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CO-INFECÇÃO AIDS E HEPATITE C
17/03/2004 - FOLHA ON LINE
Pessoas com AIDS podem se curar de hepatite C, diz estudo
Temía-se que remédios para hepatite C interferissem com tratamento para a Aids
Um estudo mundial com pacientes com os vírus da Aids e da hepatite C mostra que a hepatite C pode ser curada em 40% dos casos com o uso dos mesmos remédios utilizados em pacientes que não têm Aids.
"Os resultados são muito importantes porque antes tínhamos receio de que esses remédios interferissem no tratamento contra a Aids", diz a infectologista Maria Cássia Mendes Corrêa, coordenadora da área de hepatites da Casa da Aids, do Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos quatro hospitais brasileiros envolvidos no estudo.
No Brasil, 30% dos pacientes infectados com HIV também têm o vírus da hepatite C, já que o método de transmissão das duas doenças é semelhante. Entre usuários de drogas, que se contaminaram através de seringas, o índice de infecção por hepatite C chega a 70%.
Na população brasileira em geral, o índice de contaminação pelo vírus da hepatite C é em torno de 1,5%.
Estudo
O estudo foi realizado em 886 pacientes de 19 países, 46 deles em quatro hospitais brasileiros. Os pacientes foram tratados com uma combinação de interferon peguilado alta 2a e ribavirina, remédios que já eram usados contra a hepatite.
O objetivo do estudo foi verificar se eles faziam efeito e não produziam nenhuma complicação para o paciente quando utilizados em conjunto com os remédios contra a Aids.
Os resultados do estudo, patrocinado pelo laboratório Roche, que produz os medicamentos usados no tratamento contra a hepatite, serão apresentados na próxima semana no Congresso Internacional de Estudos do Fígado, em Salvador.
O tratamento contra a hepatite em doentes de Aids tornou-se importante nos últimos anos, com os avanços nos medicamentos contra a Aids. Como esses remédios prolongam a vida do paciente por vários anos, muitos não desenvolviam complicações decorrentes da Aids, mas morriam com hepatite crônica ou cirrose.
Aceleração
A presença do vírus da Aids também acelera o desenvolvimento de doenças hepáticas em portadores do vírus da hepatite C.
"Nos locais onde se usam os remédios contra Aids corretamente, as mortes por hepatite B e C superam as doenças oportunistas e representam 50% das causas de morte entre pacientes com Aids", diz Maria Cássia.
Antes mesmo da conclusão do estudo, os médicos brasileiros já usavam esses medicamentos para tratar hepatite em pacientes com Aids.
"A situação era muito grave, as pessoas estavam morrendo, então tínhamos que tentar fazer alguma coisa", conta o médico hepatologista Mario Guimarães Pessoa, do hospital Emilio Ribas, que também participou da pesquisa.
"Com a publicação deste estudo ninguém vai ter dúvida de que é importante tratar esses pacientes", afirmou.