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OUTRA VISÃO SOBRE OS JOVENS

30/06/2004 - Folha de São Paulo

Projeto ensina a "cuidar" de jovem com HIV

Estudo feito em cidades de SP mostra que, no geral, informação deixa adolescente mais tranqüilo e melhora a adesão ao tratamento
Dez anos atrás, a sobrevida mediana das crianças que nasciam com HIV/Aids era de 14 meses. Agora, passa dos dez anos. O mais velho já fez 19 e dezenas estão entre 15 e 17. A notícia não poderia ser melhor, mas traz embutido um desafio que ainda não foi resolvido: como lidar com crianças cujo destino era a morte e que estão se tornando adolescentes?
Ainda não há um consenso nem cartilhas dizendo como e quando contar a uma criança que está infectada, nem como "ensinar" a um adolescente como e quando contar à namorada que tem Aids.
Perguntas como essas começam a ser respondidas após dois anos pelo projeto ECI-Brasil (Enhancing Care Initiative), coordenado pelo Harvard Aids Institute e François-Xavier Bagnoud Center for Health and Human Rights, da Harvard School of Public Health, com apoio da Fundação Merck.
Do projeto, participaram 11 pesquisadores brasileiros que utilizaram pesquisas qualitativas com jovens com HIV/Aids e "cuidadores", pais, professores e equipes de saúde, de várias cidades paulistas. O resultado foi divulgado ontem e deverá ser tomado como referência pelo Ministério da Saúde para profissionais que trabalham com jovens vivendo com HIV.
No país, foram notificados, desde 1980, 6.566 casos de Aids entre jovens de 13 a 19 anos -metade morreu. A Coordenação Nacional de Aids estima que 10 mil jovens nessa idade sejam portadores do HIV e a maioria não sabe. "O ideal é que a criança seja informada quando começa a ser alfabetizada e a fazer perguntas", diz Heloisa Marques, que é do Instituto da Criança e participou da pesquisa.
O estudo destaca a importância da negociação entre a família e o médico. Os relatos mostram que, no geral, a informação sempre deixa o jovem e os "cuidadores" mais tranqüilos e melhora a adesão ao tratamento.
Outra angústia comum é saber se poderão ou não ter filhos. Os riscos para o bebê já podem ser minorados e há a possibilidade da reprodução assistida e da "lavagem" do esperma, mas que, por enquanto, só é feita fora do país.
"Desse trabalho sairá a formulação de uma política que deverá sempre associar a saúde aos direitos humanos", diz José Ricardo Ayres, da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do projeto.