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Recifense vai testar vacina contra HPV

28/04/2003 - DIÁRIO DE PERNAMBUCO (PE)

Vírus é o maior responsável pelo câncer de colo de útero no Mundo

Vírus é apontado como o maior responsável pela incidência de câncer de colo de útero no Mundo

Apontado por levantamentos da Organização Mundial de Saúde, durante a década de 90, como a cidade com a maior incidência de câncer de colo do útero no Mundo, o Recife é o ponto de partida para uma pesquisa que pode renovar as formas de tratamento da doença. A Universidade de Sorbonne, na França, ao lado do Instituto de Pesquisa em Imunoterapia de Pernambuco (Ipipe) e do Hospital do Câncer, está desenvolvendo uma vacina terapêutica com uma nova técnica para combater o HPV (papiloma vírus humano), mais freqüente causador desse tipo de câncer, agindo também na regressão do tumor. O trabalho está sendo coordenado pelo oncologista Felipe Lorenzato, do Hospital do Câncer, e será testado com vítimas desse mal identificadas na capital pernambucana.

No momento, o estudo, que deve ser desenvolvido durante cerca de quatro anos, ainda está na fase definida pelo médico como projeto piloto. Os responsáveis estão ainda atrás de verbas complementares para a realização das pesquisas. A esperança, porém, vem do fato de que atécnica, já estudada no tratamento de outras doenças, como a Aids e a hepatite, vem dando bons resultados. "Além disso, por questões científicas, podemos dizer que ela é segura e tem tudo para funcionar bem", afirma Lorenzato. Os franceses darão o apoio técnico e financeiro, enquanto os pesquisadores do Hospital do Câncer e do Ipipe trabalharão na coleta do material e na coordenação da pesquisa.

VACINA - O novo tratamento consiste na extração de uma vacina baseada na própria biópsia das pacientes com tumor. Como Lorenzato explica, os linfócitos (células de defesa do organismo) serão cultivados e estimulados com o HPV encontrado no próprio corpo da vítima. O material obtido nesse processo será utilizado para a destruição do vírus e o combate ao próprio câncer. "Cada paciente terá sua própria vacina", revela o médico.

Essa forma de tratamento garante também uma abrangência total no combate aos diversos tipos de HPV conhecidos, já que pode ser utilizada no tratamento de pacientes com qualquer um dos cerca de20 tipos do vírus que atacam a genitália humana (16 deles considerados de alto risco). A tese de doutorado de Lorenzato, apresentada há dois anos na Universidade de Londres e tomada como a base para a pesquisa, apontou que 90% dos HPV encontrados no Recife pertencem a apenas cinco tipos: 16, 18, 31, 33 e 58. O estudo foi realizado com 2,5 mil pacientes do Hospital do Câncer, Imip, Barão de Lucena e Hospital das Clínicas.

"O câncer de colo do útero nem deveria existir mais, já que é possível se detectar a presença do HPV anos antes do tumor se desenvolver", diz Lorenzato, citando o desenvolvimento da técnica de exame PCR, que utiliza como base as recentes descobertas sobre o genoma humano para ter uma precisão maior na identificação do HPV (99,4% de segurança no diagnóstico, contra um máximo de 80% dos exames tradicionais, de citologia) e, de acordo com ele, já vem sendo utilizada em clínicas particulares do Sudeste do País.

SITUAÇÃO - O Recife apareceu como a cidade de maior incidência de câncer de colo doútero pela primeira vez em uma pesquisa realizada em 1990, pela Organização Mundial de Saúde. Um novo levantamento, sete anos depois, mostrou a situação inalterada: o Recife tinha um índice de 83,2 novos casos anuais para cada grupo de 100 mil mulheres. Agora, os números expostos na tese que serviu de base para a pesquisa da vacina contra o HPV confirmaram que a capital pernambucana permanece com uma alta incidência da doença. Das 2,5 mil mulheres examinadas entre 1998 e 2000, 42% tinham HPV. "Na Holanda, por exemplo, esse patamar chega a apenas 12%, segundo a OMS", diz Lorenzato.

Se depender dos esforços da comunidade científica mundial, entretanto, a vitória sobre o câncer de colo do útero pode estar próxima. A cada dia, surgem novas técnicas para combater a doença. A própria OMS já iniciou os testes com uma nova vacina, que emprega uma técnica diferente daquela que será utilizada pelo Hospital do Câncer no Recife.

Essa técnica surgiu nos Estados Unidos, onde uma vacina profilática vem sendo utilizada com sucesso. O medicamento consiste na sintetização do invólucro do vírus, que estimula a reação imunológica do organismo da vítima. Segundo Lorenzato, porém, a técnica só cobre um tipo de vírus, o HPV-16, e ainda deve levar algum tempo para ser testada no Recife.