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O CARNAVAL DA CAMISINHA

21/01/2004 - Folha de São Paulo

Justiça deve intervir em desfile, diz arcebispo

Carnavalesco Joãosinho Trinta, do Rio, levará para a avenida o enredo "Vamos Vestir a Camisinha, Meu Amor"

O arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheid, disse ontem, após rezar uma missa em homenagem a São Sebastião, padroeiro da capital fluminense, que "a Justiça deve intervir" se as escolas de samba forem mostrar na Marquês de Sapucaí alguma "cena indecorosa e inaceitável".

Ele referia-se à escola Acadêmicos do Grande Rio, que trará um enredo sobre o uso de preservativos intitulado "Vamos Vestir a Camisinha, Meu Amor".

O carnavalesco Joãosinho Trinta promete levar à avenida um carro alegórico com esculturas gigantes que simulam posições sexuais do Kama Sutra (livro indiano milenar que descreve posições sexuais).

O carro abre-alas mostrará Adão e Eva tendo relações sexuais no Paraíso, e a comissão de frente será inspirada no quadro "O Jardim das Delícias", de Bosch.

As fantasias também terão temática sexual. As roupas do casal de mestre-sala e porta-bandeira serão todas feitas com preservativos. Uma das alas, que tem cerca de cem componentes, simulará as posições do Kama Sutra.

D. Eusébio disse que o Carnaval está muito distante e que ainda não conhece o conteúdo dos enredos. Por isso não pode afirmar que a arquidiocese entrará com algum recurso judicial para impedir o desfile da alegoria.

"Mas, se for para desacreditar o Carnaval perante o mundo, através de uma cena indecorosa e inaceitável, naturalmente eu acho que a Justiça deve intervir", disse. Para ele, "imagens indecentes estragam a festa e perturbam a paz".

Ano passado

No desfile do ano passado, as manifestações contrárias da igreja fizeram com que a Beija-Flor deixasse de mostrar a alegoria de um Cristo armado, que duelaria com o Diabo. O duelo terminaria com uma menina de rua ferida por uma bala perdida.

Na ocasião, dom Eusébio se manifestou a favor da aplicação da lei estadual 3.507, que prevê a desclassificação das escolas "que praticarem vilipêndio ou escárnio a valores religiosos".

O carnavalesco Joãosinho Trinta não foi encontrado ontem pela reportagem para comentar a declaração do arcebispo.

No domingo, em entrevista à Folha, ao ser questionado sobre a opinião da Igreja Católica, respondeu: "Se houver alguma censura, iremos encará-la como um ato nazista".

A Riotur (empresa municipal de turismo) e a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) disseram que não irão se pronunciar sobre o assunto