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O CÃREBRO, O HIV E OS MEDICAMENTOS

18/11/2003 - BBC News

Remédio contra a Aids permite danos ao cérebro, diz pesquisa

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos indica que o cérebro das pessoas infectadas com o HIV pode ser vulnerável aos efeitos do vírus mesmo que elas estejam tomando o coquetel de medicamentos para evitar o desenvolvimento da Aids.
Em um artigo na publicação científica NeuroReport, os autores do estudo disseram ter descoberto sinais de danos nos cérebros de pacientes que estavam tomando as drogas.
O estudo não concluiu se o estrago ocorreu antes ou depois que o tratamento começou.
Contudo, alguns especialistas insistem que não há provas significativas de que pacientes submetidos a um tratamento de longo prazo para manter os efeitos do HIV sob controle possam estar desenvolvendo males no cérebro ligados à presença do vírus.

Barreira
Muitas drogas anti-retrovirais, projetadas para manter baixo os níveis de vírus HIV no organismo, não atuam no cérebro, porque não conseguem atravessar uma barreira natural.
Trata-se de uma espécie de filtro, que tem a função de proteger o órgão de moléculas grandes e potencialmente tóxicas.
Isso significa que, teoricamente, seria mais fácil encontrar uma maior concentração de vírus HIV no cérebro dos pacientes, mesmo quando a concentração do vírus em outras partes do corpo do paciente foi reduzida a níveis quase indetectáveis.
Sabe-se que os vírus causam danos neurológicos em alguns pacientes, levando ao desenvolvimento de sintomas como falta de concentração, mudanças repentinas de humor, lentidão e demência.
Com o início da terapia com o coquetel de drogas, entretanto, o número de pacientes com tais sintomas costuma cair dramaticamente.

Variações
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco testaram um pequeno número de pacientes com o vírus HIV e compararam os resultados do estudo com testes semelhantes realizados com pessoas que não têm o vírus.
Alguns dos pacientes infectados com o HIV estavam sendo submetidos à terapia com drogas antiretrovirais, e outros, não.

Guia interativo: A biologia do HIV
Os estudiosos descobriram que, em um determinado teste de ondas cerebrais, houve grandes variações no tocante à capacidade que os objetos do estudo teriam de antecipar e preparar ações e de reagir fisicamente a um estímulo.
No caso dos pacientes com o HIV, tanto os que estavam tomando as drogas quanto os que não estavam sendo submetidos ao tratamento mostraram resultados igualmente abaixo do normal.

Polêmica
Os resultados sugerem, mas não provam, que essas pessoas apresentam problemas em partes do cérebro chamadas de gânglios basais.
Um outro tipo de teste, realizado para medir o tamanho de diferentes áreas cerebrais, indicaria que os pacientes com HIV teriam problemas em outra parte do órgão, o tálamo.
A doutora Linda Chao, que conduziu o estudo, disse que os seus resultados são "potencialmente preocupantes".
“Você vê pessoas que se submetem à terapia anti-retroviral e elas parecem estar bem”, disse.
“Mas a mensagem dessa pesquisa é que os medicamentos anti-retrovirais podem não estar freando os danos ao cérebro. Quando analisamos o cérebro dos pacientes, vimos que eles foram afetados.”
Os resultados do estudo foram criticados pelo doutor Keith Alcorn, da ONG britânica National AidsMap. Segundo ele, “não há indícios produzidos por nenhum grande estudo de que pessoas com HIV desenvolvem problemas cerebrais em grande escala depois de iniciar tratamento”.
“Nós saberíamos se isso estivesse acontecendo. Essas drogas vêm sendo usadas já há algum tempo.”