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TRABALHOS APRESENTADOS

21/07/2004 - GIV

XV Conferência Internacional de AIDS

Conferência de Bangkok
Resumos de trabalhos apresentados

Ciência básica

Ressaltaram a complexidade da interação entre o vírus e o sistema imunitário.
Os dados apresentados ressaltaram não somente a profundidade do conhecimento ganho sobre as respostas das células T CD8 contra o HIV mas também a capacidade do vírus de contornar estas respostas. Similarmente apresentações sobre respostas de citocinas e quemoquinas evocadas em resposta ao vírus indicam que o HIV também tem grande habilidade para se adaptar nestes aspectos das defesas da pessoa infectada. A diminuição e a desregulação das respostas de células T CD4+ limita mais ainda a adaptabilidade da resposta imunitária ao alvo variável que o vírus apresenta, como eventual envelhecimento da resposta imunitária adaptativa.
A resposta imunitária inata, que tem sido relativamente menos estudada pode fornecer dados sobre outros fatores importantes para o controle viral e portanto rotas alternativas para o desenho de imunoterapias e vacinas. A necessidade de um entendimento mais avançado dos papéis das células dendríticas, interferons e fatores solúveis secretado pelas células T CD8 + está ficando cada vez mais claro. Uma compreensão mais clara e precisa da interação entre estas respostas mais primitivas e as adaptativas pode fornecer idéias e dados críticos para o controle viral.
As sessões que examinam a evolução da seqüência viral em diferentes regiões do mundo ressaltaram as mudanças em curso sobre as formas predominantes. O processo de recombinação viral foi documentado num indivíduo infectado com dois tipos de vírus e este mecanismo é provavelmente comum em países onde múltiplos vírus circulam. Porém, os fatores que determinam o sucesso de formas recombinantes particulares não está claro. O mais interessante foi o primeiro estudo que indica que a diversidade de seqüências virais está relacionada com as propriedades de replicação destes vírus. A análise detalhada foi apresentada comparando a capacidade de replicação de diferentes subtipos virais in vitro. O estudo mostrou que dentro de diferentes grupos de vírus existem diferenças consideráveis na capacidade de se replicar. Porém, a replicação total do grupo M (representando os subtipos mais predominantes, incluindo os subtipos B e C) foi em geral melhor do que para os outros dois grupos mais freqüentemente observados que representando o HIV 2 e o subtipo O. Um fato interessante é que dentro do grupo M o subtipo C foi um dos vírus de pior replicação, estudos futuros vão estudar se isto pode significar que o vírus seja menos patogênico ou menos transmissível.

Ao tratar HIV e TB, fique com o tratamento mais simples.

