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AIDS NA ÁFRICA

17/02/2004 - Reuters Geral

Faltam remédios no programa anti-Aids da Nigéria

LAGOS (Reuters) - O ambicioso projeto nigeriano contra a Aids foi atingido por uma escassez de medicamentos genéricos, o que coloca em risco a sobrevivência de milhares de pessoas infectadas com o HIV, disseram ativistas e pacientes na segunda-feira.
O programa de controle de Aids da Nigéria foi lançado em 2002 e é o maior da África. Seu objetivo é distribuir medicamentos genéricos fabricados na Índia.
Mas ativistas dizem que os 25 centros de tratamento, criados pelo governo para distribuir drogas anti-retrovirais inicialmente a 10 mil adultos e 5.000 crianças, ao custo mensal subsidiado de sete dólares por pessoa, estão sem estoques.
Nsikak Ekpe, presidente da Aliança contra a Aids da Nigéria, disse à Reuters que o fornecimento de medicamentos aos centros é instável desde setembro. "Alguns deles são conhecidos até por dar remédios vencidos aos pacientes", afirmou.
Segundo Ekpe, o Comitê de Ação Nacional contra a Aids, um órgão governamental, já anunciou que não tem verbas e por isso não pode oferecer novos estoques de remédios. Fontes governamentais não foram encontradas para comentar o caso.
Diante dessa situação, alguns pacientes recorrem ao mercado para comprar o coquetel de medicamentos a preços que vão de 50 a 220 dólares, aproximadamente, segundo a região. Cerca de dois terços dos nigerianos vivem com menos de um dólar por dia.
"A situação está muito deprimente. Preciso procurar dinheiro todos os meses para comprar remédios para mim e para meus dois filhos", disse uma mulher à Reuters, que pediu para não ser identificada. "Mas eu tenho sorte, porque ainda estou trabalhando. Muita gente perdeu seus empregos e não pode arcar com as drogas."
Segundo ela, não há medicamentos genéricos para as crianças na Nigéria, mas muitos pais simplesmente dão a seus filhos um quarto ou meia dose da prescrição para adultos, dependendo da idade.
Bede Eziefule, do Centro pelo Direito à Saúde, disse que o governo politizou o programa de anti-retrovirais. "O que queremos ver é que as drogas estejam disponíveis nos centros governamentais, e não declarações políticas que as autoridades fazem em todas as partes", disse Eziefule.
Dados do governo e da ONU dizem que há cerca de 3,5 milhões de portadores do HIV entre os 130 milhões de nigerianos. Isso significa mais do que os 5 por cento de prevalência a partir dos quais, segundo especialistas, a epidemia começa a crescer exponencialmente, ameaçando o futuro econômico e social do país.