Notícias

A PROTEÇÃO DE GRANDES INTERESSES

01/04/2004 - O GLOBO

"Bush é inimigo dos soropositivos", acusa MSF

A organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou hoje o governo de George W. Bush de proteger os interesses dos grandes laboratórios farmacêuticos ao criar empecilhos para o uso de medicamentos genéricos contra a Aids — sobretudo as combinações de doses fixas — em seu plano global de combate à doença.
Segundo especialistas da ONG, em razão desta atitude, milhares de pessoas estariam deixando de receber os anti-retrovirais. Comunicado divulgado hoje no site da organização informa que a mais barata combinação tripla (de três antiretrovirais), aprovada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), custa US$ 140 por paciente ao ano.
No entanto, se os mesmos remédios fossem adquiridos na indústria de marca, o valor do tratamento chegaria a US$ 562 por paciente ao ano e o doente teria que ingerir seis pílulas por dia, o que dificulta a adesão ao tratamento. Ou seja, cada vez que se opta pelos medicamentos de marca, outras três pessoas deixam de ser atendidas.
"É uma vergonha", afirmou Michel Lotrowska, representante no Brasil da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF. "Nos parece uma tentativa de beneficiar a indústria farmacêutica que ajudou a eleger Bush.
Segundo Lotrowska, a administração Bush alega que não foram feitos testes clínicos em pessoas com essas drogas e que, por isso, elas não poderiam ser adotadas.
"Isso é absurdo porque eles estão querendo impor um padrão de qualidade mais alto do que o praticado nos Estados Unidos", afirmou Lotrowska, lembrando que há drogas combinadas no mercado americano que não foram submetidas a testes clínicos e que esses testes foram feitos nas drogas originais, separadamente.
No discurso sobre o Estado da União de 2003, Bush prometeu destinar US$ 15 bilhões ao longo de cinco anos para o combate à Aids na África e no Caribe, mas suas propostas de orçamento reduziram bastante esta meta. Sua mais recente doação para o Fundo Global de Combate a Aids, Tuberculose e Malária foi de apenas US$ 200 milhões, embora o Congresso tivesse autorizado um total de US$ 550 milhões.
Matéria publicada hoje no “New York Times” denunciava que três anos depois de as Nações Unidas anunciarem uma ofensiva mundial contra a Aids e 14 meses depois de Bush prometer os US$ 15 bilhões para o tratamento da doença mais de 90% das pessoas que precisam de antiretrovirais não têm acesso a eles. Segundo a OMS, das seis milhões de pessoas que precisam das drogas nas nações mais pobres somente cerca de 300 mil as estão recebendo.