Em países em desenvolvimento, a tuberculose (TB) é a infecção séria mais comum entre as pessoas infectadas pelo HIV. A TB é tratada com quatro remédios; depois de dois meses, dois destes medicamentos são suspensos e os outros dois são continuados por outros quatro meses. Mas os pacientes coinfectados por HIV e TB também precisam de três medicações anti-HIV. Estas medicações podem ser administradas em conjunto? A mistura ficará tóxica? O tratamento para HIV interfere no tratamento para TB e vice-versa?
Uma apresentação de Manosuthi da Tailândia (abstract MoOrB1013) usou o tratamento para TB mais comum junto com efavirenz, 3TC, e d4T. Em média o tratamento para TB foi iniciado em primeiro lugar, e o tratamento para HIV foi acrescentado depois de aproximadamente dois meses, e este foi igualmente bem tolerado. Baseado em preocupações teóricas expressadas no passado , havia o receio de que o efavirenz perdesse sua eficácia, e portanto a dose tivesse que aumentar de 600 a 800 mg por dia. Manosuthi observou que seus pacientes, que pesavam 50 kg na média, isto pareceu não ser necessário; a dose de 600 mg produziu os mesmos níveis de medicação em plasma do que os medidos no passado em pacientes que não receberam o tratamento para TB . Mais ainda, o aumento da dose de efavirenz não mudou significativamente os níveis em plasma.
Em conclusão, se você necessitar de tratar TB e HIV:
(1) inicie com o tratamento de TB
(2) depois de dois meses, acrescente efavirenz, 3TC, e d4T
(3) não mude as doses usuais
Provavelmente será necessário mais trabalho para ter certeza de que a situação não será diferente em países onde o peso corporal médio é maior.
O tratamento efetivo para o HIV é igual a múltiplas medicações? A monoterapia de novo
Faz oito anos teve início a era da TAR (terapia antiretroviral altamente ativa) quando muitas medicações, cada uma com uma eficácia de curto prazo, foram combinadas. A combinação bloqueou o desenvolvimento de resistência, e desde então, todos os tratamentos combinados eficazes têm usado pelo menos três medicamentos.
Portanto muitos se surpreenderam quando Joe Gathe apresentou um relato sobre pacientes tratados somente com Kaletra (lopinavir/ritonavir, LPV/r ) no ICAAC de novembro de 2003. O acompanhamento nessa ocasião ainda era de curto prazo (24 semanas), e havia dúvidas sobre se os resultados promissores ficariam sustentados. Parece que sim! Os 30 pacientes estavam com uma infecção bastante avançada quando começaram o tratamento, com uma carga viral média de 262,000 cópias/mL, e uma contagem média de CD4 de 169.5 células/mm3. Depois de 48 semanas de monoterapia com LPV/r , dois terços (20/30) dos pacientes tinham carga viral inferior a 400 cópias/mL. A maior parte dos 10 pacientes que não ficaram na monoterapia com LPV/r mudaram a terapia por razões não virológicas. Em média, as contagens de células CD4 aumentaram substancialmente (317 células/mm3). A seleção de genótipos virais resistentes não aconteceu. Estes dados iniciais provocativos e não comparativos sugerem que a estratégia agora está sendo testada em dois ensaios clínicos randomizados, um dos quais usa LPV/r como terapia de manutenção depois da indução com terapia combinada inicial. As vantagens potenciais incluem a preservação de várias classes de antiretrovirais , toxicidade limitada e custo decrescente. A carga de pílulas (3 pílulas diárias duas vezes por dia), porém, não é inferior aquela obtida com outras combinações mais comuns (biovir e nevirapina, por exemplo).

A África Sub Saariana permanece o foco da epidemia global de AIDS.

Um estudo simples numa parte rural da África torna este ponto muito mais difícil do que as estatísticas continentais que às vezes cansam as mentes. Entre as mulheres grávidas da província de KwaZulu Natal na África do Sul, mais de 40% têm HIV, e perto da metade das que estão entre 20 e 24 anos também. As implicações para o tratamento e prevenção são avassaladoras.
Entretanto, continua o desenvolvimento da epidemia na Ásia, ou melhor dizendo as epidemias, porque a diversidade de seus caminhos neste continente é sua única característica previsível. Tailândia e Cambodia permanecem como os países que tiveram altos níveis de prevalência para esta parte do mundo, mas responderam numa forma compreensiva e pragmática, pelo menos em relação à promoção de preservativos no contexto do sexo comercial. Não devemos esperar que a epidemia na Ásia se aproxime a uma taxa per capita como a da África, mas há muitas pessoas em risco na Ásia, e modelos matemáticos plausíveis indicam um aumento lento e permanente nas taxas de infecção se os níveis atuais de comportamento de risco não mudarem.
O risco de transmissão através do uso de drogas injetáveis e sexo entre homens são outros comportamentos reconhecidos na Ásia como associados a um aumento
potencial de transmissão. Estes comportamentos, como o sexo comercial, permanecem estigmatizados e vários governos da região não foram capazes de implementar estratégias de prevenção em larga escala , incluindo educação sexual, disponibilidade de preservativos, fornecimento de equipamento para injeção devidamente limpo e diagnóstico e tratamento de DSTs. A capacidade de liderança é a chave para obter os recursos e a vontade política para ir adiante nestas áreas.
A prevenção corre o risco de marginalização, e também de estigmatização, na resposta global ao HIV. O justificado entusiasmo para expandir o acesso a tratamentos novos e efetivos tornou a prevenção uma estratégia de outros tempos, mesmo que saibamos que o tratamento não é a cura, e que passarão muitos anos antes que o melhor tratamento existente na atualidade esteja universalmente disponível nos países em desenvolvimento.
Assim a focalização continuada sobre aquilo que funciona na prevenção, reconhecendo que as comunidades vão ter diferentes modos de implementar a mesma estratégia, deve continuar sendo um pilar central na resposta ao HIV. Mais ainda, ele não pode estar comprometido por debates ideológicos sobre a moralidade da prevenção, quando a alternativa é o resultado claramente imoral de expor as pessoas desnecessariamente a uma doença letal. Ou como expressou um participante na Conferência "as camisinhas funcionam, as seringas salvam vidas, e a negociação empodera."

