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CAMPANHAS EQUIVOCADAS

24/06/2004 - Agência Aids

Ongs de Santa Catarina conseguem suspender campanha contra Aids

O governo do estado de Santa Catarina suspendeu a veiculação de duas campanhas de combate a Aids, após reunião com a sociedade civil organizada. As organizações Faça (Fundação Açoriana para o Controle da Aids) Gapa, Casa, Lar Recanto do Carinho e Lar Recanto da Esperança estiveram reunidas ontem, (21/06) com Ministério Público e Secretaria Estadual da Saúde para discutir danos causados pelos comerciais de TV.
No início de junho, o governo do estado começou a veicular campanhas de combate a Aids que tinham como mensagem principal o medo. Criada pela agência EugenioWG Sul, sob encomenda da Secretaria Estadual de Saúde, a campanha consistia em três vídeos comerciais: um dirigido às pessoas casadas e dois aos jovens e adolescentes. Os comerciais foram transmitidos nas emissoras de TV aberta, três vezes por dia.
Entre as peças suspensas estão a de um pai de família que anuncia em off o testamento de seus bens para família e que para a esposa ele deixa também o vírus da Aids. A outra, conta a história dos sonhos de uma menina desde a infância até os 19 anos de idade, quando falece em decorrência da Aids. No final uma frase em off dizia: “A Aids já interrompeu os sonhos de muitos jovens catarinenses”.
O vídeo que mostra um adolescente se preparando para sair à noite, enquanto escuta vários recados de garotas na secretária eletrônica, inclusive um de uma amiga que revela a sorologia positiva para o HIV, continua a ser veiculado.
Para Sandro Sardá, ativista em direitos humanos da ONG Faça, os dois filmes suspensos associam a Aids a morte. Na sua opinião, as campanhas foram feitas como se não tivessem pessoas vivendo com HIV/Aids no estado. Os danos entre esta população foram terríveis. “Meu filho de 10 anos, que é soropositivo, assistiu ao filme e disse: ‘olha, mãe, esse é o testamento que eu vou deixar’. Foi muito difícil explicar que aquilo não iria acontecer com ele”, conta Sandra Oliveira de Moraes, que trabalha no Recanto do Carinho – uma ONG que atende crianças e adolescentes portadores do HIV. Ela diz que o filho está pouco estimulado para estudar e que tem conversado muito sobre o assunto com outros dois amigos soropositivos. “O que eles precisam é de estímulo para se cuidar e para pensar no futuro, não de uma sentença de morte”, desabafa a mãe. Maria Cristina, assistente social do Lar Recanto do Carinho, conta que logo após o início da exibição dos filmes foram notadas mudanças de comportamento nos internos, principalmente entre os mais velhos, de 16 anos. “Fizemos uma reunião com todas as crianças, conversamos e explicamos que não se pode acreditar em tudo. Mas é complicado desmentir o que se vê na televisão como informação oficial”.
O vídeo que continua a ser exibido também não agrada as ONG/Aids do estado. Segundo Sardá, a campanha é baseada em condutas morais, e estas são ineficazes. Porém, é menos prejudicial do que os outros dois.
A iniciativa do governo catarinense de promover campanhas de prevenção a Aids tinha tudo para ser um sucesso. Esta é a primeira vez que o estado destina recursos próprios para alertar a população sobre a doença. Todavia, a falta de diálogo com as ONG/Aids levou a confecção de peças publicitárias equivocadas. “É uma pena que no momento ao invés de estarmos comemorando uma bela campanha pública realizada em parceria entre Ongs e Estado, estejamos exigindo sua suspensão”, completa Sardá.