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LABORATÓRIO PRIVADO DARÁ FINANCIAMENTO
01/04/2004 - JORNAL DO COMMERCIO (RJ)
ONG recebe licença para desenvolver gel anti-HIV
A Tibotec Pharmaceuticals, subsidiária da Johnson & Johnson, cedeu à organização sem fins lucrativos Associação Internacional para os Microbicidas (IPM) uma licença para o desenvolvimento de um gel experimental que poderia ajudar a prevenir a transmissão do HIV nos países pobres.
O acordo marca a primeira colaboração no campo dos microbicidas entre uma companhia farmacêutica e uma associação sem fins lucrativos que é financiada com recursos públicos e privados. Esse acordo demonstra que os setores público e privado podem se unir para combater a pandemia global de Aids, assim como para salvar a vida de muitas mulheres, comentou Zeda Rosemberg, diretora da IPM.
Zeda acrescentou que quase a metade dos infectados pelo HIV no mundo são mulheres por serem biologicamente mais vulneráveis às infecções e por não terem autoridade suficiente para exigir que o parceiro use preservativo. De acordo com um relatório da Fundação Rockefeller, os microbicidas, apesar de serem apenas parcialmente efetivos, podem prevenir 2,5 milhões de infecções pelo HIV nos próximos três anos.
A partir de agora, a IPM poderá desenvolver um gel de uso tópico vaginal, que contém o antiretroviral TMC120, para proteger as mulheres do contágio pelo HIV. A chegada do produto ao mercado, no entanto, deve demorar de cinco a dez anos.
O produto encontra-se atualmente na primeira fase dos testes clínicos. A Tibotec comprometeu-se a financiar a segunda fase. Os remédios, antes de serem aprovados pelos órgãos reguladores americanos, têm de passar por três fases de provas clínicas, um processo que pode custar de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões.
Atualmente, estão em desenvolvimento cerca de 60 produtos microbicidas, dos quais 14 encontram-se em fase experimental. Na semana passada, pesquisadores britânicos anunciaram um amplo teste, em 12 mil mulheres africanas, de duas pomadas anti-HIV produzidas pela empresa ML Laboratories.
Os microbicidas é uma das esperanças científicas mais urgentes que temos para a luta contra o HIV e a Aids. O avanço das investigações ajudaria às mulheres da África a obter uma autonomia sexual, disse Stephen Lewis, enviado especial da ONU para a Aids no continente africano.
Descuido causa aumento da contaminação
Os novos tratamentos, disponíveis principalmente em países desenvolvidos, estão deixando as pessoas mais descuidadas e, conseqüentemente, provocando um aumento dos índices de contaminação pelo HIV. O alerta é do especialista David Ho, do Centro de Pesquisas de Aids Aaron Diamond, ligado à Universidade Rockefeller (EUA).
Obviamente, a disponibilidade de terapias que podem evitar a morte, em alguns lugares, pode resultar em complacência. E isso tem acontecido nos Estados Unidos e em países da Europa, disse Ho. A complacência é trágica. Estamos vendo, entre os jovens americanos, um aumento dos índices de infecção, especialmente entre jovens homossexuais. Apesar das lições aprendidas nas últimas décadas, os erros estão sendo repetidos, acrescentou.
David Ho, que colaborou para a criação dos inibidores de protease peça-chave do combate ao HIV , pediu uma campanha de conscientização agressiva para que as pessoas não deixem de tomar cuidado. A Aids é a principal causa de morte na África e as agências de saúde acreditam que possa afetar mais de 10 milhões de pessoas na China até 2010. No mundo, são 40 milhões de infectados.
A China mostrou sua preocupação com a doença no ano passado, quando o premier Wen Jiabao conversou com pacientes em um hospital de Pequim, mas especialistas afirmam que a conscientização não chegou às autoridades locais e ao povo.