Entre os temas sociais e econômicos em relação ao 'acesso a recursos' cobertos durante este dia estavam: HIV/AIDS no local de trabalho; os efeitos na terceira idade; melhorando a qualidade de vida das pessoas com HIV/AIDS, incluindo o acesso a tratamento e assistência, sobrevivência econômica, e seu envolvimento ativo nos esforços para lutar contra a epidemia. A necessidade de liderança, coordenação entre doadores, e a sustentabilidade das ONGs também foram abordadas neste primeiro dia.

Vários aspectos das vidas das pessoas com HIV/AIDS foram analisados nas sessões de hoje. Alguns Programas que trabalham com crianças infectadas enfatizaram a necessidade de abordar os aspectos psicossociais através do uso de materiais apropriados de IEC (informação, educação e comunicação) e de educação por pessoas adultas com HIV. A assistência a pessoas infectadas através da TAR (terapia antiretroviral combinada) necessita de um melhor entendimento, desde que o contexto pessoal do indivíduo influencia sua estabilidade psicológica. Há muitas diferenças de gênero, como por exemplo a diminuição das doenças oportunistas entre os homens e o menor uso da TAR entre mulheres. A depressão está relacionada com todas as causas de morte em pacientes em uso de TAR. As mulheres em TAR praticam sexo seguro. Entre os homossexuais masculinos, a prevalência de sexo anal desprotegido aumentou depois do início da TAR, especialmente entre aqueles com parceiros infectados. Todos os grupos em TAR sobreviveram mais, mas os UDIs tiveram menores taxas de sobrevivência devido a maiores barreiras para acesso e adesão aos tratamentos.
Experiências de programas de países em desenvolvimento criados explicitamente para fornecer apoio econômico a Pessoas vivendo com HIV/AIDS documentaram lições valiosas. O fornecimento de terapia com ARVs (antiretrovirais) em países em desenvolvimento é ainda um problema, apesar de que mais da metade dos serviços numa província da África do Sul estão prontos para fornecer a TAR. Em Botswana, a introdução do programa de ARVs aumentou o número de pessoas que procuraram a testagem e a detecção de casos positivos. A factibilidade da abordagem aos surdos foi comprovada com sucesso no Quênia.
O HIV/AIDS afeta o modo de trabalho dos agentes de saúde. O estigma contra pacientes com HIV/AIDS nos serviços de saúde permanece alto, e freqüentemente testam pessoas suspeitas de alto risco sem informá-las. Os agentes também se preocupam com o risco de transmissão iatrogênica (provocada por tratamento) e gostariam de realizar a testagem pré-cirurgia, mas a maioria não segue regularmente os procedimentos básicos de segurança contra as infecções. Apesar dos médicos com HIV serem mais parceiros dos seus pacientes com HIV, eles têm problemas para comunicar mensagens de prevenção eficazes. Altos níveis de infecção num local de trabalho afetam adversamente a produtividade, mas a TAR pode ser introduzida nestes locais e sua introdução estabiliza os custos da empresa.
Uma proporção crescente de pessoas da terceira idade estão se infectando, especialmente entre os que têm sido mais ativos sexualmente. A TAR pode causar amenorréia, o que pode ser confundido com menopausa em mulheres mais velhas. Em muitas partes da África, as pessoas da terceira idade se tornam agentes de saúde, e se preocupam com a qualidade da assistência que podem fornecer, e também temem perder suas vidas sociais.
Foi fortemente estimulado o envolvimento de pessoas com HIV/AIDS na concepção e planejamento de programas para o HIV/AIDS, e houve vários exemplos de sucesso e sobre formas em que isto pode ser realizado. Entre outras: programas baseados em hospitais, programas de alfabetização, aumento de testagens para o HIV e cuidados para órfãos no local de trabalho. Na verdade, as pessoas com HIV/AIDS se sentem excluídas na atualidade dos esforços nacionais para criar e implementar programas de HIV/AIDS, e à medida em que são realizadas tentativas de ampliar o desenvolvimento de programas e o acesso a recursos eles precisam ser incluídos, como também os grupos de direitos civis, sindicatos, etc. A inclusão em estruturas nacionais de lideranças é crítica para a coordenação e harmonização do grande aumentos de doações. Também deverão ser incluídas lideranças vinculadas a diversos grupos marginalizados como mulheres, pessoas vivendo com hIV/AIDS e ONGs. Várias apresentações referiram-se a formas de fortalecer lideranças de modo a assegurar a equidade, eficiência e o uso apropriado destes recursos em aumento.

