meses de gravidez, a dona de casa Lilian Fonseca, de 28 anos, recebeu o resultado do exame de sangue feito no pré-natal num hospital municipal do Rio: ela era HIV positivo. E a médica ainda informou que o bebê já poderia estar contaminado, por causa da gravidez já avançada. Lilian expulsou o marido de casa e pensou em abortar o filho.
Pouco antes de o bebê nascer - hoje um garoto saudável de oito meses -, a contraprova revelou que o primeiro teste, feito no Hospital Municipal de Piedade, estava errado. O novo exame deu negativo. O casal está processando o município.
"O nascimento do nosso filho era para ser o momento mais importante da nossa vida, e foi o pior pesadelo que nós já vivemos. Eu sabia que não tinha Aids, faço o teste todo ano pela minha empresa, mas foi duro para a Lilian acreditar em mim", contou o vendedor Anderson Amaral, de 31 anos, que também se submeteu a novo exame.
Lilian coletou sangue para os exames do pré-natal em 27 de junho de 2003, mas só em outubro, quando já havia ido a outras duas consultas no posto de saúde Eduardo Araújo Vilhena Leite, em Piedade, foi avisada do resultado dos testes. A Secretaria de Saúde informa que ela deveria ter buscado o resultado, que ficou pronto em 1º de julho, no hospital. Mas Lilian disse que foi orientada a esperar, já que os documentos seguiriam direto para sua médica, no posto.
Confusão
A dona de casa acreditava que a quarta consulta seria rotineira como as outras. Mas ao chegar, a médica perguntou se ela estava acompanhada e pediu que o marido entrasse. "Chorei muito quando ela explicou o que estava acontecendo. Vieram a psicóloga e a assistente social. A médica sugeriu que eu fizesse um novo exame e disse que havia grande chance de o resultado estar errado. Quer dizer, isso sempre acontece no município", acredita.
Lilian disse que o atendimento no Hospital da Piedade estava confuso no dia em que foi coletado o sangue. "Havia oito estagiários, umas 20 pessoas para fazer exames e aqueles tubinhos todos juntos. Eles podem ter trocado o meu teste. E o pior é que a pessoa que tem o sangue contaminado pode estar até hoje sem diagnóstico". Quando fez a coleta de sangue para a contraprova, Lilian contou que estava sozinha numa sala do posto de saúde e foi atendida pela enfermeira-chefe.
A dona de casa disse que passou os 45 dias seguintes ao resultado do exame em depressão, chorava dia e noite. "Minha vida estacionou. Não comprei roupinhas para o meu bebê, não arrumei o quartinho dele. Mandei meu marido embora de casa. Ele ficou, mas não foi a mesma coisa entre nós. Ficamos distantes. Eu pensava que podia morrer logo e deixaria meu filho órfão. Me perguntava como eu, doente, cuidaria dele. Estava decidida a abortar o bebê", contou.
O sofrimento do casal contagiou toda a família. "Minha irmã chorava toda as vezes em que me via". Ela e o marido só voltaram a curtir o nascimento do primeiro filho nos últimos meses de gestação. Em novembro, saiu o resultado do novo exame.
Nenhum dos dois era HIV positivo. Lucas nasceu em fevereiro. "Pensei em deixar essa história para lá. Meu filho era saudável. Mas foi a minha médica mesmo quem me aconselhou a entrar com o processo. Ela disse: você não foi a primeira nem será a última'. Espero que nenhuma mulher passe pelo que eu passei", disse.
A Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que foram testados quatro amostras de sangue de Lilian pelo método Elisa. Todos deram positivo. A assessoria informou ainda que, como poderia haver "algum problema com as amostras", Lilian foi chamada para refazer o exame pelo método Western-blot (mais específico que o Elisa), no Hospital de Piedade, mas não retornou àquela unidade. Lilian nega. "Nunca recebi telefonema ou telegrama", afirmou.