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ADOÃÃO E HIV
06/04/2004 - JORNAL DA CIDADE (BAURU)
Portadores de HIV têm espera longa
A ansiedade por encontrar um lar pode repercutir no sistema imunológico das crianças que aguardam pais adotivos
A Sociedade de Apoio a Pessoas com Aids de Bauru (Sapab) possui um abrigo para as crianças portadoras da doença que estão sem famÃlia. Atualmente, há seis menores, com idades entre 6 e 11 anos disponÃveis para adoção. No entanto, lá a expectativa não é tão grande quanto nas outras entidades.
A presidente da Sapab, Mafalda Sparapan, explica que a situação das crianças portadoras do vÃrus HIV é diferente dos demais órfãos de Bauru. âNão se pode criar nessas crianças a expectativa de que serão adotadas, pois isso pode até prejudicar o tratamento contra a doençaâ, salienta.
Ela diz que a ansiedade por um lar pode repercutir no sistema imunológico desses pequenos, a ponto de prejudicar o tratamento contra a doença.
âAlém disso, todos sabemos que o preconceito existe e que é muito complicado para uma famÃlia optar pela adoção de uma criança soropositivaâ, salienta.
Ela conta que teve apenas um caso no ano passado. Uma famÃlia, que também estava contaminada pelo HIV, resolveu adotar uma menina recém-nascida que estava na entidade.
No entanto, isso é muito raro de acontecer. âPara uma famÃlia optar por levar para casa uma criança que tenha o vÃrus, é preciso que as pessoas tenham muita estrutura financeira e emocional, pois ela terá de conviver com uma criança que precisa de tratamento constanteâ, destaca.
Bebê ou criança?
Quando o filho adotivo do casal José Marcos Teodoro Vaz e Celina Vaz completou 19 anos, eles acharam que estava na hora de ter um outro filho do coração. O primeiro, eles haviam adotado ainda bebê e agora ele se tornara um adulto.
Na busca por uma outra criança, eles procuraram o Juizado da Infância e Juventude e se cadastraram para uma nova adoção. âNa época, pensávamos em pegar outro bebêâ, esclarece Celina. Ao chegar à casa-abrigo, eles conheceram Rodrigo, então com 6 anos. âFoi uma quÃmica instantânea. Nós ficamos interessados nele e ele em nósâ, conta.
A partir daÃ, o processo foi muito rápido. Após confirmar o interesse pelo menino, o casal foi para casa e, logo em seguida, recebeu um telefonema avisando que podiam buscá-lo para passar o final de semana juntos.
Celina explica que, embora o casal não estivesse preparado psicologicamente para uma adoção tardia, o processo de adaptação de ambas as partes foi rápido e sem problemas.
Passado um perÃodo de convivência, ela explica que teve alguns contratempos com o desenvolvimento de Rodrigo, principalmente na escola. âDepois de um certo tempo, ele apresentou algumas dificuldades de aprendizado na escola e passou a se comportar como um bebê dentro de casa. Mas nós superamos tudo isso e hoje posso dizer que foi e está sendo uma experiência maravilhosa. Só quem vivencia isso pode dizer como éâ, atesta.
José Marcos e Celina são um exemplo do que a psicóloga Maria José Barbosa defende: antes de escolher a criança, é preciso fazer uma visita à casa-abrigo para sentir o que diz o coração.
Por outro lado, há pessoas determinadas a ter um bebê em casa e, para isso, sofrem a ansiedade de longos anos na fila de espera. Foi o que aconteceu com o casal Carlos e Maria (eles preferiram não dar o nome completo).
Depois de dois anos de expectativa, eles conseguiram adotar uma menina de 2 meses de idade. âNós tÃnhamos 20 anos de casamento e eu não consegui engravidar. QuerÃamos ter a sensação de curtir um bebê, de educar e cuidar desde pequenininhoâ, explica Maria.
Para suportar a angústia da espera, ela e o esposo contaram com a ajuda do Grupo de Apoio à Adoção Amigos da Vitória. âEncaramos esse perÃodo como se fosse uma gestação. E foi muito válido para o nosso amadurecimento com relação à adoçãoâ, diz Maria.
Um ano depois de conseguir a guarda da menina, Carlos e Maria entraram novamente na fila de espera. Desta vez, no entanto, optaram por adotar uma criança com mais de 2 anos.