As quatro sessões seguintes focalizaram: 1. desenho e implementação de políticas para financiamento sustentável do HIV/AIDS; 2. formulação e implementação de políticas e seus efeitos sobre o acesso; 3. a diminuição do impacto social e econômico e 4. a efetiva aplicação de políticas dentro do mundo do trabalho.

O esforço coordenado para o financiamento.
Recentemente tem havido um aumento rápido no financiamento para o HIV/AIDS, apesar de que a brecha entre necessidades e disponibilidade ainda é evidente. Os países estão adoptando uma série de estratégias focalizadas primariamente numa coordenação crescente entre doadores para sistematizar o gerenciamento financeiro e minimizar as múltiplas necessidades de relatórios que provaram ser onerosas e contraprodutivas tanto para doadores como para os destinatários dos fundos. Um gerenciamento mais efetivo dos fundos e uma racionalização do impacto destes recursos requer uma abordagem coordenada nos sistemas de governo. Também envolve a colaboração do setor público e o privado e um maior envolvimento da sociedade civil, ONGs e PVHIV/AIDS no planejamento estratégico para aumentar a escala da resposta ao HIV/AIDS.
Desenhar políticas para melhorar o acesso
As políticas tem um impacto mais positivo na medida em que elas focalizam no treinamento e na construção de capacidades. Por exemplo, treinar agentes e profissionais de saúde como uma parte integral do acesso a ARVs complementaria as políticas de acesso equitativo à testagem especialmente se acompanhados por mudança de conduta dos profissionais de saúde com as pessoas vivendo com HIV/AIDS, através de maior entendimento e apreciação da natureza de abrangência da doença.
Porém, a maior barreira ao aumento do acesso é o preços dos ARVs, que está além das possiblidades de vários países. Uma consideração adicional deve ser dada a um Tratado Mundial no âmbito da OMC que crie uma nova infra-estrutura para patentes farmacêuticas para o HIV em países em desenvolvimento.
Esforços para parcerias inovadoras entre o setor público e o setor privado
O respeito mútuo é um ingrediente essencial para parcerias sustentáveis especialmente quando há provisão para flexibilidade no financiamento e utilização de diversos recursos humanos, técnicos e financeiros. A sustentabilidade também aumenta quando colocam-se mecanismos para papéis mais institutionalisados e transparentes na parceria. A este respeito, o contato pessoal, acordos por escrito ou a concordância em objetivos e procedimentos ajudam a estabelecer o tom e missão no início, prevenindo desacordos desnecessários ou irreconciliáveis no futuro.
Criar Parcerias Inovadoras
O fator fundamental do sucesso está nas abordagens baseadas na comunidade que incluem as comunidades alvo da intervenção.
Mobilizar múltiplos pareceiros incluindo pessoas com HIV/AIDS na redução do estigma e na discriminação no local de trabalho
Foi expressada a necessidade de políticas para abordar o HIV/AIDS e para a liderança forte e participação de trabalhadores e empregadores para a prevenção do HIV/AIDS no local de trabalho. A ênfase no envolvimento de pessoas com HIV/AIDS nos programas de treinamento ajudaria a reduzir o estigma e a discriminação. Também devem ser envolvidas organizações de base religiosa nestes programas. Também, o estabelecimento de um fundo de solidariedade deve ser usado para os que dele necessitam.

