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O CONTROLE DO HIV NA ÁFRICA DO SUL

19/02/2011 - LE MONDE/UOL

África do Sul quer realizar testes de HIV a partir dos 12 anos

África do Sul quer realizar testes de HIV a partir dos 12 anos de idade
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Ela ainda tem arrepios, de “tão apavorada” que ficava com a ideia de fazer o exame de Aids. Foi em 2010. Nombuso Dlamini, uma adolescente de 16 anos de olhar vivo e cabelos trançados, tinha relações sexuais regularmente com seu namorado, mas sem proteção. “Deu negativo, foi um alívio imenso”. Desde então, seu parceiro usa preservativos.

Nesse dia quente de fevereiro, em uma escola situada a mais de 200 quilômetros ao norte de Durban, capital da região costeira e rural de KwaZulu-Natal, na África do Sul, Nombuso e seus colegas de classe, de uniforme preto e azul-marinho, se preparam novamente para subir, um a um, nas vans transformadas em salas de exame.

O colégio Nkosana faz parte dos doze estabelecimentos selecionados pela organização não-governamental (ONG) Mpilonhle (“uma bela vida”, em língua zulu) para conduzir uma campanha de conscientização e de testes do HIV na província mais atingida do país. Desde 2007, 10 mil alunos já participaram. O dobro, se contarmos as operações ocasionais em outras escolas vizinhas.

Administrada por um casal belga-americano, essa ONG tomou a iniciativa de um programa nacional que será implantado nas próximas semanas pelo governo sul-africano. Serão atendidos todos os estudantes com mais de 11 anos, ou seja, quase 6 milhões de adolescentes. Nessa escala, a operação, que depende de voluntários, é algo inédito no mundo.

Quase 3% dos menores de 19 anos são afetados pelo vírus HIV, segundo relatório publicado em 2010 pelo Conselho de Pesquisas em Ciências Humanas (HSRC) sul-africano. A precocidade das relações sexuais, às vezes desprotegidas, explica esse elevado índice. Mais de 40% dos adolescentes com idade entre 15 e 17 anos seriam sexualmente ativos. “Há meninas que também são vítimas de homens mais velhos e ricos, que as atraem com presentes para dormir com elas. E eles não utilizam preservativos”, conta Duduzile Kunene, uma educadora de Mpilonhle.

“Choque terrível”

Fazer o teste desde cedo é permitir um acesso mais rápido ao tratamento, em caso de contaminação. É também desestigmatizar a doença em caso de resultado negativo, e favorecer a prevenção.

Previsto desde fevereiro, o lançamento desse programa teve de ser adiado em razão do debate que suscitou. “O governo se concentrou no número de pessoas testadas a ser atingido, sem se preocupar em se assegurar de que os direitos da criança seriam garantidos”, acredita Joanne Van Niekerk, diretora da ONG Childline. As autoridades, que ainda estão trabalhando nas modalidades da campanha, garantiram que optarão por “uma abordagem refletida e prudente”.

O governo estaria prevendo a obrigação de consentimento por parte dos pais. Se o governo introduzir essa restrição, será um grande obstáculo para a detecção, acredita Michael Bennish, diretor da ONG Mpilonhle: “Será difícil obter respostas, pois há muitos órfãos. Além disso, haverá pais que recusarão por terem medo, por exemplo, de serem denunciados, caso haja violência sexual no círculo familiar.” No entanto, uma modificação da lei sul-africana que data de 2008 permite que se faça o teste a partir dos 12 anos sem a permissão dos pais.

78% dos alunos dos doze colégios visados pela Mpilonhle concordam em fazer a coleta de sangue. A ONG tomou o cuidado de obter o consentimento prévio dos conselhos de administração de cada uma das escolas, que são compostos por pais em sua maioria.

Segundo ponto de debate: a confidencialidade. Em uma sociedade onde a estigmatização associada a essa doença continua forte, como fazer para que o aluno que tem o resultado positivo não seja discriminado por seus colegas? Com a Mpilonhle, as entrevistas individuais de uma hora dão o tempo para realizar o teste e obter o resultado (cerca de 15 minutos) antes do final da conversa. Nem o diretor da escola, nem os professores têm acesso aos dados individuais, protegidos em arquivos digitais.

Em 2010, 3,8% dos alunos do último ano do ensino médio que foram testados descobriram que têm o vírus. “É um choque terrível para um garoto”, conta Sinethemba Mofu, uma assistente social da Mpilonhle. “A primeira reação com frequência é a negação, depois eles pensam que vão morrer, nós lhes dizemos que não, e os acompanhamos até a clínica, e, às vezes, até a casa de seus pais”.

Esse acompanhamento feito por pessoas qualificadas tem um custo. A ONG, que dispõe de cerca de cem funcionários, gasta a cada ano US$ 1 milhão (cerca de R$ 1,66 milhão), do qual 80% é financiado pelo fundo americano Pepfar e pela atriz sul-africana Charlize Theron. Os observadores duvidam que o governo sul-africano possa destinar o mesmo tanto de verba.

Além disso, os alunos de uma mesma escola poderiam ser testados todos no mesmo dia. A ONG estende sua ação para integrar a ela sessões coletivas de informação. “Eu fiz o teste, depois obriguei minha mãe a fazer também”, explica uma adolescente. Para outros, o caminho será mais longo. “Antes, eu não sabia o que era a Aids, e não me protegia”, conta um aluno. “E ainda não o faço, pois sou um homem, de verdade, isso não pode acontecer comigo”.

Tradução: Lana Lim
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