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Rio Preto: UDI - 30% dos casos de Aids

25/04/2003 - DIÁRIO DA REGIÃO

Troca de seringas é a causa de 30% da contaminação por Aids.

Mais de 30% dos casos de Aids notificados em Rio Preto ocorrem em usuários de drogas injetáveis. Dos 2.845 casos da doença registrados no município desde o início da década de 80, 896 ocorreram em pacientes que declararam usar drogas. Duas décadas após o descobrimento da doença no País por um infectologistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o controle da transmissão do vírus HIV ainda esbarra em preconceitos. Para discutir os diversos âmbitos da política pública de prevenção e combate à Aids em Rio Preto, a Secretaria Municipal de Saúde, o programa Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)/Aids e o Conselho Municipal de Saúde realizam, até sexta-feira, a 1a Conferência Municipal de DST/Aids. O evento tem como tema o estreitando laços para o comprometimento e a humanização.

O encontro vai reunir profissionais da Saúde, representantes do governo municipal e de associações de classe, além de portadores da doença. O objetivo é desmistificar o estigma que a doença causa em toda a sociedade. De acordo com a educadora Jacqueline Rocha Côrtes, do Grupo de Apoio ao Doente de Aids (Gada), o preconceito com o portador da doença, algumas vezes, tem início durante o tratamento médico. "Muitas vezes, o especialista que vai atender a um paciente com Aids tem medo de prescrever medicamentos que atrapalhem o tratamento. Outros temem a contaminação", diz. "O que muitos não levam em conta é que o HIV não é contagioso, mas transmissível", afirma. A conferência vai abordar quatro aspectos da doença - a epidemiologia, a prevenção, a assistência social e os direitos humanos. "Além do tratamento e dos números da doença, vamos discutir o que fazer para preservar os direitos da pessoa com Aids", diz Jaqueline. "Não basta ter remédio, tem de haver trabalho e dignidade".

Uma das questões abordadas no tema direitos humanos, por exemplo, é o direito à maternidade. "Uma mulher com Aids tem o direito de ser mãe, desde que faça o acompanhamento profilático (uso de medicamentos), que reduz em até 99% a possibilidade de transmissão vertical da doença (da mãe para o bebê na fase intra-uterina e na amamentação)", diz a educadora do Gada. Segundo os especialistas, no decorrer de mais de 20 anos de existência, a Aids adquiriu peculiaridades. As estatísticas do Gada demonstram que a doença passou a atingir mais os heterossexuais e "caminhou" para o interior do Estado de São Paulo. Com as mudanças nas características de contágio, foram alterados também alguns conceitos existentes. Até o final da década de 80, as campanhas de prevenção à doença eram voltadas para os chamados grupos de risco, que incluíam os homossexuais e os heterossexuais que não tinham parceiros fixos.

"Havia a concepção, por exemplo, de que uma mulher casada, em uma relação monogâmica, não precisava exigir o uso do preservativo", relata Jaqueline. "Quando, na verdade, se ela não usasse preservativo, estaria mais exposta ao vírus HIV que uma prostituta, que usa a camisinha em todas as relações sexuais e não corre riscos de contaminação", diz. Equívocos como esse também contribuíram para o avanço da Aids entre as mulheres casadas e os não usuários de drogas. E fez também com que os especialistas, estudiosos e profissionais ligados ao tema abolissem o termo grupo de risco.