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CIRCUNCISÃO EM SÃO FRANCISCO-EUA
25/05/2011 - Boston Globe
Lei pode proibir circuncisão de meninos em San Francisco
Uma proposta estará em votação em San Francisco no segundo semestre, tornando crime a circuncisão de crianças do sexo masculino. Se a medida for aprovada, qualquer pessoa condenada por circuncidar um bebê poderia ser multada em US$ 1 mil e sentenciada a um ano de prisão. Até mesmo para San Francisco isso é loucura.
Segundo a Agência para Pesquisa e Qualidade do Atendimento de Saúde federal, os hospitais americanos realizam o procedimento mais de 1,2 milhão de vezes a cada ano. Apesar da queda no número de circuncisões nos últimos anos, a grande maioria dos homens americanos é circuncidada. E em quase todos os casos, a decisão foi tomada por eles por seus pais ainda na infância assim como a decisão de amamentar no peito ou com mamadeira, ou a decisão de usar fralda de pano ou descartável. Mesmo na cidade grande com menor número de crianças nos Estados Unidos, é difícil ver os eleitores aprovando o que seria uma clara violação dos direitos dos pais.
Os benefícios de saúde da circuncisão são claros, apesar de modestos. O site da Clínica Mayo reflete o consenso médico, notando que homens e meninos circuncidados apresentam menor risco de infecções no trato urinário, câncer no pênis e doenças sexualmente transmissíveis, e que a circuncisão facilita a higiene genital. Ao mesmo tempo, a Mayo endossa a posição da Academia Americana de Pediatria, que não considera as vantagens da circuncisão atraentes o suficiente para recomendar que bebês do sexo masculino sejam circuncidados de modo rotineiro. A posição da academia é de bom senso: Como a circuncisão não é essencial para a saúde da criança, cabe aos pais decidirem o que é melhor para seu filho, analisando os riscos e benefícios.
Resumindo, a circuncisão é algo a respeito da qual pessoas razoáveis podem discordar. Mas não há nada razoável a respeito de fanáticos tentarem transformá-la em crime.
A campanha de plebiscito em San Francisco está sendo promovida por um grupo de autoproclamados intactivistas, cruzados políticos obcecados pela preservação dos prepúcios. A mania deles seria risível se não fosse por duas coisas: (1) eles se apropriam de terminologia usada para descrever um tipo terrível de violência cometida contra meninas e mulheres, e (2) eles estão tentando criminalizar um ritual fundamental do judaísmo.
Os promotores da iniciativa de San Francisco a chamam de projeto de lei MGM. As iniciais significam mutilação genital masculina, uma frase desonesta, que visa associar o procedimento seguro e medicamente não questionável da circuncisão masculina com a temível crueldade da mutilação genital feminina.
As duas não são nem remotamente comparáveis. A mutilação genital feminina não apresenta nenhum benefício médico conhecido, destacou a Organização Mundial de Saúde e nove outras organizações internacionais em um relatório de 2008 sobre o flagelo, que persiste em grande parte da África e do Oriente Médio. Pelo contrário, ela é conhecida como prejudicial às meninas e mulheres de muitas formas. Ela é dolorosa e traumática; ela torna a gestação significativamente mais arriscada; e leva a índices maiores de hemorragia pós-parto e morte de recém-nascidos.
Em comparação, o relatório da OMS enfatiza que a circuncisão masculina apresenta benefícios de saúde significativos, que superam em muito os riscos muito baixos de complicações. De importância particular nas regiões desoladas pela Aids, a circuncisão tem mostrado que reduz o risco do homem contrair o HIV em aproximadamente 60%. Precisamente pela circuncisão ser benigna, a OMS e outras agências não medem esforços para distingui-la da mutilação feminina, que é sempre perigosa.
Perigosa também de outro modo é o ataque da iniciativa de San Francisco à liberdade religiosa judaica. A circuncisão é a prática mais antiga da religião mais velha do mundo. Independente de qualquer valor médico, ela é um sinal na carne que por quase 4 mil anos marca os homens judeus como herdeiros do antigo pacto entre Abraão e Deus. Muitos muçulmanos também realizam a circuncisão em seus filhos por motivos religiosos.
Mas a lei proposta pelos intactivistas emana hostilidade em relação à crença religiosa tradicional: Não serão levadas em consideração quaisquer crenças da pessoa de que a operação deva ser realizada, nem as de qualquer outra pessoa de que a operação seja necessária por uma questão de costume ou ritual.
A campanha pela proibição da obrigação mais antiga na experiência judaica representa o que o Comitê Judeu Americano chama de ataque direto contra a prática religiosa judaica nos Estados Unidos (...) sem precedente na vida judaica americana.
Felizmente, mesmo na Califórnia a maioria das propostas colocada em votação é rejeitada. Quando San Francisco votar no final do ano, a lamentável iniciativa anticircuncisão merece sofrer uma derrota decisiva.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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