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POSTOS DE SAÚDE SEM MEDICAMENTOS
12/02/2004 - O GLOBO
Nem Justiça consegue fazer chegar remédio
A Secretaria municipal de Saúde já responde a cerca de 3.200 ações de pacientes que cobram da prefeitura a entrega de medicamentos não disponíveis nos postos de saúde. Mesmo recorrendo à Justiça, os doentes, que acusam o município de descumprir as decisões dos magistrados, não têm conseguido receber os remédios. O secretário de Saúde, Ronaldo Cézar Coelho, se defende. Segundo ele, o material cobrado não consta da cesta do Sistema Único de Saúde (SUS) e, por isso, a prefeitura não consegue atender aos pedidos.
Ronaldo Cézar pretende se reunir com o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Miguel Pachá, para tentar solucionar o impasse. A conversa, contudo, não deve avançar: o TJ informou ontem que os juízes vão continuar decidindo em favor dos pacientes, com base na Constituição federal. O problema deve ser levado a Brasília. Ronaldo Cézar disse que está tentando uma audiência com o ministro da Saúde, Humberto Costa, para discutir o assunto.
O problema do Rio não é único. Queremos discutir com o ministro uma maneira de aumentar o número de remédios do SUS disse o secretário.
O Ministério da Saúde confirma que já estuda formas de ampliar a lista de 90 remédios do SUS, mas que isso depende também de estados e municípios.
Decisão de juíza em abril até hoje não foi cumprida
Enquanto permanece o impasse, a aposentada T., de 74 anos, espera desde abril passado que a prefeitura cumpra uma decisão da juíza Valéria Bachara, da 1 Vara Fazendária. No despacho, a juíza determina que o município entregue à aposentada seis medicamentos, que custam cerca de R$ 2.500.
É uma situação muito triste. Pagamos nossas obrigações em dia e, quando precisamos, não temos os remédios disse T., que tem câncer de pulmão.
No oitavo andar da prefeitura, onde os pacientes que entraram com ações retiram os medicamentos, o que não falta é reclamação. Ontem, a professora I., de 48 anos, voltou para casa, pela segunda vez em um mês, sem os remédios para o filho, que ficou paralítico após ser atingido por uma bala perdida.
Disseram que só vai ter medicamento em março. Na secretaria estadual também nunca tem remédio contou I.
O governo do estado também responde a milhares de ações. De acordo com pacientes atendidos pelo estado, vários remédios estão em falta, o que impede que as decisões judiciais sejam cumpridas. A Secretaria estadual de Saúde informou que tem procurado cumprir as decisões e que a falta de medicamentos está sendo solucionada.