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BRASIL AUSENTE DE CONGRESSO DE AIDS
05/12/2003 - FOLHA ON LINE
Congresso Mundial de Aids no Uruguai
O governo brasileiro decidiu não enviar delegados ao Congresso Mundial sobre Aids que está sendo realizado em Punta del Este (140 km a leste de Montevidéu, capital do Uruguai) e não há qualquer explicação oficial para tal decisão, disse hoje a diretora do evento, a médica uruguaia Hilda Abreu.
"Pedi uma entrevista ao ministro brasileiro da Saúde [Humberto Costa] para saber os motivos desta ausência, mas ele não me recebeu", destacou Hilda Abreu, que diante do silêncio do governo brasileiro, soube da decisão pela internet.
"Há alguns meses fui a Brasília negociar o apoio brasileiro. Confirmaram a presença de centenas de técnicos e, inclusive, prometeram apoio financeiro". Esta atitude do Brasil "gera uma profunda dor".
Segundo Hilda Abreu, a decisão pode ter sido provocada pelo fato de o Brasil, pioneiro no combate à Aids, não ter sido escolhido para sede do primeiro evento desse tipo na América Latina.
Outro lado
A assessoria do Programa Nacional de DST/Aids, subordinado ao Ministério da Saúde, declarou que a decisão brasileira de não enviar representantes já era conhecida pela direção do evento desde agosto. Em nota, afirma que "a doutora Hilda Abreu não pode dizer que não conhecia a posição brasileira".
Apesar de não enviar técnicos, o ministro da Saúde, Humberto Costa, esteve ontem na capital uruguaia.
data - 05/12/2003
fonte - O TEMPO - MG
Em 2001, o ex-ministro da Saúde José Serra era apontado como o melhor entre seus colegas de ministério dos cinco continentes. Numa hipotética seleção mundial de ministros escalada pela ONU entraria como titular de sua pasta.
Serra chegava a recolher o reconhecimento de um trabalho que incluía um bem-sucedido plano para produção de medicamentos genéricos, outro de combate ao tabagismo obrigando a estampar-se nos maços de cigarros fotos e avisos sobre seus males e, em especial, pelos planos de assistência aos portadores de Aids com a distribuição gratuita de remédios.
O Brasil passou a ser referência mundial e continua como tal. Bem por isso não se explica a ausência da delegação brasileira no Congresso Mundial sobre Aids que se realiza nesta semana em Punta del Este, no Uruguai. Nem que fosse para transmitir aos demais países as experiências brasileiras, deveria estar presente. Presente, também, por se tratar de evento em país vizinho e amigo, e de um assunto relevante acima de ideologias e interesses localizados.
Combater a Aids é uma prioridade da humanidade, um dever universal e globalizado que ultrapassa fronteiras sem pegar visto de entrada. Nesta cruzada quem tem mais para ensinar, ou para dar, tem sempre algo para aprender e precisa fazê-lo sem economizar boa vontade.
Contudo, o ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE), normalmente pródigo em viagens, tratou de cancelar a ida da delegação brasileira e dele mesmo ao vizinho Uruguai, país-membro do Mercosul e nosso parceiro preferencial. A cadeira do Brasil, em Punta del Este, está surpreendentemente vazia sem que fosse fornecida uma explicação à diretora do evento, a médica uruguaia Hilda Abreu, que lamenta: "Há alguns meses fui a Brasília ... confirmaram a presença de centenas de técnicos e prometeram apoio financeiro."
Mas, em seguida, a médica não conseguiu mais contato com o ministro que se negou a atendê-la. Pesaria, nessa atitude deseducada e soberba, segundo Hilda Abreu, a tentativa (frustrada) de transferir para o Brasil, pioneiro no tratamento da Aids, a sede (ou o espetáculo) do primeiro evento desse tipo na América Latina.
Seja como for, algo de estranho e inconfessável aconteceu nesse episódio deixando dúvidas. A principal delas é que o Ministério da Saúde no governo Lula seja contaminado pela vaidade e pequenez, dois defeitos incompatíveis como a vastidão e importância social das quais se reveste. Ainda fica o vexame a que o Brasil se submete não participando de uma tarefa sem fronteiras.
Aids é um caso sério, muito mais sério que os cacoetes de um ministro à procura de promoção política e pessoal.