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FALTA DE CAMPANHA DE PREVENÇÃO

20/11/2003 - BBC News

ONU: Aids volta a crescer entre os gays por falta de campanha

Um levantamento recente realizado pelo Unaids (órgão das Nações Unidas para o combate à Aids) mostra que a maior parte dos países da América Latina destinam menos de 1% de seus recursos para campanhas de prevenção à Aids entre a população homossexual masculina.

Segundo Luiz Antonio Loures, diretor para Europa e Américas do Unaids, essa quantia é desproporcional ao número de gays infectados neses países.

"Acho que a situação entre os gays na América Latina é emergencial. As campanhas precisam incluir mais a população gay. Caso contrário, os casos aumentarão ainda mais. Em alguns países da América Latina, especialmente da América Central, por exemplo, 20% dos homossexuais já estão infectados pelo HIV", diz Loures.

O diretor do Unaids culpa a falta de investimentos em campanhas para homossexuais de ser a uma das responsáveis por essa nova explosão da Aids entre os gays.

A falta de investimentos estaria fazendo que até os dados de contaminação entre os gays ficassem ultrapassados.

Infecções voltam nos EUA

No continente americano, cerca de 70% das mortes por Aids ocorreram entre gays. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, os homossexuais masculinos têm até 30 vezes mais riscos de contrair o HIV.

O mesmo CDC divulgou recentemente uma pesquisa que mostrou a gravidade da situação dos homossexuais. Hoje, 4,4% dos gays e bissexuais entre 23 e 29 anos nos Estados Unidos são infectados anualmente. Entre os negros, o índice chega a quase 15%.

"Os números mostram que, no caso dos gays, estamos mais próximos a índices da década de 80, quando a Aids surgiu, do que dos números da década de 90, quando a terapia e as campanhas de prevenção proporcionaram um maior controle da Aids", explica Linda Valleroy, coordenadora da pesquisa.

O estudo analisou três mil homossexuais e bissexuais que passaram por testes de HIV anonimamente entre 1998 e 2000 em seis das principais cidades americanas (Baltimore, Dallas, Los Angeles, Miami, Nova York e Seattle).

Além da ausência de campanhas de prevenção, o CDC atribui o crescimento da Aids ao fato de os gays jovens terem se tornado sexualmente ativos em um momento em que a doença estava ligeiramente sob controle nos Estados Unidos.

"Com a terapia antiretroviral, um soropositivo tem uma vida completamente normal e uma aparência também. Mas continua espalhando a Aids", diz Phil Wilson, da Universidade da Califórnia.

Para ele, também não há mensagens suficientemente claras de que a Aids é uma doença tão séria, o que acaba levando muitas pessoas a não se preocuparem com ela, já que há um tratamento. "Muita gente não tem noção de que o preço que se paga é alto demais", avalia.

Para Luiz Loures, é fundamental a existência de campanhas específicas para homossexuais.

"A mensagem pode ser a mesma: faça sexo seguro. Mas os gays precisam ter mais grupos nos quais eles possam discutir o problema de forma mais clara", diz Loures.

Brasil não estaria incluído no grupo

No Brasil, 20% dos casos de HIV hoje estão entre os homossexuais masculinos. Mas Alexangre Grangeiro, diretor do Programa Nacional de DST e Aids, afirma que o levantamento do Unaids precisa ser analisado com cautela e que o Brasil não estaria incluído neste grupo de países que negligencia os homossexuais em suas campanhas.

"Os países avaliados pelo Unaids podem ter uma tradição homofóbica e não realizarem campanhas para homossexuais. No Brasil, não há mais tanto preconceito e nossas campanhas são abrangentes: distribuímos camisinhas, medicamentos, realizamos testagem de HIV e campanhas de prevenção que atingem toda a população, sem separar quem é gay de quem não é", explica o diretor.

Grangeiro lembra ainda que o Brasil é o único país da América Latina que já realizou campanhas de prevenção à Aids exclusivamente voltadas para homossexuais, embora reconheça que elas ocorrem em menor escala que as realizadas para a população em geral.

"Mesmo assim, todas as campanhas incluem os gays", diz. Por isso, segundo ele, não seria possível contabilizar separadamente os recursos que são destinados a cada público, o que é usado como base para a afirmação da Unaids