jornal El Mundo
BANGKOK.- Só 3% dos recursos contra a AIDS destinam-se ao desenvolvimento de uma vacina contra o HIV. O grande objetivo durante os primeiros anos da
epidemia foi perdendo interesse pela enorme dificuldade que coloca o seu
desenvolvimento, mas os cientistas especializados neste campo querem relançar a iniciativa: "Só uma vacina pode acabar com a doença".
Este é o pensamento de Seth Berkley, presidente da Iniciativa por uma Vacina contra a AIDS (IAVI), uma organização sem fins lucrativos que conta com o patrocínio da Fundação Bill Gates e os Governos de EUA, Holanda, Reino Unido, Suécia e Canadá.
"Todas as estratégias de prevenção são necessárias, mas só a vacina pode acabar com a epidemia", insistiu Berkley durante sua apresentação na XV Conferência Internacional de AIDS, em Bangkok.
A organização divulga a cada dois anos o progresso das distintas linhas de
pesquisa.
As boas notícias são que desde a Conferência de Barcelona de 2002 o número de vacinas em pesquisa aumentou de forma significativa até 30. Dezenove países estão realizando ensaios em diversas fases para avaliá-las.
Onze deles -Bélgica, Alemanha, Quênia, África do Sul, Suíça, Uganda, Reino
Unido e EUA- mantêm acordos com a IAVI para realizar ensaios clínicos de
pequena escala com as diversas vacinas em pesquisa.
Segundo Wayne Koff, vicepresidente da IAVI, entre 2007 e 2008 haverá resultados com a imunização mais avançada, cuja eficácia está sendo avaliada em 16.000 pacientes.
A má notícia é que a maioria dos produtos em desenvolvimento seguem o mesmo
princípio, un grave problema caso a estratégia for ineficaz.
Segundo os responsáveis da IAVI é necessário duplicar os fundos dedicados ao programa -atualmente são dedicados 650 milhões de dólares - se quisermos
realmente reforçá-lo. Uma das questões prioritárias é selecionar quais das 30 vacinas em pesquisa tem mais probabilidades de sucesso antes de realizar os ensaios.
"Uma vacina que tivesse pelo menos 30% de eficácia teria um efeito
significativo sobre a epidemia", disse Berkley. "Não se realizou um esforço
real por desenvolver uma vacina", acrescentou.
A apresentação dos últimos resultados da IAVI recebeu o apoio de Helen Gayle, da Fundação Bill Gates e próxima presidente da Sociedade Internacional de AIDS, que pediu a criação de uma rede global para garantir a cooperação dos diferentes grupos envolvidos no desenvolvimento de uma vacina contra a AIDS.

Expectativa de vida
A expectativa de vida caiu até 33 anos em sete países africanos devido à
epidemia de AIDS. O terrível anúncio foi realizado ontem pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento, durante o transcurso da XVª Conferência Internacional contra a AIDS, em Bangkok. O país mais afetado é Zâmbia, onde a expectativa de vida situou-se em 32,7 anos em 2002, 14,7 anos menos que em 1990.
Depois de Zâmbia, onde 16,5% da población adulta é portadora do vírus, está
Zimbabue, com 25% da população soropositiva e uma expectativa de vida de 33,9 anos. Em terceiro lugar está Suazilândia, onde uma criança ao nascer só pode esperar viver 35,7 anos. A República Centroafricana, Lesoto, Mozambique e Malaui completam esta lista de países infectados.

