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DIMINUINDO O NÚMERO DE COMPRIMIDOS

15/12/2003 - Diário de Pernambuco

Coquetel para vírus HIV em uma só cápsula

Laboratório da Fiocruz concluiu estudo que poderá livrar portadores, que tomam em média vinte drágeas

SÃO PAULO - O laboratório Far-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculado ao Ministério da Saúde, já está com os estudos concluídos e a estrutura pronta para colocar em uma única cápsula - ou em poucas - os muitos medicamentos que os portadores do HIV/Aids são obrigados a tomar todos os dias.

O governo federal planeja fazer a unificação com os medicamentos que já não estão sob a proteção da lei de patentes e que são a maioria do coquetel de mais de 15 drogas do consenso nacional. A esperança é que os laboratórios multinacionais, donos de medicamentos protegidos por patentes, concordem em misturar também suas fórmulas com a de remédios de outros laboratórios. "A Índia, que ainda não tem lei de patentes, já está fazendo isso com todas as drogas antiretrovirais", relata Alexandre Grangeiro, coordenador do Programa Nacional de DST/Aids.

Diminuir o número de remédios tomados por dia, aumentando e facilitando a adesão das pessoas infectadas ao tratamento, é um dos grandes desafios para todos os países. Mas, para as nações pobres, onde os remédios ainda nem chegaram, esse programa ainda é apenas uma intenção. Na Organização Mundial da Saúde (OMS), a proposta faz parte do projeto batizado de 3 em 5, um código para indicar a meta de que, em cinco anos, três milhões de pacientes de Aids residentes em países pobres ou em desenvolvimento estejam recebendo a adequada medicação. É pouco, mas significativo. Até agora, apenas 300 mil doentes ou portadores esses países recebem os remédios dos serviços públicos de saúde, e quase metade deles - 140 mil - estão no Brasil.

Entre as várias estratégias para ampliar e garantir a continuidade do tratamento dos paciente de HIV/Aids, uma das mais desafiadoras é assegurar a adesão a um processo que, hoje, exige a ingestão de dez a vinte comprimidos por dia, medicamentos que são tomados em horas controladas e estão sujeitos ao ritmo das refeições.

O primeiro esforço, já bastante adiantado, é para a elaboração de uma cartela única com todos os medicamentos a serem tomados no dia. "É a dose fixa, que facilita o uso em populações de países sem infra-estrutura e de pouco acesso ao sistema de saúde, como os africanos", diz Grangeiro.

No Brasil, a combinação de drogas para pacientes em início de tratamento - a chamada primeira escolha - só não conta com a autorização do fabricante do efavirenz (um dos remédios do coquetel) para começar a produzir um comprimido único. Para os pacientes que estão na segunda fase do tratamento, e que tomam também os inibidores de protease, ainda não há, entretanto, nem sinal de que os laboratórios venham a concordar com uma mistura das drogas.