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VULNERABILIDADE

09/08/2004 - Agência Aids

NY Times destaca a vulnerabilidade dos negros diante da aids

O jornal norte-americano The New York Times traz como destaque neste sábado, 7, a vulnerabilidade dos afro-americanos perante a Aids. Em 2002, quase duas vezes mais negros morreram por causa da doença em comparação com os brancos. As mulheres aprestaram índices ainda maiores. No Brasil, um estudo realizado no estado de São Paulo também revelou que as negras são mais vulneráveis ao HIV. Veja na íntegra a reportagem publicada no site IG.
Em janeiro passado em Manhattan, em um funeral de um colega que havia morrido de doença relacionada à Aids, Josephn Bostic não sentiu as pernas e teve problemas para permanecer de pé. Um amigo, Keith Cylar, chamou um táxi, deu algum dinheiro para o motorista e enviou Bostic de volta para casa no Brrokyn. Dois meses depois, Bostic morreu de falência no coração e nos rins relacionada ao HIV, o vírus que causa a Aids. Em três semanas, Cylar também morreu de doença no coração relacionada ao vírus.
A perda desses dois ativistas da Aids que viveram com o HIV por anos chocou muitos que haviam quase esquecido os dias em que comparecer a funerais e missas era um ritual constante e preocupante. Nos Estados Unidos, os índices de mortes por HIV/AIDS caíram drasticamente nos últimos oito anos enquanto novos remédios tornaram a doença administrável para muitos pacientes.
Mas entre os afro-americanos como Bostic e Cylar, a Aids ainda é mortal. Em 2002, quase duas vezes mais negros morreram de Aids comparado com os brancos – um descompasso que tem crescido desde 1998. Os pesquisadores afirmam que as razões incluem o diagnóstico tardio e cuidado inferior, junto com complicações já que os negros são mais prováveis do que os brancos de sofrer de outras doenças. “A área em que a minha clínica está é essencialmente um subúrbio do Terceiro Mundo”, disse o Dr. Joseph C. Gathe Jr., um médico de doenças infecciosas em Houston e diretor de uma clínica de Aids sem fins lucrativos. “É uma vergonha que ninguém saiba que o problema na África se parece com o problema em Houston, Chicago e Nova York”.
Apesar dos afro-americanos totalizarem um pouco mais de 12% da população americana, eles somaram 54% dos 40.000 novos diagnósticos de HIV/AIDS em 2002, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Da estimativa de 385.000 pessoas vivendo com Aids, 42% são afro-americanos. Para eles, a doença leva desproporcionalmente à morte.
Entre os homens negros entre 25 e 44 anos, o índice de morte de HIV/AIDS é mais de seis vezes maior do que para os brancos. Para as mulheres negras no mesmo grupo etário, os números são ainda mais impressionantes: o índice de morte é mais de 13 vezes maior em comparação com as brancas.
O Dr. Daniel Kuritzkes, diretor de pesquisa de Aids no Hospital Feminino Bringham em Boston e professor-associado na Faculdade de Medicina de Harvard, diz acreditar que há dois caminhos diferentes e desiguais para o tratamento e cuidado do HIV nos Estados Unidos. “No campo ideal, uma pessoa descobre que está infectada com o HIV, busca ajuda médica, tem consultas de acompanhamento regulares e evita complicações ao entrar em um regime confiável, que ele ou ela é capaz de tolerar. Há muita expectativa de que essa pessoa levará uma vida normal”, disse ele.
Mas outros seguem um caminho mais perigoso. “São pacientes que vêm ao hospital com a Aids no pico em seu diagnóstico inicial”, disse Kuritzkes. “Eles podem ter acesso limitado à assistência porque não têm dinheiro ou porque outros problemas sociais ou médicos interferem. Em grande parte, as mortes estão entre esse grupo, que tende a ser de afro-americanos”.

Fonte: The New York Times


Pesquisa mostra mulheres negras mais vulneráveis ao HIV em SP

Um estudo realizado pela bióloga Fernanda Lopes com 1.068 mulheres (542 negras e 526 não-negras) maiores de 18 anos atendidas em serviços públicos de referência para o tratamento de DST/AIDS do Estado de São Paulo mostrou que as negras são mais vulneráveis ao HIV
A bióloga recolheu dados referentes a essas mulheres entre setembro de 1999 e fevereiro de 2000 e analisou separadamente as informações coletadas em dois grupos: negras e não-negras. Com isso, detectou a existência de fatores que contribuem para que mulheres afro-brasileiras com HIV/AIDS estejam mais vulneráveis à infecção ou ao adoecimento.
Entre esses fatores, Lopes destaca dificuldades de acesso à educação formal, condições de moradia e habitação menos favoráveis, baixo rendimento individual e familiar per capita, responsabilidade pelo cuidado de um maior número de pessoas. O estudo também identificou que mulheres negras têm mais dificuldade de acesso ao teste diagnóstico e que, após saberem que são soropositivas, deixam de receber informações importantes para melhoria de sua qualidade de vida.
Segundo a pesquisadora, o perfil da Aids em mulheres mostra que mais de 70% delas têm baixa escolaridade. "A população negra em geral apresenta menor nível de instrução. Quando os números da Aids puderem ser analisados segundo o critério raça/cor das pessoas, provavelmente encontraremos mais mulheres negras entre aquelas que têm baixa escolaridade. No caso das mulheres com alta escolaridade, provavelmente a maioria será não-negra, como ficou demonstrado neste estudo realizado em São Paulo".
Fernanda Lopes é, atualmente, consultora local em saúde da população negra em um projeto da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Governo do Reino Unido.