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ADOLESCENTES NECESSITAM CUIDADOS

16/02/2004 - Jornal do Comércio - PE

Garotas, grupo de risco da Aids

Ministério da Saúde indica que a incidência de novos casos da doença é maior entre as adolescentes. Principal causa seria a falta do uso da camisinha

Depois de ter crescido entre mulheres casadas, geralmente infectadas pelos próprios maridos, a Aids agora está aumentando entre adolescentes do sexo feminino. Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, estão ocorrendo mais casos de Aids entre garotas do que garotos. De 2000 a 2002, foram notificados 372 novos casos da doença entre meninos. Entre as meninas, o número chegou a 531. São quase dois novos casos entre elas para um entre eles. Embora o ministério afirme que o uso do preservativo tem crescido de maneira geral, os números nos levam a crer que, pelo menos entre o público adolescente feminino, a proteção não avança. Ou seja: as meninas precisam se cuidar mais.

“Tem muita garota que eu conheço que prefere usar a pílula do dia seguinte. Elas só se preocupam com gravidez. No geral, os jovens acreditam que nada de ruim pode acontecer”, diz o estudante Artur Pereira, 18 anos, que admite já ter deixado de usar camisinha no início de sua vida sexual.

Embora uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em janeiro tenha constatado que 65% dos adolescentes costumam usar preservativos na primeira transa, Artur acredita que a adesão à camisinha é muito menor entre os jovens. “Tem gente que acha ruim. Pelas histórias que ouvi, posso dizer uma coisa: pelo menos nas últimas férias, em Porto de Galinhas, o uso de camisinha caiu muito”, diz ele, sobre o balneário que reúne milhares de adolescentes nas férias.

Com o sangue controlado e os casos de transmissão pelo parto cada vez menores, os portadores jovens de HIV estão se contaminando pelo sexo. “O grande percentual de casos está relacionado a relações sexuais desprotegidas”, diz François Figueiroa, coordenador estadual do Programa de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids, que diz que, apesar do aumento de casos, o HIV não está sofrendo um processo de “juvenização”. A maioria das infecções ainda se dá em indivíduos adultos.

Mas ele aponta causas para o fato de o vírus estar aumentando entre as adolescentes: “As meninas normalmente se iniciam sexualmente com homens mais velhos, que têm mais probabilidade de estarem infectados”.

“O que eu vejo é que, quando as meninas estão namorando sério não querem mais usar o preservativo”, opina a adolescente Ludmylla Albuquerque, 16 anos, que é virgem, mas diz saber a importância do sexo seguro. “Quando se resolve dar início à vida sexual, não se pode esquecer o preservativo”, diz. “A vida sexual das meninas começa cada vez mais cedo. Tem menina de 13, 14 anos, que já faz sexo. Com tão pouca idade, elas não têm informação e preparo”, opina.

O estudante Vitor Loureiro, 18 anos, diz estar entre os adolescentes que nunca deixaram de usar preservativo. Mas sabe que camisinha não costuma ser indispensável entre os jovens. “A maior preocupação é sempre engravidar. Embora as pessoas que estão na escola tenham informação suficiente, elas deixam de usar”, diz.

“Sempre que vou a uma festa, levo camisinha comigo. Sei que não é bom deixar na carteira, para não danificar. Mas conheço gente, principalmente em festas, apressada, que deixa a camisinha para lá”, diz o amigo Rafael Rocha, 16 anos. “Meus amigos, por exemplo, dizem que não gostam de camisinha no sexo oral.” Entre um descuido e outro, os números de infecções, embora discretamente, estão aumentando.