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CONE SUL ATACA AIDS NAS FRONTEIRAS

11/05/2004 - A TARDE (BA)

Crescem os números dos casos de aids nas divisas

Aumento da transmissão da doença chega a 600% nas regiões entre Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai

RIO DE JANEIRO – Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai discutem as causas do aumento das transmissões do vírus HIV nas regiões limítrofes, onde o aumento foi superior a 96% nos últimos anos, chegando a uma média de 600% em municípios como Cárceres, Uruguaiana, Chapecó e Cascavel. Coordenadores dos programas de Aids nesses países aprovaram documento propondo uma política conjunta para o enfrentamento da Aids nos municípios de fronteira.

Os casos doença notificados nos seis países chegam a 730 mil, dos quais o Brasil responde por 310 mil. Desses, 4.448 casos foram registrados nas principais cidades das fronteiras Sul e Oeste, das quais Foz do Iguaçu, na divisa com a Argentina e o Paraguai, responde pela maioria: 576 casos. Em seguida está Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, com 435 casos.

O aumento dos casos nas fronteiras se explica por vários fatores. O principal, segundo o Ministério da Saúde, é que as divisas são apenas geográficas, pois muitas cidades não passam de uma rua dividindo duas nações. As pessoas transitam livremente de um país a outro, usando, inclusive, serviços de saúde do vizinho.

PROSTITUIÇÃO – Além disso, há tráfico de drogas, prostituição e transporte de cargas nas fronteiras, contribuindo para o aumento das transmissões por via sexual e por uso de drogas injetáveis. A maioria dos casos ocorre em homens jovens heterossexuais, mas em municípios como Corumbá, Ponta Porã, Rio Grande, São Borja e Uruguaiana, as transmissões entre usuários de drogas representam 25% das notificações.

Entre as mulheres, a principal categoria de exposição ao HIV também são as relações sexuais (86%), mas já há registro de 12,6% de transmissão por uso de drogas injetáveis e de 1,6% por transfusão de sangue. Um outro aspecto relevante são os casos de crianças nascendo com o HIV por falta de assistência no pré-natal. Uruguaiana já responde por 57% da Aids perinatal nas fronteiras do Brasil.

Já a grande preocupação para a coordenadora do Programa de DST/Aids da Argentina, Gabriela Hamilton, são as transmissões verticais (da mãe para o filho). Segundo ela, tem aumentado muito o número de mulheres da Bolívia e do Paraguai que atravessam as fronteiras para ter filhos na Argentina, e como não há controle do pré-natal, os nascimentos de bebês soropositivos têm crescido.

TESTES RÁPIDOS – A Argentina precisaria de testes rápidos do HIV para realizar esses partos com segurança, mas ainda não tem um bom controle das transmissões verticais. A estimativa é que 120 mil pessoas tenham o vírus da Aids no país. O moralismo vigente em alguns países também impede o fortalecimento de ações preventivas e educativas. É o caso do Paraguai, onde uma lei seca tem levado os jovens para a marginalidade no consumo de álcool e drogas, de acordo com a coordenadora do país, Agueda Cabello.

Segundo ela, os novos casos de Aids têm ocorrido mais em jovens, numa proporção igual em homens e mulheres. O Uruguai tem uma estimativa de 0,3% da população vivendo com o HIV e 6 mil pessoas em tratamento. Na Bolívia, 4.500 pessoas recebem o coquetel de combate à doença, e a prevalência do HIV é próxima à do Brasil: 0,6% da população. Já o Chile necessita de informações mais precisas sobre a incidência da Aids no país.

A idéia dos coordenadores dos programas contra Aids é que os seis países usem a mesma metodologia para a vigilância epidemiológica do HIV, a prevenção, o tratamento e a assistência. Os recursos para implantação de uma política única poderão ser captados junto a instituições estrangeiras, como o Banco Mundial e a Opas (Organização Pan-americana de Saúde), organismos de cooperação da Alemanha e Inglaterra, e até de empresas binacionais, como Itaipu.