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BRASIL PARTICIPA DE PESQUISA MUNDIAL

20/04/2004 - Revista Farmanguinhos

A Fiocruz será responsável pelo gerenciamento dos estudos

O Ministério da Saúde distribuiu medicamentos anti-retrovirais para 128 mil pacientes em todo país em 2003. Este ano, o número aumentará em 20 mil, atingindo a marca de 148 mil atendidos pelo Programa Nacional de DST/Aids, reconhecido internacionalmente pelos seus bons resultados. Além do sucesso do Programa na área de assistência à saúde, o Brasil também desponta na área de pesquisa sobre o tratamento e prevenção da doença, ao ser incluído num esforço internacional de estudos de ponta em Aids organizado por redes do National Institutes of Health (NIH), agência de pesquisa em saúde do governo americano.
A Fiocruz será responsável pelo gerenciamento dos estudos e resultados no Brasil. O trabalho inclui o teste de três novos medicamentos contra Aids em cem pacientes, a avaliação em 1.750 bebês de um esquema tratamento para evitar a transmissão da doença a recém-nascidos filhos de mães HIV positivas diagnosticadas durante o parto, duas estratégias de prevenção da transmissão do vírus em casais heterossexuais.
Até o fim de 2004, o grupo de ensaios clínicos em Aids, liderado por Beatriz Jegerhorn Grinsztejn, Valdiléa Veloso e José Henrique Pilotto, do Instituto de Pesquisa Evandro Chagas (Ipec), iniciará sua participação nos três estudos internacionais coordenados por redes ligadas ao NIH. Além de gerenciar os trabalhos e resultados no Brasil, o grupo fará o atendimento a pacientes. A equipe reúne especialistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), do Centro de Informação Científica e Tecnologia (Cict) e do próprio Ipec. O grupo participará de estudos conduzidos pelas redes Adult Aids Clinical Trials Group (AACTG) e HIV Prevention Trials Network (HTPN).
"Na área de tratamento, a parceria será com o AACTG, considerada a maior rede de ensaios clínicos do mundo. A pesquisa deve começar em junho deste ano e avaliará a eficácia de três tratamentos anti-retrovirais em cem pacientes brasileiros que ainda não recebem esse tipo de medicação. Ao todo, serão analisados 1.250 soropositivos em 12 centros de pesquisa espalhados em todo o globo.
Os pesquisadores da Fiocruz serão responsáveis pelo atendimento aos pacientes, análises laboratoriais e consolidação dos dados obtidos. A parceria com o AACTG já rendeu a ampliação das instalações do ambulatório do Ipec. O Instituto recebeu do NIH uma verba de U$ 84 mil para construção de oito novas salas para atendimento exclusivo a soropositivos.
Com o HTPN, o grupo participará de dois projetos na área de prevenção. O estudo HPTN 040 avaliará três medidas profiláticas pós-exposição usadas em recém-nascidos filhos de mães HIV positivas diagnosticadas durante o parto. Um total de 1.750 bebês será distribuído aleatoriamente em três grupos, que receberão medicações diferentes. O primeiro será tratado apenas com Zidovudina (AZT), medida preventiva padrão em todo o mundo. Já o segundo receberá também Nevirapina. Aos restantes será administrado um esquema formado por AZT, Lamivudina e Nelfinavir.
"A duração do projeto é de 33 meses e, a partir dos resultados obtidos, será possível identificar qual a opção mais eficaz na prevenção à transmissão vertical da Aids", explica Pilotto, frisando que, nesse projeto, o grupo será responsável pelo gerenciamento técnico global, administração, análises laboratoriais e consolidação dos dados.
Ainda na mesma rede, o estudo HPTN 052 vai comparar duas estratégias de prevenção da transmissão de HIV em casais heterossexuais em que um dos cônjuges é portador do vírus da Aids e o outro não, conhecidos como sorodiscordantes. Sessenta casais serão divididos aleatoriamente em dois grupos. Um terá contato apenas com os métodos comuns, como o uso da camisinha e o aconselhamento. No outro, os soropositivos sem indicação para tratamento anti-retroviral receberão remédios, além de terem acesso às medidas tradicionais.
"Vamos saber se a medicação tem algum efeito protetor nessa população que não exige tratamento", afirma Beatriz. O Ipec será responsável pelo gerenciamento nacional do estudo e pelo atendimento de parte dos pacientes. A previsão é que os trabalhos comecem no segundo semestre.
Além dos novos estudos, o grupo termina este ano uma parceria com o Comprehensive International Program of Research on Aids (Cipra), rede de apoio a estudos em Aids também ligada ao NIH. O Cipra concedeu ao grupo uma doação para planejamento e organização no valor de U$ 50 mil, o que permitiu a realização de treinamentos e eventos e a conclusão de um estudo com gestantes soropositivas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Em agosto, serão apresentados o relatório de atividades e um novo projeto de pesquisa. A meta é receber uma doação para pesquisa exploratória, que pode chegar a U$ 500 mil. Segundo a coordenadora do projeto, Mariza Morgado, do Instituto Oswaldo Cruz, com essa verba será possível aprofundar os trabalhos iniciados na primeira etapa, detalhando as diferenças entre as epidemias de Aids nos dois estados. Nesse novo estudo, será utilizada a mesma amostra do projeto HPTN 040.
Caso a proposta seja aceita, o grupo de ensaios clínicos renovará seu relacionamento com o Cipra, mantendo, simultaneamente, quatro parcerias com redes do NIH. Para Beatriz Grinsztejn, esse reconhecimento internacional é fruto do trabalho e dos resultados obtidos pela equipe nesses onze anos de atividades.
"Muitos dos principais avanços científicos na luta contra a Aids surgiram a partir de trabalhos desenvolvidos por redes do NIH. Participar disso é ser pioneiro na pesquisa sobre a doença", comemora Beatriz.

O que é o NIH?

Formado a partir do Laboratório de Higiene, criado em 1887, o National Institutes of Health (NIH) é hoje um dos principais pólos de pesquisa em saúde do mundo, englobando 20 institutos e sete centros localizados nos EUA. O NIH é ligado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo americano e desenvolve estudos em várias áreas, como câncer, genética, hematologia, alcoolismo etc. As redes Adult Aids Clinical Trials Group (AACTG), HIV Prevention Trials Network (HTPN) e Comprehensive International Program of Research on Aids (Cipra) fazem parte do National Institute of Allergy and Infectious Diseases, unidade responsável por estudos em alergia e doenças infecciosas.