PRODUÇÃO DE GENÉRICOS
Por outro lado, seis países superpovoados e muito afetados pela AIDS assinaram ontem em Bangkok um acordo para produzir medicamentos antiAIDS genéricos, de baixo custo, com os quais pensam tratar de imediato sete milhões de doentes.
Tailândia, China, Brasil, Rússia, Ucrânia e Nigéria, assinantes do pacto,
convidaram a outros países pobres a se associar.
Este acordo conta com o amparo implícito de um documento aprovado em Doha
(Qatar) em 2001 pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que autoriza a
prescindir das patentes dos fârmacos antirretrovirais (a maioria pertencentes a laboratórios de EUA), se o país que o solicitar tiver uma grave crise sanitária. Desta forma, o tratamento de um doente passará dos 10.000 euros anuais, a uns 365 euros.
Os assinantes ressaltaram a necessidade de dispor de um teste rápido que
determine a infecção pelo HIV, assim como de sistemas para calcular a
quantidade de vírus que circula pelo sangue dos afetados, parâmetros essenciais para administrar com eficácia os tratamentos. "Não somos um comando antiamericano, somente defendemos a saúde dos doentes, que está por cima dos interesses comerciais --afirmou ontem Pakdee Phothisiri, do Ministério da Saúde da Tailândia--.
Além disso, três organizações do sistema das Nações Unidas, entre elas UNAIDS, pediram ontem que sejam adotadas medidas imediatas para freiar a expansão da AIDS entre as mulheres, que já constituem 48% dos infectados de todo o mundo, uns 17 milhões de doentes. Na África subsaariana 60% da população femenina sofre de AIDS.
Os participantes na Conferência rejeitaram o programa, auspiciado pelos EUA, que propõe a abstinência de relações sexuais, fidelidade e uso do preservativo só para evitar a AIDS. "Pedir abstinência não tem sentido para as mulheres que são obrigadas a praticar sexo --disse Thoraya Ahmed Obaid, diretora do Fundo das Nações Unidas para as Populações. A fidelidade não protege se seus maridos têm múltiplas mulheres ou se infectaram antes. E tampouco podem exigir o preservativo se eles não querem usá-lo".

Encerramento da Conferência
Mandela, de 86 anos, falará na cerimônia de encerramento da XV Conferência
Internacional de AIDS, na qual participam 15.000 cientistas, ativistas e
representantes de 162 países.
O ex-presidente da África do Sul criticou em mais de uma ocasião a estratégia dos Estados Unidos para lutar contra a AIDS, baseada na promoção
da "abstinência (sexual), a fidelidade e os preservativos".

Outros resumos de trabalhos

Interrupção do tratamento para o HIV
Considere seu paciente médio com HIV, com tratamento que deu certo . Ele/a é quarentão; sua contagem de CD4 , apesar de que previamente estava baixa agora é superior a 500. Seu risco de complicações para AIDS é próxima de zero, e sua expectativa de vida é provavelmente normal, i.e. mais ou menos quarenta anos.
Quarenta anos de terapia antiretroviral continuada? Em vista dos
inconvenientes, custo e efeitos colaterais da terapia com antiretroviral (TAR), muitos pacientes olham este tratamento prolongado com pouco entusiasmo e gostariam de parar.
Mas suspender a terapia poderia convidar problemas. O vírus certamente vai
voltar a subir e pode se tornar resistente, e as contagens de CD4 declinarão de novo. È melhor suportar a terapia continuada, ou realizar interrupções estruturadas de tratamento (STIs)? A resposta curta é que ninguém sabe, mas muitos tentam entender, alguns dos quais relataram seus achados hoje.
Uma abordagem promissória três anos atrás envolvia tratamento por uma semana, e suspensão por outra, depois tratar de novo por uma semana e assim seguindo. Esperava-se que a interrupção de tratamento fosse curta o suficiente para que não ocorresse o rebote viral. Se nõa houver rebote viral, não haveria queda de CD4 e nem aumento da transmissibilidade. Porém Jintanat Ananworanich (TuSy187, and AIDS 2003, 17:F33-F37) mostrou que com uma combinação baseada em inibidor da protease na Tailândia, houve uma taxa inaceitável de rebote viral. Também usando efavirenz, Mark Dybul (TuSy188) relata que houve falhas em Uganda.
Assim, a abordagem semana sim/ semana não provavelmente será abandonada.
Muitos pacientes e médicos se preocupam com o desenvolvimento de resistência durante a STIs. É fácil parar, mas quando você precisar do tratamento de novo, será que ele vai funcionar? Ananworanich (WeOrB1283) informou sobre pacientes que interromperam seu tratamento assim que sua contagem de CD4 superava 350 cópias. Depois de 96 semanas de esta terapia baseada no CD4, eles eram tratados continuadamente de novo. Os resultados foram estimulantes: depois de 24 semanas de terapia continuada, 17 de 18 tinham uma carga viral inferior a 50 cópias por ml.
A terapia baseada em CD4 implica realizar exames de CD4; estes exames não
estão disponíveis em todo lugar. Daí a proposta para interrupção da terapia por períodos fixos. O ensaio francês chamado "Window" (Marchou, WeOr B1285) recrutou 400 pacientes, que foram randomizados para terapia continuada, ou para um esquema de 8 semanas com, 8 semanas sem por 96 semanas. Os resultados finais só estarão disponíveis no final de 2005, mas até agora as coisas vão bem, com somente uma queda moderada de CD4. NO início do "Window", 30 % dos pacientes tinham vírus com uma ou outra mutação de resistência, sem aumento durante o
ensaio. Aproximadamente 80 % dos pacientes tinham uma carga viral inferior a 400 cópias no final de cada período de tratamento de 8 semanas. Os pacientes com mutações reagiram igualmente bem ao tratamento como os pacientes com o vírus selvagem.
Em resumo, os dados de segurança sobre resistência e o efeito do re-tratamento parecem encorajadores. Porém, as vantagens e desvantagens da STIs só podem ser avaliadas comparando com um grupo de controle com tratamento continuado. Os resultados destes ensaios comparativos vão ter que esperar até 2005, 2006, ou ainda depois: o maior destes estudos, chamado SMART, recrutará 6000 pacientes e
espera continuar até o final da década.

