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REMÉDIOS PROVOCAM PERDA DE TECIDO
03/09/2004 - Folha de São Paulo
Efeito do coquetel contra Aids pode gerar novo estigma
A Sociedade Brasileira de Infectologia está preocupada com a possibilidade de os efeitos colaterais do coquetel de medicamentos contra a Aids originarem um novo "estigma" para a doença.
Segundo o presidente da entidade, João Mendonça, o coquetel provoca distúrbios funcionais das células gordurosas, com perda acentuada desse tecido nas laterais da rosto (bochechas).
De acordo com Mendonça, a perda da gordura da face é comum aos usuários dos medicamentos contra Aids e surge após dois ou três anos de tratamento.
A preocupação está na possibilidade de se repetir o que aconteceu nos primeiros anos da epidemia, quando a magreza repentina e acentuada de uma pessoa era tratada com preconceito.
"A discussão atual é como reverter essa situação." Segundo ele, algumas pessoas já estão recorrendo a cirurgias plásticas para tentar atenuar os efeitos.
Ainda de acordo com Mendonça, outro problema em discussão são as eventuais conseqüências do aumento de triglicerídeos e colesterol no sangue, provocado pelo uso dos remédios.
Para o infectologista, que participou do 5º Congresso Brasileiro de Prevenção em DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids, encerrado ontem em Recife, é preciso saber se há ligação entre os remédios, infartos e AVCs (acidentes vasculares cerebrais).
Mendonça, entretanto, ressaltou a importância do coquetel. Em cinco anos, o médico acredita que poderá haver resultado com vacinas que imunizem parte das pessoas submetidas às aplicações.
Religião e Aids
No congresso, os conflitos sobre os métodos de prevenção defendidos por religiosos e cientistas também foi abordado.
Contrariando o Vaticano, o frei Luiz Carlos Lunardi, assessor nacional da Pastoral da Aids, ligada à Igreja Católica, disse que a entidade em que trabalha não é contra o uso de preservativos como proteção contra Aids. "É papel da igreja e também do governo esclarecer as pessoas para que elas decidam qual o melhor método."
Para o diretor-adjunto do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Raldo Bonifácio, "a ciência também precisa reconhecer o trabalho da igreja".