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XV CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE AIDS
11/07/2004 - Agência Aids
Abertura com autoridades, homenagens e polêmicas
A cerimônia de abertura da XV Conferência Internacional de Aids foi marcada pelo comprometimento de lideranças em ampliar o acesso à informação, educação e medicamentos a todas as pessoas que vivem com HIV/AIDS. Mais de 10 mil pessoas estiveram presentes ao evento em Bangcoc, Tailândia, que abriu oficialmente um dos principais eventos mundiais de Aids. Estiveram presentes à cerimônia o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, o Presidente da Sociedade Internacional de Aids (IAS), Dr. Joep Lange, a Ministra da Saúde da Tailândia, Sudarat Keyuraphan e o Primeiro Ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra.
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Kofi Annan fez um alerta para o crescimento da epidemia entre as mulheres em todo o mundo. As mulheres representam quase metade das infecções de Aids entre os adultos. Na África Sub-Saariana, elas representam 58% dos casos. Entre os jovens com menos de 24 anos, as meninas já representam quase dois terços das pessoas que vivem com HIV/AIDS.
Para enfrentar a epidemia da Aids, o Secretário Geral da ONU apontou três frentes de trabalho. A primeira é aumentar a infra-estrutura para dar suporte ao tratamento e à prevenção. A segunda está no fortalecimento das mulheres e meninas para que possam se proteger do vírus da Aids. A vulnerabilidade feminina está associada à desigualdade de gênero que as coloca em risco. Se conseguirmos mudar isto, vamos transformar as relações entre homens e mulheres em todos os níveis da sociedade. Em outras palavras, o que precisamos é educar as meninas, afirmou Kofi Annan.
A última prioridade para vencer a luta contra a epidemia é fortalecer as lideranças em todos os níveis e esferas. De presidentes e primeiros ministros até governos locais, passando pela sociedade civil organizada, pessoas vivendo com HIV/AIDS e empresas. Líderes não são apenas aqueles que ocupam altos cargos. Líderes são professores que encorajam sonhos e aspirações de meninas, são médicos, enfermeiras e conselheiros que ouvem e oferecem cuidados sem julgamentos. A liderança vem da mídia que dá visibilidade aos fatos e encoraja as pessoas a fazerem escolhas responsáveis.
O Dr. Joep Lange falou sobre a importância de Conferências Internacionais de Aids serem sediadas por países em desenvolvimento. Se em 2000 a Conferência não tivesse sido em Durban, na África do Sul, mas em Paris, Londres, Washington ou Amsterdã, nós poderíamos ainda estar discutindo os preços dos anti-retrovirais. Durban foi um evento que catalizou o desenvolvimento de ações para combater a epidemia. Como, por exemplo, o Fundo Global de Luta Contra Aids, Tuberculose e Malária. Esta conferência sediada na Tailândia pode mudar o rumo da luta contra a Aids, lembrou Dr. Lange.
A Ásia é o continente mais populoso do mundo e responsável por 25% dos novos casos de Aids. A Tailândia conseguiu mudar os rumos da epidemia e è um exemplo que deve ser seguido por outros países. Segundo Sudarat Keyuraphan, Ministra da Saúde, em 1991 foram registrados 150 mil novos casos. Todavia, com os esforços de todos os setores da sociedade em educar as pessoas e fazer com que aprendessem formas de evitar os riscos do HIV, as novas infecções caíram para menos de 20 mil, em 2004. Tal sucesso se deve principalmente ao programa de 100 % de preservativos adotados pelo governo do país. A incidência do HIV/AIDS em um dos grupos mais afetados na Tailândia, as profissionais do sexo, era de 30%. Depois deste programa, este número caiu para menos de 10%. Outra ação bem sucedida é a diminuição da transmissão vertical de 30% para 3%. Segundo Thaksin Shinawatra, Primeiro Ministro do País, todas as gestantes soropositivas tem acesso aos anti-retrovirais. Eu me orgulho em afirmar que nos conseguimos proteger mais de 2 mil bebês do vírus da Aids todos os anos, comemorou Shinawatra.
Como o Brasil, a Tailândia iniciou um projeto de distribuição universal de anti-retrovirais para todas as pessoas que vivem com Aids e necessitam de tratamento. A partir deste ano, 40 mil soropositivos terão acesso ao coquetel, o que significa 80% dos casos. Para tanto, foram alocados mais de US$ 20 milhões para este projeto. Os 20% restantes receberão os ARV do Fundo Global e, desta forma, o país conseguirá garantir o acesso a todas as pessoas que vivem com o vírus, informou o primeiro ministro. Segundo o Boletim do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/AIDS (UNAIDS), divulgado hoje, 11 de julho, a Tailândia tem 310 mil casos de pessoas infectadas pelo HIV.
Alguns manifestantes protestaram durante a fala de Shinawatra, principalmente quando ele apresentou dados sobre a o projeto de redução de danos entre os usuários de drogas injetáveis, uma das principais vias de transmissão do vírus no país. Segundo o Primeiro Ministro, antigamente este grupo era visto como criminosos e as leis eram muito severas. No momento, as leis estão sendo revistas e estamos vendo os usuários de drogas injetáveis como pacientes que necessitam de suporte e tratamento.
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No final da abertura, foi realizado um ato em memória aos portadores do HIV que faleceram em decorrência da doença. Uma enorme vela foi acesa por Kofi Annan e Shinawatra. Alguns participantes sentiram a falta da presença de uma pessoa vivendo com HIV/AIDS para, junto às duas autoridades, prestar esta homenagem àqueles que se foram antes da descoberta de medicamentos potentes, capazes de transformarem a Aids em uma epidemia crônica controlável.
A última fala da cerimônia de abertura foi feita por um ex-usuário de droga injetável tailandês, portador do HIV. Estrategicamente, Paisan Suannwong falou quando mais da metade dos participantes já haviam deixado o local. Desta forma, a organização do evento deu voz a uma pessoa vivendo com HIV/AIDS quando um número menor de pessoas estava presente. Este procedimento evitou que o Primeiro Ministro da Tailândia fôsse desmentido quando afirmou que os usuários de drogas injetáveis estão deixando de ser tratados como criminosos. Assim, a impressão que fica é que o país tem um programa de combate a Aids perfeito. Entretanto, aqueles que permaneceram até o final da cerimônia puderam conhecer o outro lado da história.
Nada mudou em relação aos usuários de drogas injetáveis. Eles ainda são vistos como pessoas más. Na Tailândia, este grupo é o unico em que 50% da prevalência não mudou nos últimos 15 anos. Um terço dos novos casos de HIV estão entre os usuários de drogas injetáveis e o número está crescendo. E até agora, o governo não tem nenhum trabalho efetivo de prevenção voltado para estas pessoas. Segundo Paisan, no ano passado a rede de trabalho de usuários de drogas injetáveis do país conseguiu suporte do Fundo Global para implementar programas entre estes grupos. A verba de US$ 1,3 milhões para implantar o projeto ainda não foi repassada para eles.