relatos de:
Epidemiologia e Prevenção

os temas de prevenção foram do global e político, para discussões mais específicas sobre estratégias de base local e sua efetividade.
Duas sessões focalizaram as intervenções para redução do risco de HIV entre
UDIs. A prática de injeção de drogas tem sido reconhecida como um alto risco de transmissão do HIV se não estiver disponível um equipamento de injeção limpo.
Os princípios da redução de danos, apesar de terem demosntrado alta eficácia na prevenção da transmissão do HIV, ainsda estão para ser implementados em muitos países, tanto no mundo industrializado e no mundo em desenvolvimento, mas há sinais de que sua aceitação está crescendo. Um informe supreendente da fronteira da China e Vietnã, dois países sem reconhecimento prévio de implementação da redução de danos, mostrou qeu a distribuição de seringas e agulhas limpas, e educação comunitária sobre o dano relacionado com drogas foram amplamente aceitos entre setores comunitários chave incluindo a polícia.
Apesar de ser muito cedo para dizer se a incidência do HIV cairá
substancialmente como resultado destas medidas, ela permaneceu estável em ambos os lados da fronteira desde que o projeto iniciou.
Outros relatos sobre UDI mostraram que o risco do HIV relacionado ao HIV está em altos níveis em vários países em desenvolvimento, e que barreiras políticas e sociais significativas obstruem o caminho de estratégias de prevenção baseadas em evidências .
A indústria do sexo, tanto compradores como vendedores, foi o tema de outra
sessão. Estudos da China (em mulheres) e Canadá(em homossexuais e bissexuais masculinos) relataram a taxonomia do trabalho sexual. Há grupos claramente definidos de pessoas engajadas no trabalho sexual, e é possível distinguir diferentes padrões de risco entre os grupos, com claras implicações para estratégias de prevenção.
Outra sessão apresentou resultados perturbadores sobre o impacto da epidemia do HIV em jovens do sul da África. Estudos de Zimbabwe e África do Sul mostraram que a quebra da família estava associada com níveis superiores de risco de HIV em crianças. Assim a epidemia tem um efeito transgeneracional tanto diretamente na transmissão vertical do vírus, e indiretamente através da exposição aumentada das crianças das famílias afetadas.
O acesso a testagem surgiu como um ponto de estrangulamento tanto para a
prevenção como para o tratamento. Em vários países, estão sendo estudadas
abordagens inovadoras de percepção e aceitabilidade. Algumas opções
consideradas foram a redução do tempo de recepção de resultados, a adaptação dos tempos de acesso de procedimentos às necessidades dos clientes e recrutamento de casais.
Durante anos temos observado documentação sistemática dos benefícios da TAR em países industrializados, e temos agora, felizmente, começado a ver resultados similares em países em desenvolvimento. Informes de Uganda, Brasil e Hong Kong numa sessão sobre resultados de tratamento demonstraram grandes ganhos na sobrevida depois do uso de TAR. Por outro lado, e de forma perturbadora, as pessoas com HIV nos EUA continuam com maior probabilidade de perder a detecção precoce e o tratamento adequado se forem jovens, heterossexuais ou negros ou latinos.

tradução/seleção - Jorge Beloqui