Notícias

FREI BETO -O PRESERVATIVO DEVE SER USADO

15/12/2003 - O GLOBO

Polêmica sobre o uso dos preservativos

Em meio à polêmica instalada entre a Igreja Católica e o Programa Nacional de Aids do Ministério da Saúde, Frei Betto saiu em defesa do uso da camisinha na prevenção à doença. “O preservativo deve ser utilizado porque se trata de salvar vidas”, afirmou o religioso, assessor especial da Presidência da República.
Roberta Jansen

O senhor acompanhou, ao longo da semana, a discussão entre o governo e a Igreja a respeito do uso do preservativo na prevenção da Aids. Como o senhor se posiciona em relação ao assunto?

FREI BETTO: A minha posição é a mesma de dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo. Acho que o preservativo deve ser utilizado porque se trata de salvar vidas frente a uma epidemia que não tem cura. E a vida é o dom maior de Deus. Fico com a posição dele.

O senhor acha que com esta posição contrária ao uso do preservativo a Igreja pode estar pondo vidas em risco?

FREI BETTO: Eu não quero culpar a Igreja. Quero dizer que o não uso do preservativo aumenta a disseminação da Aids e isso implica a morte de muitas pessoas.

O senhor considera a fidelidade e a abstinência sexual condizentes com a atual realidade? Estamos vendo muitas mulheres fiéis contraindo o vírus de seus maridos.

FREI BETTO: Acho que não são condizentes. A fidelidade é um princípio fundamental em qualquer relação humana, mas querer que as pessoas se abstenham da vida sexual já e exigir delas uma atitude heróica. Os casais têm o direito de manifestar também na relação sexual seu amor. Mas, para isso, se recomenda, mesmo entre casados, o uso do preservativo, porque os casos de mulheres contaminadas têm aumentado.


Estudo revela drama de católicas com Aids - 15/12/03 - O GLOBO

A crença nos valores pregados oficialmente pelo Vaticano para a prevenção da Aids faz com que mulheres católicas adotem comportamentos que as tornam mais vulneráveis à doença. O alerta partiu da teóloga Yury Puello Orozco, da ONG Católicas Pelo Direito de Decidir, que se aprofundou no tema no estudo “Mulheres, Aids e Religião”.

Para a Igreja Católica, as únicas formas aceitáveis de prevenção à Aids são a abstinência sexual ou, no caso de pessoas casadas, a total fidelidade conjugal. O uso da camisinha, recomendado pelas maiores autoridades de saúde mundiais, não é admitido pelo discurso oficial. A Igreja, inclusive, vem questionando sua eficácia.

— A conclusão do meu estudo é que, ao acreditarem nesses valores propostos pelo catolicismo, as mulheres se sentem protegidas e não adotam atitudes de prevenção — afirma Yury. — O cumprimento fiel desses valores e instituições está levando mulheres católicas a se contaminarem.