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EPIDEMIA DE AIDS NO HAITI
16/05/2004 - Agência Aids
Preocupa soldados brasileiros em missão de paz da ONU
O envio de militares brasileiros para a missão de paz da ONU no Haiti servirá como um treinamento das Forças Armadas para, eventualmente, enfrentar situações de repressão à criminalidade no país, como no Rio de Janeiro, segundo o Ministério da Defesa. Mas o General brasileiro que irá comandar cerca de 1200 soldados em território haitiano tem uma preocupação a mais: a epidemia de Aids naquele país. Nesta edição de domingo o Jornal Folha de São Paulo traz uma entrevista com o General Américo Salvador de Oliveira. Acompanhe:
Aids é grande preocupação, afirma general
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No comando de 1.200 militares brasileiros a partir do mês que vem no Haiti, o general Américo Salvador de Oliveira, 56, diz que a alta taxa de Aids no país será uma preocupação dos militares na missão de paz. "Estamos orientando a tropa na questão da Aids, inclusive sobre o uso de preservativos."
Segundo o Ministério da Defesa, os militares têm sido orientados a evitar relações sexuais com haitianas durante os seis meses que estiverem no país. A preocupação não é apenas em relação à contração de doenças, como a Aids, mas também para evitar eventuais atritos com a população local.
Dados da CIA (agência de inteligência dos EUA) informam que 6,1% da população do Haiti está contaminada com o HIV, o vírus da Aids. No Brasil, a taxa é de 0,7%. O general Salvador afirma que as tropas brasileiras não estão indo para uma "guerra", mas estão prontas, por exemplo, para desarmar grupos rebeldes locais. Anteontem, ele recebeu a reportagem da Folha em seu gabinete, no quartel-general do Exército, em Brasília. (EDS e AS)
Folha - Como o sr. espera que as tropas do Brasil sejam recebidas no Haiti?
Américo Salvador de Oliveira - De forma favorável. Até porque já tem uma força multinacional interina atuando lá desde o início de março, composta por EUA, França, Canadá e Chile. E o que nos favorece, além de já haver uma relativa estabilidade, é a forma positiva como o povo haitiano enxerga o povo brasileiro. Quando o Brasil conquistou a última Copa [em 2002], o Haiti teve dois dias de feriados.
Folha - A ordem é desarmar a população, incluindo os grupos rebeldes que forçaram a saída do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide?
Salvador - Uma das missões é o desarmamento, e isso consta na resolução da ONU. Isso será uma missão dada pela ONU no terreno. Nós temos missões de caráter geral, o desarmamento poderá até vir a ocorrer, mas dependerá muito da situação que vamos enfrentar.
Folha - E como lidar com uma cultura diferente da brasileira?
Salvador - Estamos orientando a tropa nesse sentido. A maioria é de religião católica [como no Brasil], mas eles também praticam o vodu. Teremos o máximo respeito à cultura, à religião e aos costumes, porque a população não pode nos receber como um intruso, mas deve ter a imagem de que a força de paz está ali para apoiá-la. As pessoas têm de se sentir mais seguras com a nossa presença, não como se estivessem diante de uma tropa hostil. Não é uma guerra, não temos um inimigo, temos amigos.
Folha - As doenças locais também preocupam? Salvador - Estamos orientando a tropa na questão da Aids, inclusive sobre o uso de preservativos. Mas em outras medidas também há orientação, como na aplicação de vacinas, para a febre amarela, por exemplo, e em medicamentos contra a malária.