Notícias

EFEITOS COLATERAIS

01/11/2016 - GIV

Dolutegravir


Médicos dos Países Baixos observam taxa de descontinuação do tratamento com dolutegravir superior à esperada

Pesquisadores do relatório neerlandês na edição online da revista AIDS informam que quase uma em cada sete pessoas em uma população clínica holandesa parou o tratamento com o dolutegravir - inibidor da integrase do HIV - por causa de efeitos colaterais. Aproximadamente 14% dos pacientes cessaram o tratamento com o fármaco por causa de problemas de tolerabilidade, taxa muito mais elevada do que a observada em ensaios clínicos. O dolutegravir teve uma chance duas vezes maior de interrupção se tomado em combinação com abacavir, mas os efeitos colaterais que levaram a uma mudança de tratamento não estiveram associados com abacavir.

"Em um contexto clínico da " vida real " o uso de DGV [dolutegravir] em TAR (terapia antirretroviral), descobrimos que em geral o DGV foi muito bem tolerado pela maioria dos pacientes, mas foi suspenso numa taxa muito maior do que a registrada nos ensaios clínicos randomizados controlados ", comentam os autores.

O dolutegravir é atualmente recomendado para a terapia de HIV de primeira linha. O medicamento está disponível em um comprimido em combinação com abacavir e lamivudina (Triumeq) e como um medicamento de comprimido único 50mg (Tivicay). Dolutegravir está aprovado para o tratamento de pessoas com HIV que nunca tomaram tratamento antes (sem experiência em antirretroviral) e também para aqueles que tomaram outro tratamento antes (experientes em tratamento).

Em ensaios clínicos, o dolutegravir teve um efeito anti-HIV potente e mostrou ser seguro e tolerável, com uma taxa de interrupção de 48 semanas de não mais do que 2 a 3%. No entanto, os médicos na Holanda observaram que seus pacientes interrompiam a terapia com o medicamento a taxa significativamente maior do que a observada em ensaios clínicos. Eles, portanto, realizaram um estudo para determinar a frequência, tempo e as razões para a interrupção da terapia contendo dolutegravir.

A população do estudo foi composta por 556 pessoas em Leiden e Amsterdã, que iniciaram dolutegravir entre 2014 e 2016. A idade média foi de 48 anos e 66% eram homens que fazem sexo com homens (HSH). Cerca de um quinto dos pacientes não tinham tratamento antirretroviral prévio. A combinação numa única pílula Triumeq foi prescrita para 57% dos pacientes e, ao todo, 64% estavam tomando dolutegravir em combinação com abacavir.

Um total de 85 pessoas (15%) deixaram de tomar o esquema com dolutegravir. Para 76 dos pacientes (14%) a razão foram os efeitos colaterais. Os pacientes suspenderam a terapia numa mediana de 73 dias após o início; 95% parou dentro de um ano de começar seu esquema com dolutegravir.

As razões mais comuns para suspender o dolutegravir foram distúrbios de insônia e sono (6%), queixas gastrointestinais (4%) e sintomas neuropsiquiátricos, tais como ansiedade, depressão e psicose (4%). Em quase todos os casos, estes efeitos colaterais foram resolvidos depois da descontinuação da terapia com o esquema contendo dolutegravir. Não foram relatados casos de falha viral.

Os pacientes foram aproximadamente duas vezes mais propensos a parar o seu tratamento se eles estavam tomando dolutegavir em combinação com abacavir (RRA = 1,92% (Risco Relarivo Ajustado); IC 95%, 1,09-3,38; p = 0,01).
"Consideramos que pode haver uma interação entre os fârmacos, levando a uma maior interrupção do tratamento", escrevem os autores, acrescentando que ambos os medicamentos são metabolizados através de uma via hepática similar. Eles observam, "a aparente interação entre DGV e abacavir mediada por esta via de degradação comum não foi estudada."

Em contraste, tomar dolutegravir em combinação com um inibidor de protease potenciado esteve associado com um risco menor de interrupção do tratamento (RRA = 0,20; IC de 95%, 0,05-0,86; p = 0,03).

Os autores indicam a necessidade de maiores estudos para determinar a taxa de interrupção do tratamento dolutegravir devida a efeitos colaterais.

Michael Carter, aidsmap
Publicação: 13 de outubro de 2016
Traduzido e adaptado por J. Beloqui (GIV, ABIA, RNP+)