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FALTA DE KITS
07/03/2004 - Folha de São Paulo
Falta de kit afeta atendimento a soropositivo
Em SP, material para exames que avaliam o avanço do HIV e orientam o tratamento começou a faltar em meados de fevereiro
Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo estão restringindo o atendimento a soropositivos por falta de kits de exames que permitem acompanhar a evolução do HIV e orientar o tratamento.
Falta material para a realização de dois exames. O de CD4 é usado para medir a quantidade de células de defesa (glóbulos brancos) no organismo. Já o de carga viral avalia a quantidade de vírus. Para que o acompanhamento da doença seja eficaz, é necessário realizar os dois exames juntos.
Só no Estado de São Paulo, metade dos 15 mil exames de CD4 deixou de ser realizada nos 25 laboratórios credenciados, diz a Coordenação Estadual do Programa DST/Aids. O órgão não soube informar quantos dos 15 mil testes de carga viral não foram feitos.
Em São Paulo, há desabastecimento desde a segunda quinzena de fevereiro, diz o coordenador do programa paulista, Artur Kalichman. Nesta semana, o Ministério da Saúde enviou emergencialmente para o Estado 6.096 testes de CD4 e 13.100 de carga viral, que não atenderam à demanda. Para o Rio, foram enviados 4.150 testes de carga viral e 2.000 de CD4, segundo a Coordenação Nacional do Programa DST/Aids.
A atribuição da compra do kit é do Estado -o município informa a demanda. Para o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Gastão Wagner, os Estados subestimaram a quantidade de kits que deveriam ser comprados, mas a distribuição estará normalizada no início da próxima semana.
Kalichman, do programa paulista, diz que houve "problema com a ata de registro de preços, mas vamos normalizar a entrega dos kits na próxima semana".
Outros sete Estados também receberam kits dos dois exames para evitar o desabastecimento. Distrito Federal, Espírito Santo e Rio Grande do Sul só receberam kits de CD4. Para Tocantins, Piauí, Maranhão e Acre foi enviado material para avaliar a carga viral.
Há 82 laboratórios credenciados no país para o exame de CD4 e 69 para o de carga viral.
A Coordenação Nacional de DST/Aids informou que alguns laboratórios alertaram, em dezembro, para a falta dos kits.
Restrição de exames
A escassez fez o laboratório do Hospital de Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) anunciar ontem a restrição de exames a crianças, gestantes e pacientes em início de tratamento, desde que a amostra de sangue já tenha sido coletada.
O laboratório da Unicamp atende 800 pacientes por mês, segundo a instituição, o que significa demanda de 1.600 kits -metade para cada tipo de exame.
Desde a última quinzena de fevereiro até ontem, a Unicamp tinha 320 amostras de sangue armazenadas aguardando o exame.
As coletas de sangue também foram suspensas, pois não há como armazenar mais amostras. Cristina Alba Lalli, coordenadora do HC da Unicamp, disse que os exames de CD4 e de carga viral são feitos de três a quatro vezes ao ano em todos os soropositivos.
A amostra de sangue pode ser guardada por três anos, mas, segundo a Unicamp, após três meses, o teste só avalia o registro da evolução da doença, e não serve mais para orientar o tratamento.
Além do não-acompanhamento da doença, a falta dos exames acaba mexendo com a estabilidade emocional do soropositivo. "Fico mal-humorado, tenho falta de memória e até perco a fome quando fico sem fazer exame", disse Joaquim dos Santos, 36, portador do vírus há quatro anos.