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HTLV, UM VÍRUS "APARENTADO" DO HIV
12/04/2004 - Folha de São Paulo
Médicos recomendam mais controle do vírus HTLV
Durante encontro em Belo Horizonte (MG), pesquisadores reivindicaram estudos sobre o causador de um tipo raro de leucemia
Apesar de afetar só uma pequena parcela da população -e desenvolver doenças em apenas 1% a 4% dos infectados-, um vírus "aparentado" do HIV (que provoca a Aids), o HTLV, está aumentando sua presença na América do Sul, por falta de controle sanitário e estudos que definam sua incidência no continente.
Essa é uma das conclusões do 1º Encontro Sul-Americano de Pesquisadores do HTLV-1/2, que terminou anteontem na capital mineira com o lançamento da Carta de Belo Horizonte, que traz recomendações para impedir a disseminação do vírus e melhorar o atendimento ao portador.
O HTLV é um vírus da família dos retrovírus (a mesma do HIV). O tipo 1 do vírus (o tipo 2 não está associado à doença) causa principalmente uma modalidade rara de leucemia (doença que afeta as células de defesa do organismo) e uma doença neurológica grave que afeta a capacidade de andar. É transmitido pelo sangue e agulhas contaminadas, relações sexuais e de mãe para filho, por meio do aleitamento materno.
Estima-se que 15 a 20 milhões de pessoas no mundo sejam portadoras do HTLV-1. No Brasil, as estimativas apontam para 2,5 milhões de infectados pelo vírus, com incidências mais elevadas na Bahia (1,35% a 1,80% da população), Pará (1,61%) e Pernambuco (0,33% a 0,82%). No entanto, assim como no resto do continente, são dados baseados em estudos de grupos específicos, como doadores de sangue e gestantes.
Por conta disso, os pesquisadores reivindicam recursos para pesquisas que representem a população em geral. O único estudo desse tipo na América do Sul foi feito em Salvador entre 1998 e 1999 e apontou cerca de 40 mil infectados por HTLV-1 na cidade. Pesquisas relacionaram a alta incidência do vírus na capital baiana à introdução de linhagens virais vindas da África.
Outra recomendação da Carta de Belo Horizonte é a adoção, pelos governos dos países participantes, de testes obrigatórios para detecção de HTLV em bancos de leite e consultas pré-natais, o que não ocorre hoje. No Brasil, a triagem do vírus nos bancos de sangue é feita desde 1993 -na América do Sul, apenas Peru e Colômbia seguem o procedimento.
Estudo de 1998 do médico Mário Ivo Serinolli revelou que, de 96 bancos de sangue do SUS (Sistema Único de Saúde) analisados, 12 não faziam teste para HTLV.
Para o pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Salvador Bernardo Galvão, a transmissão do HTLV de mãe para filho no país tende a aumentar se campanhas de incentivo à amamentação não forem acompanhadas de orientações sobre o vírus. Daí vem outra recomendação dos especialistas: a criação de centros de referência em HTLV e esclarecimento de equipes de saúde nos diversos países.
Sem citar o valor, a hematologista e pesquisadora Anna Bárbara Proietti, presidente da Fundação Hemominas, afirma que o custo anual de pacientes com doenças causadas pelo HTLV é muito alto, o que justificaria investimentos em prevenção. Seu colega argentino, Carlos Remondegui, apresentou estudo no qual indicava um custo de cerca de US$ 19 mil/ano.
Também foi consenso entre os participantes do encontro -pesquisadores do Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela- que o impacto do HTLV na saúde pública vem sendo subestimado pelas autoridades sanitárias e que falta definir a gravidade do problema.