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COMBATENDO A TRANSMISSÃO VERTICAL
11/07/2004 - The New York Times
Remédios baratos podem evitar que mãe com HIV contamine feto
Novos estudos indicam que a combinação de dois remédios com preços acessíveis é a melhor maneira de evitar, entre as populações dos países pobres, que mães contaminadas passem o vírus da Aids para suas crianças.
Os remédios, nevirapine e o AZT, são relativamente baratos e amplamente disponíveis em versões genéricas. Os estudos, que serão publicados semana que vem no importante semanário "The New England Journal of Medicine", tiveram sua divulgação antecipada nessa sexta-feira já que serão apresentados na Conferência Internacional sobre a Aids, que começa no domingo (11/07) em Bangkok, na Tailândia.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), que já há algum tempo tinha conhecimento dos resultados promissores, recentemente começou a recomendar o uso combinado dos dois remédios.
O uso do AZT ou do nevirapine já é adotado pela maioria dos países pobres que têm programas para proteger os recém-nascidos da transmissão do vírus por mães infectadas. Uma dose de nevirapine, também conhecido pela marca Viramune, é dada à mãe durante o parto e outra é ministrada à criança antes de seu terceiro dia de vida. Esse tratamento completo custa menos que US$ 5 (equivalente a menos de R$ 16).
O tratamento com o AZT, também conhecido pelas marcas ziduvodine ou Retrovir, geralmente começa semanas antes do parto para a mãe, dura dias ou semanas para a criança e custa cerca de US$ 40 (aproximadamente R$ 124).
Com o uso combinado dos dois medicamentos, o vírus é transmitido em apenas 2% dos nascimentos. Esse índice de eficiência "se aproxima dos observados nos tratamentos mais complexos e caros atualmente utilizados nos Estados Unidos", segundo Dr. Lynne Mofenson, chefe do setor pediátrico anti-Aids do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano, integrante do Instituto Nacional de Saúde, que ajudou no financiamento dos estudos.
Mães que não recebem nenhum tipo de tratamento tem de 25% a 50% de possibilidades de infectar os filhos no nascimento ou por meio da amamentação. Segundo a OMS, cerca de 700.000 crianças foram contaminadas dessa forma no ano passado, 90% delas na África.
Os resultados dos novos estudos são "uma grande notícia", disse a Dra. Heather Watts, médica que é diretora no Instituto de Saúde Infantil. Índices tão baixos de transmissão "são fenomenais, menores do que esperávamos", acrescentou.
Mas um dos dois estudos também constatou que mesmo uma pequena dose de nevirapine parecia aumentar a possibilidade de uma mãe desenvolver um tipo de vírus da Aids resistente à nevirapine.
Esse resultado preocupante "requer um estudo mais avançado", disse a Dra. Watts. Especialistas em Aids na África do Sul, onde o tratamento exclusivamente à base de nevirapine é amplamente utilizado, tem discutido questões morais e clínicas a esse respeito.
Eles observaram que o tratamento realmente salva a vida de muitos bebês, mas que também os deixa órfãos, já que nada é feito para salvar as mães e que as mulheres também podem desenvolver um vírus mais resistente à droga.
Mais tarde, se a mãe ainda tiver a sorte de conseguir entrar na terapia tripla antiretroviral - ainda uma relativa raridade na África - será mais difícil salvar sua vida.
Os dois novos estudos foram feitos a partir do mesmo grupo de 1.800 mulheres grávidas na Tailândia, acompanhadas de janeiro de 2001 até março de 2003. Um estudo estimou a velocidade com que as mulheres, consumidoras de diferentes combinações de medicamentos, contaminaram suas crianças; o outro estudo acompanhou as mulheres que tinham sistema imunológico.
Um estudo subseqüente descobriu que as mulheres, mesmo as que tomaram apenas uma dose de nevirapine, mantinham resquícios do medicamento em sua corrente sanguínea até três semanas depois do consumo. Essa permanência mata os traços do vírus suscetíveis à nevirapine, mas deixa que os traços resistentes sobrevivam e se multipliquem.
O perigo apresentado é que tanto o nevirapine quanto as outras drogas de sua categoria, os inibidores reversíveis transcriptase não-nucleotídeos, poderão se tornar inúteis para o tratamento não só das mulheres que receberam o medicamento quanto para todos os parceiros sexuais para quem transmitiram esse traço.
Apenas uma simples mutação no gene do vírus é necessária para criar resistência aos não-nucleotídeos. A resistência ao AZT, quando este remédio é empregado de forma inadequada, geralmente leva semanas para se desenvolver.
Tradução: Marcelo Godoy