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MEDICAMENTO COMBATE O HIV

20/11/2003 -

Anvisa deve aprovar injeção contra a Aids

Até dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária libera o primeiro medicamento que impede a entrada do HIV nas células

São Paulo — A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve aprovar em dezembro o primeiro medicamento injetável contra Aids. A droga, que será comercializada com o nome de Fuzion, é vista como um dos remédios mais eficientes no combate à ação do vírus HIV.

Testes preliminares do Fuzion foram feitos em 40 pacientes do hospital público de Heliópolis, em São Paulo, e de uma unidade da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Os resultados satisfizeram os técnicos da Anvisa. No entanto, o órgão do governo federal resolveu pedir um parecer de especialistas de universidades antes de liberar a venda.

O parecer final deve sair em 30 dias. De acordo com o infectologista Artur Timernan, que participou dos estudos do medicamento no Brasil, a grande vantagem do novo remédio é que ele combate o HIV antes de o vírus entrar na célula. Todos os medicamentos que compõem o coquetel antiretroviral brasileiro combatem a ação do vírus dentro da célula. "O único incômodo é que a droga é injetável e o paciente deve aplicá-la duas vezes ao dia", explica Timernan.

Além do incômodo, a droga é caríssima — cada ampola deverá custar pelo menos R$ 3 mil. Médicos do Ministério da Saúde acompanharam todos os testes para avaliar se ela será comprada pelo governo para ser distribuído aos pacientes junto com os outros 15 medicamentos que compõem o coquetel anti-Aids.

Apesar de eficiente, há uma corrente de especialistas do Ministério da Saúde defendendo que o Fuzion não deveria ser comercializado no Brasil justamente por ser uma droga injetável. Os especialistas temem o destino que as seringas contaminadas com HIV terão depois de usadas.

O medo do foco de contaminação vem de um cálculo que chega a ser assombroso. Se distribuído no Brasil, o Fuzion seria aplicado pelo próprio paciente duas vezes ao dia em até 150 mil pessoas. Ou seja, seriam 30,1 mil seringas por dia e 9 milhões por mês. Todas contaminadas com o HIV.

Nos Estados Unidos e na Comunidade Européia, o Fuzion, fabricado pela Roche, vem sendo apontado pela comunidade científica como uma revolução no tratamento da Aids. O coordenador do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, Alexandre Grangeiro, não se mostrou simpático à idéia de o governo brasileiro distribuir a nova droga a seus pacientes. Ele ressaltou que a droga está sob testes porque apresentou reação ao ser aplicada em pacientes. "Pelo o que eu vi, esse novo medicamento não tem nada de revolucionário", disse. Desde 1980, já foram registrados 257.780 casos da doença no Brasil e cerca de 107 mil faleceram.

O repórter viajou a São Paulo a convite da Roche

TRATAMENTO FINANCIADO

O laboratório Roche, um dos maiores do Brasil, quer criar junto a bancos privados uma linha de financiamento para tratamento de saúde. O primeiro teste vem sendo feito com a Hepatite C, uma das doenças que mais cresce em número de casos nos países subdesenvolvidos e tem tratamento caro. No Brasil, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), há 2 milhões de pessoas com Hepatite C, que é uma variação grave da doença. Isso correspondente a cinco vezes mais o número de pessoas infectadas pelo vírus da Aids. A idéia de financiar tratamento de saúde nasceu dentro da Roche depois que o próprio laboratório descobriu que seus medicamentos são caros.