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NOTIFICAÃÃES DE AIDS EM SÃO PAULO

01/07/2004 - Agência Aids

Novo campo para auto-avaliação do quesito cor

O estado de São Paulo está se preparando para formular e implementar políticas públicas específicas às diferentes raças e etnias, no âmbito da saúde. A organização não governamental Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) desenvolveu o projeto Implementação do Quesito Cor nos Programas Estaduais de DST/AIDS no qual os usuários dos serviços de saúde vão fazer uma auto-avalização sobre sua cor baseada na classificação do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) dividida em: branco, preto, pardo amarelo e indígena.
O Projeto é uma parceria entre CEERT, Programa Estadual de DST/Aids do Estado de São Paulo, Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/AIDS (UNAIDS) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Para implementação do trabalho está sendo realizado um workshop com profissionais dos Centros de Referência e Treinamento em DST/AIDS de São Paulo. O objetivo do encontro é sensibilizá-los para a importância do quesito cor nas fichas de notificação da AIDS. O treinamento acontece nesta quarta e quinta-feira (30/06/04 e 01/07/02), em São Paulo-SP.
Desde 2000, o Ministério da Saúde incorporou o quesito cor nas fichas de notificação de Aids. Todavia, esta pergunta quando realizada, é respondida normalmente pelo funcionário do serviço e não pelo paciente. Isto acontece por muitos motivos, mas principalmente pela dificuldade da sociedade brasileira em tratar temas tabus, como o racismo.
Segundo Fernanda Lopes, do Programa de Combate ao Racismo Institucional do Governo Britânico, os dados de institutos de pesquisas revelam que o acesso à saúde, educação, cultura entre outros não são os mesmo para brancos e negros, pobres e ricos, homens e mulheres. “O não uso do preservativo por motivos financeiros é mais comum entre mulheres e homens negros do que entre homens e mulheres brancas, segundo dados do IBOPE coletados em 2003. Mulheres e homens negros apresentam mais dificuldades de acesso ao teste anti HIV”, estes são alguns dados apresentados por Fernanda Lopes, durante o workshop. “As mudanças no perfil da epidemia da AIDS revelam que a doença acomete cada vez mais pobres, mulheres e pessoas com menos escolaridade. Podemos perceber um crescimento entre a população negra, mais vulnerável, já que é um grupo prioritariamente pobre e com poucos anos de estudo. Por isso, é importante a inclusão do quesito cor para que desta forma possa ser feita uma análise dos dados a partir deste recorte. Assim, poderemos implementar políticas públicas específicas para os negros”.
O projeto “Implementação do Quesito Cor nos Programas Estaduais de DST/AIDS” está divido em três etapas. Esta primeira tem por objetivo sensibilizar os profissionais para o assunto. A segunda acontecerá em setembro e irá monitorar os dados coletados e discutir as dificuldades enfrentadas pelos profissionais. A última ocorrerá em novembro e será a avaliação dos dados coletados. Segundo Edna Muniz de Souza, coordenadora da área de saúde do Ceert, está previsto o lançamento de uma publicação sobre o tema para o fim do ano.
O Estado de São Paulo foi escolhido para implementação do projeto por ter o maior número de casos de Aids do país e um grande número de serviços especializados na doença. Para Gilza Mello, técnica em prevenção do núcleo de populações vulneráveis e articulação institucional do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, o CRT quer oferecer uma atenção à saúde que respeite as diferenças de raça e etnia dos pacientes do nosso serviço. “Com os dados em mãos vamos propor políticas públicas que levem em consideração estas necessidades”, comenta a técnica.
“Qual é a sua cor/ raça/etnia? Você é a melhor pessoa para responder a sua cor”. Estas frases estarão estampadas nos materiais informativos que serão distribuídos nos centros de referência e treinamento em DST/AIDS do estado de São Paulo. Sensibilizar os profissionais e os usuários para a questão do quesito cor é de fundamental importância para evitar conflitos. Durante o seminário apareceram muitas falas dos servidores da saúde que mostram como é difícil esta questão. “No acolhimento quando pergunto a cor o usuário costuma dizer; você não está vendo?” “Normalmente, pulo a pergunta quesito cor porque não consigo perguntar”. “Perguntar a cor, muitas vezes é ofensivo”.
Para Edna de Souza, estes relatos demonstram a dificuldade que a sociedade tem em lidar com a questão das diferenças raciais. “Na verdade o quesito cor é um pretexto para desvelar a questão do racismo de outra forma. Porém, ele mostra para a saúde que ela tem que olhar o segmento negro de forma diferenciada, atentando para as particularidades”.