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11 MILHÕES DE ÓRFÃOS NA ÁFRICA
02/02/2004 - GAZETA DIGITAL (MT)
A tragédia dos órfãos da Aids
O HIV deixou mais de 11 milhões de órfãos na África e, segundo o Unicef, caso o avanço da doença continue, em 2010, cerca de 40 milhões de crianças do continente terão perdido um de seus pais.
O vírus de imunodeficiência humana (HIV) já deixou mais de 11 milhões de órfãos na África, mas, segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o pior ainda está por vir. Caso o devastador avanço desta doença continue, em 2010, cerca de 40 milhões de crianças em todo o continente africano terão perdido, pelo menos, um de seus pais.
A Aids, que castiga especialmente a África, sobretudo as regiões central e meridional do continente, que tem 29 milhões de portadores e doentes, já se manifesta em gerações de órfãos cujo único futuro será a fome e a pobreza, diz um relatório apresentado em Johanesburgo pela ONU.
O Unicef destaca que os países onde ocorrerá o maior aumento do número de órfãos (Botsuana, Lesoto e Suazilândia) são aqueles onde a Aids afeta mais de 30 por cento da população. Nesses três países, assim como no Zimbábue, pelo menos uma em cada cinco crianças terá ficado órfã em 2010, 80 por cento delas por causa da Aids.
A diretora executiva do Unicef, Carol Bellamy, comenta: "Devemos manter os pais com vida e assegurar, assim, que os órfãos e outras crianças em situação de grande vulnerabilidade freqüentem suas escolas e estejam protegidas da exploração e do abuso".
A África Subsaariana é lar de quase três quartos das pessoas infectadas com o HIV ou doentes de Aids no mundo. Na mesma região, vivem oito de cada dez crianças que perderam seus pais em virtude da doença, indica o relatório do Unicef.
É exatamente na África, onde apenas 1 por cento das 29 milhões de pessoas infectadas ou que desenvolveram a doença têm acesso a remédios que possam prolongar suas vidas.
No último ano, cerca de três milhões de africanos morreram por causa da Aids. Em muitos países, as mortes já se igualam ao número de contágios, o que significa um "círculo vicioso" de infecção e morte.
O documento confirma que, em 2010, mais de 20 milhões de crianças nas regiões subsaarianas terão perdido pelo menos um de seus pais em função da Aids. Além disso, metade dos órfãos da região terá visto seus pais morrerem vítimas da epidemia.
Estatísticas "assustadoras", que Bellamy considera um "atropelo e um inaceitável sofrimento para as crianças".
No entanto, a África permanece notoriamente indiferente e são muito poucos, dos países mais afetados ao sul do Saara, que se comprometeram ou que podem enfrentar esta catástrofe humanitária.
O relatório do Unicef adverte que o fracasso na reação à crise dos órfãos na África ameaça tanto o futuro das crianças, como também as possibilidades de desenvolvimento de suas comunidades e países.
O aumento desenfreado de órfãos da Aids representa um peso insuportável para as frágeis estruturas sociais africanas, indica o documento das Nações Unidas, pois famílias já numerosas têm que assumir a responsabilidade por 90 por cento dos jovens que perderam seus pais.
Segundo o Unicef, mesmo em países como Uganda, onde a transmissão da Aids se estabilizou ou diminuiu, o número de órfãos se manterá elevado ou aumentará enquanto morrerem pais e mães soropositivos.
Para a agência da ONU, essa assombrosa quantidade de órfãos na África é só "o começo de uma crise de proporções gigantescas, embora o pior ainda esteja por vir".
Segundo comprovou o Unicef, em 90 por cento de casos, parentes assumem as crianças órfãs. O grande problema é que "grande parte" dessas famílias já tem um número excessivo de integrantes e enfrentarão gastos cada vez maiores conforme o crescimento do número de órfãos, explica.
Ao problema se acrescenta o aumento das famílias encabeçadas por mulheres e avôs, que geralmente são mais pobres e têm cada vez menos capacidade para atender adequadamente às crianças.
Além disso, o Unicef frisa que muitos dos países africanos mais afetados pela epidemia carecem de um sistema nacional para o atendimento das necessidades das crianças órfãs, inclusive as que são vulneráveis por causa da Aids.
Deste modo, dos 40 países africanos com epidemias generalizadas (com uma taxa de incidência entre a população adulta igual ou superior a 1 por cento), só seis países têm uma política adequada a este grupo infantil.
No entanto, o drama não começa com a morte de algum dos progenitores, mas muito antes, quando, por causa da doença, os adultos são impedidos de trabalhar e de cultivar suas terras, a renda familiar cai, o pouco dinheiro é gasto com remédios e as crianças são obrigadas a começar a trabalhar e a deixar os estudos.
"As depressões são comuns e as estratégias de sobrevivência, como a venda de pertences e a sub-alimentação, intensificam a vulnerabilidade dos lares", destaca o relatório.